Capítulo 28

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Anne

Não sabia por onde começar, vim até aqui tão destemida a conversar com ele, mas agora que eu estou frente a frente não consigo pronunciar uma palavra sequer.

Eu ensaiei tantas palavras para poder falar com ele todos esses dias, mas meu nervosismo impede e ele nota, estou com as mãos um pouco trêmulas.

Johna rompe nosso silêncio constrangedor pousando a mão suavemente em meu rosto, me incentivando a falar. Mesmo depois de tudo a presença dele ainda me conforta e sou grata por ele ser desse jeito, me sentiria péssima se perdesse a amizade dele, por qualquer motivo que fosse.

Anne: Eu queria pedir desculpas... por tudo - falo num tom baixo, quase um sussurro, mas tenho certeza de que ele me ouve, pois tira a mão do meu rosto, colocando-a no bolso - eu exagerei com você quando explodi, nunca quis te magoar, nem perder você. Hoje, vendo você beijar aquela garota, me dei conta de que você tinha razão e talvez eu só tenha começado tudo isso pra ter alguém ao meu lado, de forma amorosa e semelhante ao que eu me habituei, uma relação heterossexual.

Anne: Quando senti ciúme, detesto admitir, mas talvez fosse mais em relação a perder você para outra pessoa do que te perder em si. Eu não pensei mesmo em elevar os sentimentos com você e sinto muito por isso.

Johna: Anne, eu jamais ficaria mal contigo porque não conseguir me corresponder, nós não escolhemos quem vamos ou não amar. O que dá pra escolher é conversar sobre isso - assinto com a cabeça e ele me dá espaço para continuar.

Anne: Nathan acabou mudando um pouco minha concepção sobre ele, foi um bom apoio quando eu precisei conversar. Ele quem me incentivou a falar contigo - dou um riso fraco e vejo Johna sorrir com o comentário - ainda tenho uma certa resistência, que me fez pensar sobre o que você disse a respeito da Julieta.

Anne: Não cheguei a uma conclusão concreta, sinto minhas emoções muito embaralhadas. Quando nos beijamos daquela vez eu fiquei tão eufórica e depois só cheguei a conclusão de que havia confundido tudo, que gostava dela, mas como amiga, porque nunca tinha tido algo assim, então não sei diferenciar. Quero dizer, como você sabe que está gostando de alguém?

Johna: Não sei, Anne, cada pessoa sente de uma forma. Eu noto que gosto de alguém quando começo a desejar mais e mais a presença dessa pessoa e passo a interpretá-la na minha realidade. Uma música que ouço e quero compartilhar, um filme que assisti e que seria melhor ao lado dela, um passeio, uma poesia. Quando você para de ter coisas apenas suas e deseja que alguém compartilhe disso contigo. E muito mais...

Johna: Mas o ponto é que você não precisa forçar nada disso, quando se gosta de alguém, logo é impossível controlar isso, as emoções vazam. Você não precisa cobrar isso de você. Se me permite dizer, isso é algo que pude notar em você, quando se trata de emoções você é imediatista, eufórica, então acaba criando situações complicadas, deixa as coisas acontecerem gradativamente.

Johna: Se gostar dela como amiga, ótimo, você terá uma excelente amiga, uma amizade que se você cultivar bem, pode durar uma vida. Se gostar dela de forma amorosa, vai dar um jeito de descobrir isso. Eu e você estamos bem, Anne, só me chateei por ver você me usando como um tapa buracos quando não entendeu ao certo seus sentimentos e não se dando ao trabalho de ser sincera comigo.

Fico tão atordoada quando ele termina de falar que não consigo pronunciar nada. Engulo seco enquanto as palavras espancam o interior da minha cabeça, procurando qual parte me cortou mais. Sei que precisava disso, como precisei da nossa última conversa, a diferença é que agora eu estou com os pés no chão e a cabeça no lugar.

Ele me puxa para um abraço e eu correspondo, permitindo que minha cabeça pouse sobre seu peito. Ele é quente e reconfortante, o abraço dele consegue dissipar toda a sobrecarga que eu acabei de puxar para mim, o cheiro dele invade meu nariz, me deixando serena. Quando nos desvencilhamos, ele me olha gentilmente.

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora