Julieta Candice Marchal

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Voltar para casa é um processo complexo...

Morar em Florença foi incrível, aquele lugar construiu tudo que eu conheço até aqui, mas novas etapas de vida requerem novos ambientes, não dá para desenvolver um novo eu em um velho ambiente, seja ele emocional ou físico. A decisão da mudança foi de meus pais, moramos em Paris até meus 3 anos, mas depois nos mudamos, e eles propuseram esse retorno quando eu estava no 2 período de direto na universidade, e, como eu parei de ter voz ativa em casa a algum tempo, acatei e decidiram mudar o mais rápido possível. Depois de tudo que houve, só consigo pensar que estou feliz de estar bem, e acima de tudo, que meus pais também estão, sei que os fiz passar por maus bocados.

Noah, meu irmão mais velho, me olha de soslaio de sua poltrona e eu abro um sorriso cínico, ele logo recolhe os olhos, os revirando e direcionando para o lado oposto. Dentre tantas mudanças, não dava para tudo sair perfeito, minha relação com ele foi uma das coisas mais dolorosas que perdi nos ultimos anos. Infelizmente, Noah acabou tendo de abdicar de uma vida que construiu em Florença por causa dessa mudança. Deixou para trás a namorada, Maitê, os amigos e a universidade, que ele se esforçou muito para passar. Embora ele tenha conseguido transferir para Paris, assim como eu, ele perdeu muito, e sei que em partes isso é culpa minha e sei que ele me odeia por isso, mas não dou a mínima, não é como se eu tivesse escolhido tudo que houve, e admito que fico aliviada por ter acabado.

No ano retrasado nossos pais fundaram uma microempresa na nossa garagem, de certa forma, por minha causa, e me senti na responsabilidade de ajudar com vídeos online e em pouco tempo, as coisas tomaram proporções descomunais, nosso padrão de vida se alterou do dia para noite e agora estamos indo abrir uma nova empresa em Paris.

Meus pais me querem para ser o rosto da nova campanha da empresa, e embora eu tenha começado todo esse negócio, não me vejo dessa forma, detesto pessoas me secando e não me vejo tendo popularidade para lidar com pessoas dessa forma, acho que só sou muito aversiva a pessoas...

Meus pensamentos se esvaem quando o jato pousa, acho que é agora que vamos conhecer a casa da Barbie, afinal. Na mosca! Um senhor bem aparentado nos aguarda parado ao lado de um carro preto e nos conduz para dentro, logo estamos andando. Admito que odeio carros, meu estômago é desastroso para tal transporte, mas procuro me manter firme, e ao passar pelo centro resolvo desviar os olhos para ver em volta, e, porra é incrível. Ao pararmos no sinal, já sinto meu estômago revirar, abro o vidro e respiro um pouco, parando meus olhos numa garota sentada no banco de trás do carro ao lado, e nossa, è bellissima.... Sou interrompida de olhá-la quando o carro volta a se mover, me fazendo praguejar mentalmente, estava curtindo a vista.

Quando chegamos ao destino, solto baixo: Cazzo, é enome!, o que me fez receber um olhar repreensivo da mamãe, que me fez revirar os olhos. Apesar de me sentir deslocada e sentir que isso é um exagero, por ora, não deixo de estar otimista. Tenho uma semana para me organizar, pois o período logo irá começar, sinto meu estômago revirar de novo, mas dessa vez por causa da ansiedade.

Afasto o pensamento e passo pela porta acompanhada dos meus pais, atravesso o hall de entrada e subo ao segundo andar, opto por escolher um quarto mais escondido no corredor e já imagino como "danificá-lo".

Isso vai ser bem interessante...

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora