Capítulo 54

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Merlia

Com o rosto enterrado no travesseiro enquanto choramingava um pouco, ouço batidas na porta.

- Pai, você já me ajudou muito - murmuro para que ele me escute.

Faz uma semana desde o episódio fatídico com Ethan e que estou ficando na casa dos meus pais de novo. Minha rotina voltou a ser a mesma de antes, assistir filmes clichês com eles e comer vários sorvetes de diversos sabores. Apesar de comer bastante besteira só essa semana, sinto falta do velho ranziza resmungando no meu ouvido, sinto falta do suco verde que ele fazia, sinto falta dele.

Minha família está me ajudando a tornar tudo isso mais suportável, os meninos e as meninas também me visitavam as vezes, parecia até que eu estava doente de alguma coisa fatal.

- Não é seu pai.. - ouvi a voz familiar e me virei.

- Vovó? - Marina sorriu caminhando até a cama e se sentou, rapidamente me aproximei, deitando minha cabeça em seu colo e relaxando com seu cafuné.

- Vim ver como minha princesa está se sentindo..

- Ah.. na medida do possível.

ela negou - Quero saber sobre seu coração.

- Eu não sei.. - suspirei desanimada - Eu não consigo pensar direito, toda vez que me lembro do que eu vi naquele dia fico com raiva dele, mesmo sabendo que ele não teve culpa.. bom, pelo que ele contou, não teve..

- O amor as vezes pode doer, até mesmo os que são bons para a gente, querida.. - seus dedos faziam uma massagem boa em meu couro cabeludo.

- Como assim, vó?

- Oras, estamos falando de seres humanos, meu amor.. Você acha mesmo que em todos esses anos não me senti triste com algo que Carlos tenha feito ou falado? que também não tive inseguranças?

- Mas.. ela trata você como uma rainha.

- Mas eu também sou humana - respondeu - E eu tenho inseguranças como qualquer outro ser, tenho dúvidas mesmo sabendo da resposta, isso é normal, e você passou por muita coisa.. é claro que não irá justificar, mas infelizmente isso moldou você.

suspirei - É, estou percebendo..

- Acho que está na hora de você aceitar.

- Aceitar o que?

- O que aconteceu com você - disse calmamente - Aceitar que não foi culpa sua, parar de reviver aquele dia e sofrer desse jeito.

- Não consigo esquecer o que ele fez comigo, vó, não consigo esquecer o ele causou no meu corpo.

- Você não vê?

aperto as sobrancelhas em confusão e olho para a mulher de cabelos pretos escuros e lisos, os olhos azuis como o céu como os de tio Hendrick.

- O que eu não vejo?

- Você passou todos esses anos se torturando, foi você quem se autointitulou como alguém suja quando você não é a pessoa suja da história toda.

Engoli em seco com as suas palavras me acertando como um soco e congelo, meu olhar preso no seu enquanto tento digerir tudo que me foi dito.

- Mas.. eu sou..

- Não, você não é - disse firme - Não se odeie por algo que alguém fez com você.. você está pegando a culpa dele e jogando toda para você, e isso, minha querida.. isso é assinar uma carta de autossabotagem.

- Aonde você quer chegar, vó?

- Por que não perdoou ele até agora?

- Estou insegura - murmurei baixinho.

HERDEIROS #1 - A princesinha de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora