Nothing

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Parece fácil seguir a cartilha que te dão desde o momento em que você nasce para segui-la até sua eventual morte. Muitas vezes durante os dias eu me sinto como uma rebelde de um futuro distópico onde todos são obrigados a ser sociais e ter milhares de amigos e dezenas de namorados. Como pode? Todo mundo é educado desde criança para entender que não ter nada é uma coisa terrível e abominável e que seremos infelizes para todo o sempre se permanecermos em tal estado. Por isso aprendi a sempre questionar o que os outros dizem, por maior verdade universal que uma coisa pareça ser. Não ter nada é libertador. Quando não se tem nada, você pode fazer o que você quiser. Você pode sair no meio da noite sem dar satisfação e só voltar três dias depois, pode ir a qualquer lugar e fingir ser outra pessoa. Não se tem nada a perder.
Minha teoria é que não ter nada é algo que acompanha determinadas pessoas pelo resto da vida, não importando a quantidade enorme de coisas que elas pareçam ter. Eu não tenho nada, e afasto-me cada vez mais daquilo que pareço ter. Quero repelir, quero que vão ser tudo o que nunca poderei ser ou participar longe de minha vista, queria poder ter sido parte da amizade que me sinto cada vez mais distante. Meu Complexo de Deus me isola às vezes, como se eu mesma soubesse que no fim de tudo, somos sozinhos. Não por não termos companhia, mas por evolução pessoal. Nunca estaremos no mesmo pé. Eu sou Hila, você outra pessoa.
Eu não tenho paciência pra muita coisa. Sei que ninguém nem ao menos vai lembrar de mim daqui há quarenta anos. Mas enquanto posso faço algo não pra ser lembrada mas para marcar, os momentos e acontecimentos marcam, não a pessoa em si. Querer mudar o mundo é cansativo, querer que as pessoas explorem um pouco mais de si é frustrante, enfim... quando não se tem nada, só te resta imaginar como seria ter tudo.

Quimeras AbortadasOnde histórias criam vida. Descubra agora