Capítulo 26

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Anne

Minha última conversa com Johna foi catastrófica para mim, por mais que ele seja sensato na maior parte do tempo não consegui lidar direito com a última parte e nós acabamos nos estranhando, pela primeira vez. Nos distanciamos parcialmente e definitivamente só estou indo nessa festa hoje porque a ruiva pareceu muito empolgada.

Para piorar, o clima dessa casa está infernal, me certifiquei de que meu pai receberia o vídeo. Resultado, ele e Thabita discutiram por horas e ele entrou com os papéis do divórcio. Isso pode demorar meses, mas ele deu um jeito de mandá-la para longe daqui.

Algo que eu admiro e abomino ao mesmo tempo é a preocupação dele com ela, apesar das mentiras, ele está pagando um hotel e as despesas extras, para que ela não se sentisse desamparada.

Sendo sincera não é isso que mais tem me incomodado, e sim a forma com que ele tem me olhado por cima dos ombros, parece esperar a qualquer momento que eu o olhe e grite que eu avisei, mas isso não me dá orgulho nenhum.

Isso só prova o quanto ele me conhece pouco e isso me magoa. Eu definitivamente preferia estar errada. Pensei que o velho fosse apenas jogá-la as traças, mas ele parecia gostar mesmo dela, e agora que ela não está aqui, a casa parece bem maior e estranhamente vazia.

Eu não consegui me aproximar dele, também não saberia como confortá-lo, não sou boa com essas coisas. Sei que é péssimo e egoísta, mas não deixo de pensar que agora, com ela longe, talvez eu e ele possamos voltar ao que éramos antes dela aparecer. Não que antes fosse muito melhor, mas eu sentia mais conforto em ser só nos dois.

Arrisquei ligar para o Johna hoje algumas vezes, mas sem sucesso, pelo visto ele não quer falar comigo. Não é para menos, eu acabei sendo bem desagradável.

Flashback on

Anne: Você perdeu o juízo, porra? Está sequer se ouvindo? - falei exaltada, um pouco alto, mas ele sequer se moveu, não pareceu nem um pouco surpreso.

Pelo contrário, respirou suavemente, pegou minhas mãos com um gesto delicado e se virou em minha direção, lançando aquelas íris azuis no meu rosto, analisando cada expressão.

Johna: Anne... Nós dois nos divertimos e acredito que sim, você possa gostar de mim, mas não para termos algo além do que temos. Loira, eu passei a vida toda recebendo migalhas para continuar me contentando com isso.

Johna: Eu gosto de ti, gosto de estar com você, fazer programas com você, rir e bagunçar. Mas eu também quero chorar com você, quero que me conte o dia péssimo que você teve e que reclame de coisas de casa. Eu tentei diversas vezes aprofundar nossas conversas, para que você soubesse mais de mim e que eu soubesse mais de ti, mas você sempre me evita, sempre me afasta.

Johna: Não é do seu interesse ter conversas intensas comigo, mas esse contato de duas pessoas é superficial. Você sempre diz que se sente leve comigo, bem, mas isso é porque nós nunca falamos de nada sério. As únicas vezes que falamos seriamente foi quando você me procurou pra falar da Julieta.

Johna: Não me entenda mal, não estou emocionado, nem reivindicando um pedido de namoro, mas não quero ter relações superficiais, loira, não mais. Não vou ficar magoado nem irritado caso você não queira mais estar comigo, mas eu preciso saber, preciso que me diga. O que não quero é ficar sendo usado para cobrir feridas causadas por outra pessoa.

Johna: Você devia falar com ela sobre isso, porque eu sei, que no fim do dia, não é comigo que você quer dividir sua vida... - ele fala calmo, mas eu me sinto explosiva, puxo as mãos num gesto grosseiro e me coloco de pé, o fuzilado com os olhos. Ele parece preparar o corpo.

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