Capítulo 2

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Julles

O ignorante nem se deu ao trabalho de dizer mais nada, o que diz que alcancei meu objetivo. Ele concluiu o trabalho sozinho e foi brilhante, admito. O contato me causou curiosidade sobre o que ele escondia debaixo do tecido, pude sentir sua tensão pelo aperto em minha cintura o que me deixou quente, pela forma com que sua respiração falhou pude sentir que ele exitou. Ele tem uma pegada forte, sua mão é firme e seu corpo emana um calor que não sei explicar. A boca dele parecia um convite, será que beija bem? Será que suas mãos fazem algo além de segurar? O corpo dele consegue proporcionar algo além de raiva?

Meus pensamentos são interrompidos quando a barriga reclama, junto meus objetos e começo a andar, sentindo um pouco de fraqueza. Desço as escada com uma certa pressa e caminho o mais rápido que posso até a padaria da Dona Olivia, como rápido, calço os patins e me coloco na rua. Enquanto patino ligo para loira, querendo me distrair enquanto não alcanço meu destino.

Ligação on

Julles: Fala, ragazza.

Anne: Oi - sua voz é firme, grave. Aconteceu algo.

Julles: O que houve, Anne?

Anne: Pai - respondeu tão simples e indiferente que me faz fechar os olhos numa expressão catastrófica.

Julles: 10 minutos

Anne: O quê?

Julles: É o tempo que demoro para chegar. 10 minutos

Ligação off

Desligo antes que ela possa protestar, Anne é reservada, é na dela, não deixa transpassar muitas emoções humanas, digamos assim. Ela é o tipo de pessoa que dá conta, que consegue resolver as coisas sozinha, não importa o quão pesado seja. Mas somos humanos. Uma hora precisamos de alguém. E algo me diz que ela precisa de alguém.

Felizmente era meu caminho de entrega então não ficaria tão encrencada, dou a volta na casa e me dirijo aos fundos.

Tiro os patins e mando uma mensagem para a loira, que me dá acesso. Subimos até o quarto dela, e entrando, ela fecha a porta.

Gostei daqui, é claro, tem uma vista linda e é bem a cara dela, discreto, arejado, tem um cheiro gostoso de baunilha. Ela caminha até a sacada e se apoia nos cotovelos. Eu a sigo e encosto as costas no batente, tomando um impulso para sentar.

Julles: Calma, tô equilibrada - digo com um sorriso, esperando o próximo passo dela.

Anne: É complicado. A gente é.

Julles: A gente?

Anne: Família - ela já havia dito que tinha problemas com o pai, mas nas palavras dela eu senti que tinha mais do que isso. Ela era reclusa e claro, fazia pouco mais de uma semana que nos conhecíamos, mas queria que ela estivesse tranquila comigo também, já que estranhamente, eu ficava em paz com ela.

Resolvi não insistir e apenas descer e curtir um pouquinho do lado dela. As vezes a gente nem precisa falar, ou resolver o que quer que seja, talvez uma companhia seja suficiente para trazer alívio.

Desço sem jeito da sacada, me desequilibrando, ela tenta me amparar, mas falha miseravelmente. Novamente estávamos naquela mesma posição, sentia o peito dela subir e descer com certa pressa embaixo de mim, ela era quente e tinha olhos intensos. Não conseguia desviar os olhos dela e ao que parece nem ela dos meus. Meu maior erro foi olhar para baixo...

Ela tinha os lábios semiabertos. E que lábios, eles eram convidativos e estavam perto, umedeci os meus com a língua e voltei os olhos para os dela, que me olhava sem reação. Não vi uma muralha indestrutível dessa vez, só vi uma garota loira com as bochechas coradas. Uma garota perto. Perto demais....

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora