Anne
Ele nem me olha e quando olha é pelos cantos de olho, como se visse algo digno de pena. Cruzamos algumas vezes no corredor do hospital e da faculdade e ele passou por mim como se eu não fosse nada.
Meu coração se cortou quando me acalmei e coloquei a cabeça no lugar.
Que porra eu fiz? O que caralho eu tava pensando quando tentei jogá-la contra ele?
Na verdade sei bem o que estava pensando, só não consigo acreditar que cheguei tão baixo. E por quê? Perdi as duas pessoas que mais me estenderam a mão.
Não consigo disfarçar o fato de que a perda dele foi a pior, mal me dei conta do quanto precisava dele até não tê-lo mais. Ele acabou sendo o pino de segurança da granada humana que eu me tornei, e sem ele, sinto a cada segundo a possibilidade de explodir e detonar tudo ao meu redor.
Mãe, eu queria tanto que você estivesse aqui, pra me dizer o que fazer, ou pra me estapear na cara.
Quando foi que eu me tornei uma pessoa egoísta? Não! Quando foi que eu não percebi o quão egoísta eu estava sendo? Primeiro com meu pai, manipulando a felicidade dele e desejando que ele estivesse disponível apenas para mim, fui capaz de passar por cima do sofrimento dele...
Depois com Julles, embaralhando emoções e machucando pessoas o tempo todo, com essa minha confusão de merda. Como eu pude pensar que depois de tanto tempo ela poderia simplesmente estar disponível para mim, na hora em que eu quisesse?
Johna estava certo. Ah Johna... eu mal consigo olhá-lo também, fui tão imbecil, o quebrei de alguma forma e fui tão rude tentando esconder coisas que estão nítidas. Embora tenho ido visita-lo constantemente no hospital sinto que minha presença o incomoda, ele deve saber da história toda e sei que na cabeça dele sou só alguém que está atrasando a visita de duas pessoas que se preocupam genuinamente com ele.
Tenho visto o moreno pela universidade, ele tem uma luz própria, diferente, parece feliz apesar de tudo. Inabalável, como sempre. Ele foi a única pessoa com quem compartilhei minha maior fraqueza, ele me ajudou e eu me senti ameaçada pela presença dele.
Burra!
Ele nunca jogaria tão sujo comigo.
Ele era meu melhor amigo e eu o perdi. De novo o que Johna diz roda minha cabeça, "as pessoas tem que se sentir confortáveis para conversar". Ele se sentiu, dividiu suas dores comigo e eu simplesmente passei por cima dele.
Por ciúme, por egoísmo, por sei lá o quê.
O que eu pensei que fosse acontecer? Quem eu pensei que prejudicaria com isso além de mim mesma?
Ela mentiu.
Mentiu sobre ele e eu não sei o porquê. Julieta o adora desde o primeiro dia de convívio, dava pra ver nos olhos dela. Eles se conectaram instantaneamente, por trás da raiva, por trás do atrito e da implicância sem sentido.
Ele baixou a guarda pra ela e gostou disso, ela se permitiu entregar-se a emoções que negou desde o primeiro dia. Por mais que eu saiba que ela ainda não consegue dizer em voz alta o que sente por ele, sei o que sente. E sei que ele tem razão, não sou eu a pessoa que faz o coração dela bater.
Encontrei minha pessoa, minha metade, minha alma gêmea, mas infelizmente ela já é o amor de alguém. Não há quem eu possa culpar, além de mim mesma, eu a rejeitei, eu estava ciente das consequências, eu fantasiei coisas na minha cabeça, que embasei em esperanças que só eu tinha.
Eu.
Meus pés se movem sozinhos. Tenho um cacto totalmente desproporcional nas mãos, uma ansiedade no peito e uma coragem que não sei de onde veio.
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Tudo por ti
Fanfiction🔥Conteúdo adulto🔥 • Enemyes to lovers • Passado duvidoso • Brigas, sexo e conflitos • Triângulo amoroso?¿ • Tóxico Voltar para casa é um processo complexo... Anne, récem saída do reformatório, apresenta problemas com o pai e dificuldades de inte...