Anne
Estou esperando a quase 15 minutos e nada da ruiva, estou começando a ficar preocupada. Ameaço pegar o celular para ligar pra ela, quando a vejo cruzar o refeitório com algo nas mãos, um livro, talvez.
Rapidamente ela faz o prato e se senta comigo para comer. Peguei suco pra ela e entrego assim que ela se senta. Ela me lança um sorriso enorme, o que me deixa bem mais tranquila.
Quase não falamos sobre o ocorrido, nos atentamos mais à festa que terá no fim de semana, me sinto bem mais confortável para ir com ela agora que tirei o elefante da sala. Estou quase terminando quando ela chama minha atenção.
Julles: O que seu pai disse sobre a traição? - pelo visto ela estava evitando o assunto, mas não se aguentou de curiosidade.
Anne: Nada. Eu não falei sobre... provavelmente a única coisa que ele tem é uma versão da cachorra, que não me interessa, se quer saber - solta rápido a respiração - ele me olha como o monstro que sempre julgou que eu fosse.
Julles: Não diz isso, Anne. Você não é nada disso. Se precisar de um tempo pra pensar melhor em expor a verdade pra ele, okay, eu espero ao seu lado. Mas ele tem como saber a verdade, mesmo que não a mereça. Ninguém devia ser enganado...
A abraço de lado, sendo correspondida, minhas pequenas frustrações sempre se esvaem quando ela está por perto.
Vejo Nathan entrar no refeitório em passos apressados, ele pega um suco, dá um aceno para a ruiva, que retribui, com uma cara ótima, e se retira da sala rapidamente. Ela o acompanha com os olhos até que ele não fosse mais visível. Devo deixar minhas emoções transparecerem, porque agora ela me olha com uma cara curiosa.
Julles: Fala, o que foi?
Anne: Nada, Julles. Eu não devia ficar me metendo na relação de vocês dois.
Julles: Relação que não existe? - ela fala bem humorada, mas não me sinto nem um pouco com vontade de rir.
Anne: Você nem nota como vocês estão envolvidos, ruiva. Eu não desgosto dele, não me entenda mal, ele é até tolerável e defendeu você, quando precisamos, como qualquer cara decente faria. Mas sinto algo muito errado nele, algo tenso. Ele sempre parece pisar em ovos, como se escondesse algo.
Anne: Ele vai acabar te machucando e eu não quero que isso aconteça. Você é importante pra mim, não quero te ver mal por causa de um cara que nem se dá ao trabalho de se esforçar por você, acho que talvez você devesse manter ele numa distância mais saudável.
Sinto que peguei pesado demais, mas quando vi já havia dito tudo. Eu e minha maldita boca, por mais que Julles também se preocupe comigo, ela sempre acha a melhor forma de falar comigo sobre tudo, dificilmente externa visões dela sobre minha vida, sobre o que eu devia fazer ou pensar. Sinto que acabei desrespeitando um pouco o espaço dela.
Julles: Eu acabei vendo um lado dele que a maioria das pessoas não consegue enxergar, loira. Ele é sim um cara difícil, mas todos nós não somos? Ele tem problemas, mas de alguma forma, conseguiu confiar em mim para se abrir sobre eles.
Julles: Nenhum de nós tem a obrigação de dividir tudo com todos, a menos que nos sintamos confortáveis para fazer isso, tenho certeza de que Nathan sabe coisas sobre Johna que você não sabe, e eu sei coisas sobre ele que vocês não sabem. Não é porque ele não é aberto com todos que ele é alguém ruim, que mereça desconfiança, ele é reservado.
Julles: Assim ele consegue evitar pessoas se metendo em assuntos particulares - senti isso ecoar no meu estômago e realmente percebo que não deveria me expressar como me expressei - Nós mantemos contato pra combinar sobre a festa - ela abre um sorriso pequeno, me dá um beijo e se retira da mesa.
Estou me sentindo tão envergonhada que mal consigo olhar enquanto ela sai do refeitório. Apoio a cabeça nas mãos e tento pensar em uma forma de me sentir mais tranquila sobre tudo, então decido mandar uma mensagem pra Johna, para que nos encontremos na arquibancada. Ele logo visualiza e aceita, mas daqui uns 20 minutos, pois está em aula.
Chego mais cedo e começo a fazer um resumo para entregar, estamos estudando um livro e preciso fazer uma análise sobre o contexto sociopolítico da obra, além de detalhar a escrita e mais algumas coisinhas.
Estou tão distraída que mal vejo Johna chegar, ele para na minha frente, me lançando um sorrisão. Retribuo e guardo minhas coisas. Johna consegue ser imparcial, por isso preciso da ajuda dele, sei que ele irá ser sincero comigo, mesmo que eu esteja errada.
Conto tudo que houve, incluindo minhas desconfianças sobre Nathan e Johna ouve tudo com atenção, falo sobre minha conversa com Julles e ainda sobre o vídeo e a pancada. Termino rápido e olho, esperando uma reação.
Johna: Por partes, okay? Primeiro, sobre o vídeo e o incidente. Você precisa compreender que nem tudo ao nosso redor está necessariamente ao nosso controle. Esse acidente poderia ter acontecido com qualquer pessoa, um exemplo simples foi quando Nathan teve aquela briga com Aiden na festa, se Nathan tivesse feito um movimento de braço errado e o cara não tivesse te segurado, poderia acontecer com você, e obviamente ele não teria intenções de te machucar.
Johna: O que quero dizer é que acidentes acontecem, nenhum de nós consegue passar ileso a eles. Sei que você tem todo um trauma, mas o diferencial, que na minha humilde opinião, é o que mais importa, é que você jamais machucaria a Julieta, em hipótese alguma. Não de propósito.
Sei que ele não está falando apenas desse caso e sim sobre a primeira vez que nós duas paramos de nos falar - você é forte, é preocupada e atenciosa. Só o fato de você se sentir culpada dessa forma por esse acidente mostra o quanto as suas desculpas sobre ele devem ser valorizadas. E tenho certeza de que esse bicho de 7 cabeças que você criou existe apenas em você, e Julles inclusive deve já ter esquecido - concordo com a cabeça e ele sorri, como se não fosse surpresa alguma.
Johna: Agora, sobre o Nathan... todos nós temos algo que escondemos do mundo, Anne. Eu tenho segredos, você tem, ele tem, simplesmente há coisas que nos acompanharão até o túmulo. Laços de amizades não significam devoção cega, ele não tem a obrigação de dividir a vida particular dele conosco, primeiro por se tratar de uma questão de confiança, ele precisa se sentir seguro para se abrir e em segundo, porque isso não é uma norma padronizada, não necessariamente para sermos amigos ele tem que ser 100% aberto e transparente.
Johna: Por outro lado, acredito sim, que sua preocupação é válida, no sentido das mudanças de humor dele, em que ele simplesmente para de falar conosco e nos afasta, é algo que ele precisa trabalhar e que eu inclusive conversei com ele na última vez em que nos encontramos. Há limites até nas amizades, entre tóxico e saudável, tolerável e não tolerável. Quando você não valoriza a preocupação de alguém, brevemente pode ser que você a perca.
Johna: Ele está ciente disso, mas noto uma melhora, vejo que ele está tentando, e eu, particularmente, assim como a Julieta, valorizo as tentativas mais do que os acertos. Uma amizade é constituída justamente disso, avanços, descobertas, adaptações. Ele tem sim, que ser transparente sobre as intenções dele, ser responsável afetivamente e manter as relações saudáveis.
Johna: Nesse quesito você pode sim opinar sobre, pois está preocupada que sua amiga, corrigindo, NOSSA amiga, possa se magoar com certas atitudes dele, agora no que diz respeito às emoções da Julles... Pelo visto nem ela está sabendo o que sente por ele, talvez nem seja algo tão intenso quanto você pensa, pode ser algo superficial.
Johna: Colocar esse tipo de pressão, ou incógnita na cabeça dela agora só vai deixa-la frustrada. Vai fazer com que ela se sinta encurralada. Uma metáfora que meu pai usava comigo quando criança é que não dá pra falar de amoras com Maria, quando ela não gosta da fruta, que significa basicamente que tudo que Julles vivenciar com Nathan ela evitará falar contigo, pela sua resistência com ele. Logo, até assuntos simples serão evitados, e é assim que barreiras são construídas.
Johna: A cada dia ele tem estado mais inserido nas nossas vidas, e eu particularmente gosto, me sinto bem quando estou com ele, mas obviamente, dei uma abertura para conhecê-lo, de uma forma que você não conseguiu permitir - ele dá uma pausa e eu mal pude absorver tudo que ele acabou de dizer, quando fico sem fôlego totalmente - Você não estaria tão relutante com ele porque parte de você gosta mais da ruiva do que quer admitir?
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Tudo por ti
Fanfic🔥Conteúdo adulto🔥 • Enemyes to lovers • Passado duvidoso • Brigas, sexo e conflitos • Triângulo amoroso?¿ • Tóxico Voltar para casa é um processo complexo... Anne, récem saída do reformatório, apresenta problemas com o pai e dificuldades de inte...