Capítulo 52

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Julles

Dói admitir que a primeira coisa que berrou por ele foi meu corpo. Senti falta do toque dele, as mãos que me seguravam firme, o aperto pelo corpo, os lábios dele, o calor dele. Ele todo e a forma com que me fazia sentir.

Mas depois só caí na real de que isso não era nada comparado a falta que sentia da presença dele, da amizade dele, da energia dele.

Eu preciso definitivamente voltar para a terapia!

Essa sensação de insuficiência tirou de mim experiências que poderiam ter sido marcantes. Sempre esse mesmo medo. Medo da rejeição, de se abrir e depois ter seu coração dilacerado, medo de confiar em alguém que você ama com todo seu corpo e no fim das contas apenas ser deixada para trás.

Eu queria mesmo confiar no meu potencial e acreditar que ele vai ficar comigo porque sou uma mulher extraordinária, que tem enormes qualidades e um coração bom, mas a única coisa que consigo pensar é em quanto tempo ele vai levar pra se cansar.

Se cansar da bagunça que são meus horários, das medicações, dos meus surtos, que até então ele não viu. Não quero expô-lo a isso, e em partes tenho medo de que ele veja e me deixe. Essa sensação de não se sentir boa o bastante, a altura, suficiente... dói.

Agora não importa, ele não vai me olhar na cara nunca mais, e embora isso revire meu estômago, me sinto segura. Quando você abre seu coração para alguém dá abertura para que mais alguém além de você possa te tocar de forma íntima. Você compartilha um pedaço de si e quando faz isso, pode se machucar no processo.

O fato é que quando você tem alguém, alguém por quem vale a pena se abrir, essa pessoa pode te destruir, com munições que você mesmo deu. Agora, quando você é sozinho, não há como se machucar por outra pessoa. Sem pessoas, sem perdas. Eu nunca o tive... então em tese não perdi ninguém.

Sei que o machuquei. Mas ele me machucou em dobro. Eu menti. De novo. Ele é mais do que suficiente, mais do que o bastante, mas assim é melhor, ele lá e eu aqui.

E estou bem assim. Não estou? Então por que não consigo parar de chorar? Uma semana, sem o sorriso enorme dele, sem a presunção em sua voz, sem a energia vitalizadora que ele emana. Uma semana sem ele e sinto como se alguém tivesse morrido.

Eu não tentei falar com ele, nem ligar, nem mandar mensagens, em partes porque acredito que se me comunicar com ele, ele se comunique de volta, e isso me dilaceraria. Por outro lado temo que ele nunca mais vá querer sabe nada de mim, nem da minha voz, nem dos meus traços, nada.

Tenho uma pilha de trabalhos atrasados, um irmão em processo de recuperação, provas finais começando amanhã e um quarto enorme e vazio, com o cheiro dele. Não consigo estudar. Não consigo ler. Não consigo dormir e quase estou perdendo meus horários de refeições. E tem esse cheiro... Essa maldita jaqueta. Queria conseguir me livrar dela.

Para piorar, a previsão do tempo está uma bagunça. Calor a noite e chuva intensa durante o dia, o que me alivia, já não estou dormindo, conseguiria menos se chovesse a noite.

Meus pais não tem ficado em casa, nem viajado, não saem do lado do Noah. Por mim eu também ficaria no hospital com eles e a Maitê, mas meus pais estão a um surto de me deserdar. Até eles estão notando minha falta de humor.

Garoto estúpido! Garoto irritante! Garoto idiota! Eu praguejo em você, eu te amaldiçoo, que seu cabelo caia, você fique gordo e brocha.

Seu imbecil, por que tinha que invadir minha vida desse jeito? Agora você não sai da minha cabeça e me odeio por ter te perdido, se é que perdi. Mas sou muito fraca pra correr atrás de você agora. Eu te odeio com todas as minhas forças, Nathan! Só pelo tanto que me fez te amar.

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora