Capítulo 22

2.7K 276 24
                                    

Merlia

Fechei a porta atrás de mim contendo o soluço desesperado e dolorido que arrancou da minha garganta mais uma vez. Caminho até a cama, as mãos trêmulas arrancando o vestido e me olho no espelho, já não me sentindo tão bonita e bem como antes, agora o peso das lembranças circulavam em minha mente como nuves nebulosas.

Prendi o ar com a bile subindo em meu estômago, a vontade de tentar arrancar isso de mim a todo custo, arrancar suas marcas e suas mãos pareciam cada vez mais difíceis com o passar dos tempos.

Fui até o banheiro, ligando a água gelada e esfregando meu corpo com força diversas vezes, querendo tirar essa sujeira que estava cravada em minha pele. Minhas coxas, pescoço e braços ficando vermelhos, as palmas das mãos ardiam por causa dos machucados que eu mesma fiz e caí no chão do banheiro, querendo morrer.

As vezes eu queria que eu tivesse morrido ali mesmo naquele dia, porque agora eu estava suja para sempre, agora eu carregaria uma vergonha junto à mim. Fechei os punhos em meus fios do cabelo os puxando com força, querendo tirar as lembranças cruéis de mim, mas não tinha como.

não tinha como porque mesmo que eu esquecesse, meu corpo se lembraria, para sempre, da minha vergonha.

☆☆☆

A chuva caía forte do lado de fora, as gotículas de água batendo nas janelas do quarto me distraindo dos meus pensamentos e suspirei assustada ao ouvir uma batida na porta, estranhei, eu não estava esperando ninguém.

Passei o dia inteiro dentro do quarto, pensei que Ethan pediria para voltarmos para casa hoje mesmo, mas acredito que ele esteja com receio ou sabe-se lá quais pensamentos esteja tendo depois de descobrir isso sobre mim.

Caminhei abrindo e o vendo parado diante dela, a calça moletom e camisa de manga curta preta exibindo todas as tatuagens do seu braço e mão, o cabelo molhado e o semblante ansioso.

- O que você quer? - perguntei.

- Vim ver você.

Arqueei as sobrancelhas, surpresa me atingindo e dei passagem para que ele entrasse e voltei para a janela, me sentando novamente em frente à ela sem dirigi-lo o olhar.

- Merlia..

- Estou bem, Senhor Ballard, não se preocupe comigo.

O ouvi respirar fundo e ele se sentou ao meu lado na grande janela, ficando distante o suficiente para não me incomodar e me fazer ter outra crise.

- Você sabe, não é? - perguntei baixo, a vergonha surgiu dentro de mim.

- Antes eu não sabia, mas depois de ontem.. sim, eu sei.

é claro que ele iria perceber, Ballard é astuto e inteligente o suficiente para entender coisas que não precisam ser ditas.

Eu assenti em silêncio e o olhei, meus olhos lacrimejaram contra a minha vontade e neguei com a cabeça.

- Oito anos - falei - Eu tinha oito anos.

- Eu sinto muito por você, Lia..

- Todos sentem.. - sorri amargamente - Me sinto quebrada, Ballard..

ele respirou pesado, como se doesse nele ouvir as minha palavras, como se estivesse sentindo a minha dor.

HERDEIROS #1 - A princesinha de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora