Capítulo 12

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Merlia

Olhei para o par de olhos castanhos escuros na minha frente, os últimos resquícios de como me senti quando nos encaramos indo embora aos poucos.

Talvez fosse consequência do nervosismo e medo de que essa conversa acabasse em uma briga outra vez.

Um garçom apareceu logo depois servindo o vinho, mas ele estava demorando muito para abrir a garrafa, irritando Ethan, que pediu para deixá-la com ele que ele faria, me fazendo rir baixinho.

- Velhos e sua pouca paciência.. - murmurei, fazendo os lábios de Ethan se torcerem.

- Achei que não fôssemos brigar.

- Não estou mentindo quanto à isso - dei de ombros, tomando um gole da minha bebida.

- Vamos direto ao ponto - falou - Sobre como ficaremos.

- Quero me desculpar com você, Ethan - falei sem esperar por mais - Mas também quero dizer que eu não gosto que você me menospreze, não gosto do fato de que não me dê um voto de confiança por causa de um erro que cometi e que estou arrependida.

ele suspirou e se encostou na cadeira, seus olhos presos nos meus.

- Não gosto que você me diminua, Merlia, esse emprego foi uma grande conquista para mim - falou sério - Você mais do que ninguém sabe como é quando conquistamos algo, quando nunca nem se quer pensamos que poderíamos ter um dia.

Abaixei o olhar, sentindo o peso das suas palavras caírem sobre as minhas costas, porque eu o entendia perfeitamente.

- Então por que você faz eu me sentir pequena? quando estar na presidência foi uma conquista para mim também - suas sobrancelhas arquearam levemente, alguns segundos em silêncio até que ele enfim respondesse.

- Aquela moto tinha um valor significativo para mim, a construi junto com Peter quando completei meus dezoito anos. Ele se encarregou de arrumar todas as peças que um dia eu sonhei em ter em uma moto, não é tanto por isso, é mais o fato de que alguém realmente se esforçou para me agradar.

Engoli em seco, piscando diversas vezes enquanto suas palavras se alojavam em minha mente, eu me sentia ainda mais cruel pelas coisas que fiz e falei, por não ter escutado e tentado entender porque a moto era tão importante assim.

- Eu sinto muito, Ethan - falei - Eu não quis insultar você daquela maneira, se eu soubesse eu..

- Eu sei, eu sei - me interrompeu - Eu também fui rude.

Assenti - Ela teve conserto?

- Não, não teve jeito, e falando nisso - ele enfiou a mão do bolso retirando o cheque que havia o dado e me entregou - Quero devolver isso para você.

- Pode ficar, é o mínimo que posso fazer pelo que causei, Ethan - me apressei em dizer.

- Não, está tudo bem, Merlia - disse - Não iria mexer no seu dinheiro mesmo que ela tivesse conserto.

ele empurrou o cheque sobre a mesa até mim e o peguei, ainda atônita com suas palavras.

- Olha, nós dois sabemos que somos orgulhosos demais para um dia nos darmos bem - continuou - Mas seria bom se tentássemos manter um clima saudável dentro do ambiente de trabalho.

- Concordo com você, também acho que não vamos nos dar bem algum dia, mas espero que, pelo menos na empresa, nós possamos tentar ser colegas de trabalho, eu preciso de você.

- Estou aqui para ajudá-la, sou seu braço direito, Merlia - sua voz soava firme - E pare de me pedir para buscar café.

Sorri - Eu só queria irritá-lo, desculpe pelas minhas palavras.

- Adolescentes e suas birras.. - murmurou, usando o mesmo tom que eu havia usado antes.

Gargalhei com a sua audácia, arrancando um pequeno sorriso dos seus lábios.

progresso.

- Você já fez os pedidos? - perguntei, olhando para os cardápios.

- Sim, em breve chegará.

- Devo me preocupar com envenenamento, senhor Ballard? - brinquei, ele sorriu.

sorriso bonito.

- Sim, você com certeza deve se preocupar com isso, aliás, não estamos no nosso ambiente de trabalho.

- Irei me certificar de que você dê a primeira garfada em meu prato de comida, então.

- Até que seu senso de humor é adorável para uma jovem - falou, uma sobrancelha arqueada.

- Você fala como se você não tivesse sido um jovem algum dia..

- Eu fui, mas não tão baderneiro como certos ladrões de cabras - provocou e sorri.

- É mesmo? e o que você me diz sobre "um homem correndo pelado pelas ruas" - falei - Você acha mesmo que não fiquei sabendo dessa sua pequena aventura?

- Quem te contou?

- Ninguém, apenas ouvi meu pai e Peter falando sobre isso..

- Como sempre ouvindo as conversas dos outros..

- Não mude de assunto! por que você correu pelado na rua em plena madrugada? - perguntei.

- Eu estava bêbado e voltando de uma festa, perdi uma aposta com um amigo - disse dando de ombros.

- E que aposta foi essa?

- Você é muito curiosa, pelos deuses!

- Diga, diga.. - insisti.

- Se eu disser, será mais um motivo para você por na sua lista dos porquês me odeia.

- Isso é ótimo, então.

respirou fundo e deixou os ombros caírem, percebendo que eu não desistiria.

- Apostei que levaria uma garota muito bonita para a cama, em minha defesa, eu era apenas um moleque idiota - falou.

- Está preocupado com meu julgamento, senhor Ballard? - arqueei uma sobrancelha.

- Jamais, você sabe, quanto mais você me odiar, melhor - disse - Mas enfim, eu não consegui e Thomas, meu amigo, me fez correr pelado pelas ruas.

Gargalhei, colocando a mão na boca para tampar minha risada escandalosa.

- Bom, podemos ver que a garota era muito esperta, então.. - falei olhando em seus olhos, um sorriso de canto se esticando em seus lábios.

- Podemos se dizer que sim.. - concordou.

O brilho de diversão passando em seus olhos, me dando um arrepio suave na nuca. Mas o garçom apareceu logo em seguida servindo nosso jantar, que seguiu calmamente, optamos correr para o assunto trabalho, pelo menos assim não iríamos acabar gritando um com o outro no final de tudo.

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #1 - A princesinha de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora