Ilhas

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Encontrei pedras preciosas perdidas em corpos ilhados, não as garimpei, fiz de cada ilha um lugar povoado, ou ao menos tentei. Embora eu ame lugares afastados, isolados, solitários (semelhança com meu eu, meras coincidências) eu nunca pensei em mim quando dei de cara com o brilho singular de cada pedra preciosa presente nas pessoas que por aí descobri, incessantemente me recordava a mente de não pensar em mim, larguei meu ego, afinal estou falando de preciosidades e pra lidar com algo valoroso, devemos ter olhos atentos, mãos delicadas mas o coração? Ah, esse tem de ser limpo, tem de estar limpo. Aos poucos, aprendemos que nem todos conseguem enxergar com os olhos da alma, ou estão vendados pelo mal que infelizmente habita cada corpo, em porcentagens grandes ou pequenas, o que impossibilita completamente de avistar o bem dentro de cada pessoa, bem e mal nunca se misturaram e não seria agora que isso passaria a acontecer, há coisas que não adianta o quanto queiramos ou façamos em prol, não foram feitas pra misturarem, o que é o caso, para um bem.. hei de livrar-me do mal. Ao deparar-me com um bem raro, com cuidado tentei cuidar, pra que aquele corpo não mais ilhado fosse, que quisesse ser tomado, habitado, ocupado. Sempre soube que cedo ou tarde, saímos das ilhas que descobrimos, porque em ilhas posso descansar, jamais viver, sempre partiremos, por maior valor que ali se encontre, então a minha parte, o que eu acreditei ser parte da minha jornada em cada vida, foi fazer daquele belo lugar, um lugar que pudesse ser desfrutado e que se eu fosse embora cedo ou tarde, hoje ou amanhã, alguém saberia andar naquela ilha sem se perder, sem mapear. Algumas pessoas eu confesso não ter conseguido zelar, por falta de empenho meu e ou da outra parte, mas quem se deixou e se soltou em minhas mãos, foi ligeiramente mudado por meus singelos toques. Disposição, precisa haver, em tudo quanto for. Disposição minha de afundar-me em mares e dos mares a abrir suas ondas pra que eu pudesse mergulhar sem me afogar. Infelizmente eu não sou tão altruísta a ponto de cuidar de algo, sem desfrutar daquilo, portanto, fiz primeiramente por mim, porque eu inicialmente queria ficar em cada pedacinho de ilha que descobri, e por querer ficar talvez eu tenha feito com ligeira dedicação, acredito que quando algo é pra nós e por nós, colocamos mais do que temos de melhor, afinal... nosso reino, coisas boas nunca são demais, pode soar egoísta, e se quiser entender como tal, sinta-se a vontade, pecados eu tenho aos montes, e embora eu tente me lavar e me livrar, isso não quer dizer que tentativas são de fato bem concluídas. Depois de cumprir o que eu acreditava ser minha parte, num dia qualquer, de verão ou de tempestade, nadando ou em barquinho de papel, eu partia, eu parto, eu parti. Não vou lhe dizer que sorri, despedidas não me caem bem, meu bem, contudo assim como bem e mal não se misturam, a vida tem fases e dessas não se foge, começo, meio e fim, quando o fim chega é hora de saber reconhecer a hora de abandonar, despedir, partir. As horas chegam e cabe a nós, que praticamente invadimos aquele corpo, que é hora de deixar-se povoar, missão cumprida. Deixei cada espaço sem olhar pra trás, vez em quando subo em montes pra com amor olhar pra uma ou varias ilhas, ganho visão privilegiada de cada uma, e admiro com um pedaço de cada preciosidade que trouxe comigo, observando belezas, pessoas que lá moram e turistas, aqueles que sempre se vão. Cada pessoa é como uma ilha deserta, não devemos ser como um pirata, que aporta numa ilha e só pensa em se apropriar indevidamente dos seus recantos secretos e dilapidar os seus tesouros preciosos. Não tendo o mínimo zelo ou cuidado em preservar a inigualável natureza. Jaz aqui um garimpeiro de pedras, um habitador mutável de ilha, mas principalmente um ser humano que dedicou suas mãos a descobertas incríveis, e outras por falta de tempo e disposição larguei pra que outro o fizesse, é importante saber quando é e quando não é, com quem é e com quem jamais será. Lapido pedras brutas, ao seu dispor.

Quimeras AbortadasOnde histórias criam vida. Descubra agora