Capítulo 59 - Penúltimo

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Merlia

Um mês se passou desde a tragédia que aconteceu à minha família. Mas eu ainda podia sentir o gosto amargo em minha boca da perda, podia sentir a dor presente todos os dias do acordar ao fechar meus olhos. Lembro como se fosse hoje do velório, da forma como me joguei no caixão e chorei desesperada, querendo estar no lugar do meu filho.

Matthew foi preso, fizeram uma investigação mais à fundo e foi descoberto que ele era um psicopata louco, várias fotos minhas distraída em diversos lugares estavam presas na parede do seu quarto, vídeos de mim andando por lugares da cidade sem nem saber que ele esteve de longe durante todo esse tempo. Carla também foi presa por ser cúmplice no dia, ela quem apagou as luzes da empresa para que eu fosse rumo às escadas, a própria confessou, e depois me pediu desculpas. Mas agora já era tarde demais, eu já havia perdido meu filho.

Olhei para o lado vazio da minha cama, que esteve praticamente assim durante todo esse mês. Ethan está sofrendo seu luto da pior maneira possível, bebendo sempre que pode e chegando em casa cambaleando, nossa cama esfriou, nossa relação já não é mais a mesma de antes. Achei que nós dois poderíamos conseguir sermos uma boa dupla agora, mas foi diferente, cada um está no seu canto e sofrendo sozinho pela perda que tivemos.

Sinto falta dele, do abraço, de ouvir o som da sua risada. Ele passa mais tempo fora de casa do que aqui, comigo. Mas não posso culpá-lo ao todo por isso, no início, ele tentou muito ficar perto de mim, mas eu não conseguia tê-lo comigo, eu o afastei para longe e ele permaneceu por lá. Me senti péssima quando notei o que eu havia feito, mas agora ele nem se dava o trabalho de dirigir uma só palavra para mim.

Ouvi o barulho da maçaneta e Ethan entrou no quarto, o cheiro de álcool entrando em minhas narinas e suspirei. Ele sentou-se no canto do quarto sem dizer uma só palavra e sentei na cama o olhando, a cabeça baixa e as mãos segurando seu rosto, um soluço rasgou da sua garganta e caminhei até ele, me abaixando na sua frente até ficarmos na mesma altura. Sua cabeça se levantou, os olhos marejados me encarando com tanta dor que fez com que lágrimas saíssem dos meus olhos.

- Você me odeia? - perguntou baixo.

- O-o que?

- Tô perguntando se você me odeia por não ter chegado antes e ter impedido de que aquilo acontecesse com a gente.

Sentei no chão, minhas pernas se cruzando e entrelacei nossos dedos.

- A culpa não foi sua, não somos culpados por ser alvo da maldade dos outros.

- Você nem olhava na minha cara, Merlia.. toda vez que eu entrava no mesmo cômodo que você, você saía.

- É por isso que tem passado tanto tempo fora?

ele assentiu - Quem sabe assim você me odeie menos quando eu passar pela porta.

- Eu não odeio você, Ethan - falei.

- Então por quê? - seus ombros tremiam por causa do choro, passei minhas mãos por eles o acalmando e beijei sua testa.

- Eu tinha medo que você olhasse para mim e lembrasse do que você perdeu.. você estava tão feliz por causa dessa criança, e eu vi a forma em que você olhava para tudo que havíamos comprado, com um olhar perdido e vazio..

- Eu preciso de você, Lia.. - sussurrou - Nós o perdemos, mas você ainda me tem aqui.. e eu queria ter você também, mas parece que eu perdi vocês dois..

- Não.. - sussurrei, sentando em seu colo e agarrando seu rosto com minhas mãos - Eu ainda estou aqui.. - descansei minha testa na sua e choramos baixinho juntos - Estou aqui, Ethan..

HERDEIROS #1 - A princesinha de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora