Capítulo 38

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Nathan

Sinto um cheiro gostoso quando saio do banho, desço rapidinho e me deparo com a ruiva de costas, mexendo no fogão. Me aproximo devagar, pousando um beijo em seu pescoço, a vejo contrair um pouco e seus pelos arrepiam por inteiro, ela vira um pouco de lado, me dando um sorriso pequeno.

Dou a volta no balcão, me sentando na banqueta, enquanto a olho curioso, pela primeira vez em um tempinho sinto meu estômago roncar com o cheiro

- O que está fazendo?

Julles: Filetto con crema di patate - ela diz simples e eu franzo o cenho, tentando raciocinar, e ela ri bem humorada - é filé com creme de batatas, gatinho. Imaginei que você não tivesse comido ainda, então resolvi fazer - a olho admirado e tenho certeza de que estou sendo transparente demais, porque ela desliga o fogo e me encara, com as mãos apoiadas na bancada, sorrindo. Linda...

Julles: Chega a ser irônico alguém que não gosta de comer saber fazer algo - toco seu rosto com a mão, tirando uma mecha que caiu, ela me olha atenta e eu juro que poderia me perder nesses olhos - vamos comer, anda.

Me levanto, pegando pratos no armário e monto um espacinho na mesa, ela vem logo em seguida pousando a panela sob um apoio. Traz o pacote de mais cedo, desenrolando, dando espaço para um vinho, que coloca sobre a mesa, Chateau de Pourcieux é o nome escrito no rótulo.

Ela pousa as taças na mesa e corre até a cozinha, indicando a panela com a cabeça, volta com um ralador e um queijo na mão, me fazendo rir. Me sirvo e ela rala o queijo pra mim, que logo derrete, coloco arroz e ela se esforça para tentar abrir o vinho, falhando miseravelmente.

Me apresso em ajudar e num movimento rápido tiro a rolha, fazendo um barulho oco no ar. Ela me encara curiosa, varrendo meus braços e peito cobertos por uma blusa de frio fina.

Nathan: Vai continuar me comendo mesmo com os olhos?

Julles: Olhar nao tira pedaço, e bom, é maravilhoso saber que você tem várias habilidades com as mãos.

Nathan: Você nem tem ideia... - digo sugestivo, proximo aos labios dela, depositando um selinho.

A sirvo e me sirvo também, ela estica a taça para mim com uma carinha boa e fazemos um toque suave.

Julles me encara com certa curiosidade antes que eu coma, parece analisar cada detalhe do meu rosto. Levo a primeira garfada à boca e congelo, mastigo devagar e permito que a comida desça. Porra... está incrível.

Nathan: Casa comigo! - ela gargalha, se servindo em seguida, mal ela sabe que minha vontade é rodá-la no ar e dizer o que tem ficado preso na minha garganta a dias. Sinto que a estou amando e isso tem sido meu local de paz, a presença dela conseguiu destruir todos os sentimentos ruins que eu estava sentindo. É ela. E sinto que sempre vai ser ela.

Continuo comendo feliz e ela me acompanha. Falamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo, conto rapidamente sobre meus pais e ela me observa sem piscar. Sempre admirei muito isso, ela acompanha meus movimentos com o maior interesse do mundo, como se absorvesse cada detalhe do que você fala, sempre está interessada, apesar de tudo, do cansaço ou do humor, ela é extraordinária.

Terminamos e lavo a louça enquanto ela me olha, sentada no balcão da cozinha. Sentamos no chão do meu quarto com a garrafa de vinho e estamos quase ao fim da garrafa.

Nathan: Minha tia tem TDI, acho que cheguei a comentar - ela concorda com a cabeça, se aproximando mais de mim - o que não cheguei a comentar é que a uns dias ela apareceu na nossa casa, como se nada tivesse acontecido, nós brigamos muito, minha mãe interferiu e nós acabamos nos distanciando, vim para cá e ainda não falei com ninguém - ela me olha com atenção - sabe o pior? Minha mãe foi até a casa dela.

Nathan: Ela encontrou tantas coisas que nem posso contar, recibos de cheques que ela assinou, cheques preenchidos com valores altos, valores que podiam ter ajudado muito a gente na época, cartas que meu pai me escreveu. Estava tudo lá, ruiva, tudo ali bem debaixo do nosso nariz.

Nathan: Depois disso eu mal conseguia olhar para ela, insisti que devíamos interná-la, mas minha mãe se nega com todas as forças, diz que ela pode se sentir abandonada. Eu não soube o que fazer, só precisava de um tempo para ficar sozinho - vejo os olhos dela brilharem e seu semblante muda um pouco - não! Você ter vindo para cá foi a melhor coisa que aconteceu em dias, baby - digo pousando a mão na lateral do seu rosto e ela se aninha

Julles: O TDI é um transtorno imprevisível, Nate, cada pessoa se comporta de uma forma. Não sei nada sobre isso, para ser sincera, só que é uma doença séria, que não prejudica apenas a pessoa que possui, mas também traz muito sofrimento para as pessoas ao redor. Sempre é assim com qualquer transtorno mental. Sei que agora você está irritado com ela, magoado, por causa dos danos que ela causou, que foram muitos, mas ela tem uma doença séria, precisa de ajuda. Acho lindo que mesmo com todo o rancor que você sente, ainda se preocupe com ela, pensando que ela deveria ser internada - engulo seco enquanto ela fala - mesmo que você não note, isso também é preocupação, é carinho. Isso é muito a sua cara...

Não sei o que dizer, só permito que o silêncio se instaure no ar, mas dessa vez não é algo desconfortável, pelo contrário, eu me sinto bem assim

Julles: Você não tem que perdoá-la, Nate. Nessa vida não temos que fazer absolutamente nada que não quisermos... mas acho que poderia tentar se reconciliar com sua mãe. Tenho certeza de que ela está sofrendo muito também, preocupada com você, com sua tia, confusa pela reaproximação do seu pai. São muitas emoções para uma pessoa...

Concordo suavemente. Não sei explicar o quanto a presença dela me traz paz, me conforta. Eu não poderia querer estar em nenhum outro lugar, atingi meu nível máximo de conforto. Mas tinha algo que não estava bem ainda.

Me levanto, deixando a taça ao lado dela e a mesma me olha com um semblante confuso, tenho as pernas inquietas e sinto que posso vomitar. Me esforço para tentar controlar minha respiração.

Nathan: Julieta... - só consigo dizer isso, mas nada mais sai. Ela pousa a taça no chão e caminha até mim em passos rápidos, pousa uma mão de cada lado do meu rosto e me olha com ternura. Seus olhos verdes brilham enquanto me fita e aos poucos sinto a ansiedade se dissipar

Nathan: Eu estou no meio de um processo judicial... um tempinho atrás eu fui preso, acusado de tráfico de drogas e porte de armamento de fogo. Fiquei dois anos preso e saí por bom comportamento, estou em condicional, mas o caso foi reaberto, estou sendo acusado de mais um crime. Só que eu estou tentando provar minha inocência - ela ainda tem as mãos no meu rosto, prestando atenção em tudo que eu digo - Aiden era meu melhor amigo, foi, por mais de 10 anos, mas armou pra mim e me mandou pra cadeia.

Nathan: Tempos atrás eu e Johna conseguimos um depoimento dele, confessando e agora estou em contato com alguns amigos antigos para que possam testemunhar a meu favor. Eu não fiz nada, ruiva, eu juro, nunca mexi com nada errado. Por isso meu pai apareceu, veio me representar judicialmente, ele me encontrou por causa da confusão na universidade. Eu tentei te contar antes, mas nunca conseguia. E agora tô morrendo de medo da sua reação.

Julles: Eu sei, Nate, eu chamei seu pai - a olho intrigado e ela continua - seu pai cuida do jurídico da empresa dos meus pais... ele comentou que você era filho dele assim que pegou sua ficha na universidade. Não falou sobre o processo, mas no dia em que estive em seu quarto e vi a carta da faculdade também vi a intimação, não dei importância porque parecia muito pessoal, nem imaginava que poderia se tratar disso.

Julles: Eu não disse nada antes porque não queria que você sentisse que estava invadindo seu espaço. Sobre a prisão eu só soube agora, mas acredito em você. Você nunca seria capaz de nada ruim, Nathanael - isso me faz rir, Johna me paga, mas sinceramente, prefiro muito mais isso na voz dela.

Nathan: Julles, eu...

Julles: Não importa. Você importa. E você é você. É incrível, Nate - ela toca o nariz no meu, fazendo um carinho suave.

Quebro o espaço entre nós, colando nossas bocas. O gosto do vinho consegue deixá-la ainda mais gostosa e enrolo os braços em sua cintura, aprofundando o beijo.

Ela envolve minha nuca, me puxando para mais perto, intensificando tudo, permito que nossas línguas brinquem e antes que ela diga algo, a ergo pelas coxas, entrando no quarto.

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora