Capítulo 47

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Nathan

A água passa por minha pele, mas sinto agulhas perfurando a carne, incessantemente, cada vez mais fundo. O banho limpa, mas não alivia em nada, meu corpo reclama pela falta de sono mas toda vez que fecho os olhos só consigo ouvir ecoar o barulho alto do medidor cardíaco, o som agudo e constante, que mostrava a falta de batimentos.

Ele morreu, bem na minha frente, ele tava morto, porra! E eu não fiz nada. Nao pude fazer nada.

Soco a parede a minha frente fazendo um barulho alto, que deve ter ecoado por todos os cantos da casa.

Saio enrolado na toalha, vestindo uma roupa confortável, pego uma bolsa e coloco algumas coisas dentro, blusas limpas, uma calça de reserva, desodorante e a câmera. Por que estou levando? Também não sei.

A única coisa que eu sei é que vou fotografar aquele cara de pé, na saída do hospital quando estivermos indo pra casa. Que se fodam os pais dele, que se foda o hospital.

Eu assumo a responsabilidade, aquele cara não vai morrer.

Minha mãe entra assustada no quarto, eu devia saber que o soco a assustaria. Me xingo mentalmente por isso. Quando ela vê meu estado corre até mim, pousando as mãos em meus ombros, tem os olhos arregalados

Nathan: Mãe, tudo bem, eu tô bem - ela não se dá por vencida. Inspiro fundo, tensionando os ombros sob seu toque. Conto a ela sobre tudo que houve, o acidente, a doação do sangue, o que o doutor me disse, tudo.

Ela não deixa de ficar preocupada com Johna, faz mil e uma perguntas, sobre mim também, tenho certeza de que minha aparência a assustou bastante.

Meus olhos e pensamentos desviam até seu nariz, pego lenços às pressas, levando até o local, ela apoia a mão por cima da minha, num gesto reconfortante, enquanto limpo sangue, mas cacete!

Marta: Tudo bem, tudo bem. Eu tenho estado estressada esses dias - Mentira! Sei que é mentira.

Ela disse isso uma vez e me recuso a acreditar de novo. Quando criança eu tive sangramento no nariz e olhamos isso, sei diferenciar um sangramento por estresse de um que não é. A encaro sério, esperando uma reação verdadeira dela, que me encara um pouco frustrada.

Ela tira as mãos do meu peito e caminha pelo quarto. Eu encaro cada movimento dela. A vejo se sentar, pousar as duas mãos, trêmulas, sobre o colo e me encarar com aquele rosto. É, aquele rosto. O rosto de "Não quero a sua pena".

Nathan: Sem rodeios, mãe, o que está havendo?

Marta: Nathanael, não acho que esse seja o melhor momento para termos essa conversa - rio sem graça, deixando o ar sair

Nathan: Então tem mesmo uma razão pra precisar de uma conversa...

Nathan: Tem dias, mãe, dias, que eu vejo você abatida e prometi que te deixaria em paz pra poder lidar com toda essa situação da Erika. Prometi pra mim mesmo que seria paciente, mas não da quando você esconde coi...

Marta: Nathanael, eu estou com câncer

Meu estômago reclama, sinto minha garganta queimar com o suco gástrico, mas não vomito. Sinto meus joelhos fracos, me fazendo ceder. Bato os dois no chão com força enquanto minha boca seca ao extremo. Ela corre até mim, mas não consigo entender o que ela diz.

Tudo por tiOnde histórias criam vida. Descubra agora