Tudo por ti

Nathan Martin Mallet

Voltar para casa é um processo complexo...

Abro os olhos com bastante dificuldade por causa do sol que invade o quarto. Dormi tão rápido ontem que me esqueci de fechar essa droga. Levanto rápido, sentindo a pressão baixar e logo que me recomponho vou fechar a cortina. Tenho tido as melhores noites de sono da minha vida!

Acreditem quando eu digo que as camas da prisão não são confortáveis, e depois de dois anos, não consegui me acostumar com elas, nem com a comida. Aquele lugar é realmente infernal e você nunca sai de lá como entrou, felizmente, eu não sou o tipo de pessoa que interage então consegui me livrar de várias situações complicadas. Como ninguém sabia o motivo que me levou até lá e eu tinha um rosto nada amigável, juntamente com meus 1,93 de altura, me deixaram em paz nesse tempo. Você nunca deve dizer o motivo pelo qual entrou, sempre tem alguém que fez algo pior e usará isso para tirar proveito de você. Logo que entrei fiz algumas tatuagens, para complementar as várias que já tinha, o que também contribuiu para manter os brutamontes bem longe. Se soubessem que eu fiz a estrela no meu peito pra marcar o lugar em que minha mãe beijava quando eu era criança, antes de eu dormir, eu com certeza teria sido desmontado.

Tive "sorte" de pegar o Charlie como colega de dormitório, o cara espancou o amante da ex esposa, e embora não tenha matado o cara, o deixou bem machucado e obviamente prestaram queixa. No geral era um cara legal, na dele, sei que se arrependeu, mas não quis sequer contratar um advogado de defesa, o que mais causou danos no cara não seria consertado com um advogado, com minha mãe talvez. Apesar de tudo, ele cometeu um crime e devia estar ali, então mesmo gostando dele, mantive uma distância saudável.

Tive bastante tempo para lidar com tudo que me ocorreu, e embora quisesse sair de lá limpo e em paz, não podia evitar nutrir uma raiva enorme por aquele desgraçado. No entanto a melhor coisa que podia me acontecer, aconteceu, saí de lá livre, por bom comportamento e fui logo buscar minha mãe na casa de minha tia. A tia Erika era fabulosa, quando soube tudo que me aconteceu deu logo um jeito de contratar um advogado, abrigar minha mãe e me manter alimentado na prisão, foi uma das únicas pessoas que acreditaram na minha inocência, o restante sumiu. Como meu pai fugiu com uma mulher quando eu era criança, restamos só eu e minha mãe, ela é psiquiatra e eu era o cara problema... irônico. Quando fui preso foi um baque para ela, não consegui a olhar nos olhos por um bom tempo, mesmo sabendo que era inocente, minha mãe não merecia passar por toda aquela merda.

Como eu sempre tive facilidade com estudo, ela nunca pegou no meu pé por causa da escola, mas ficou um pouco chateada quando eu não quis fazer faculdade, isso era o sonho do meu pai, mas eu não estou aqui para realizar o sonho de outras pessoas, e depois de todo esse tempo na prisão resolvi iniciar na universidade: engenharia de software, como sempre quis, por mim, unicamente por mim.

Após ralar para poder fazer o vestibular, passei com uma das melhores pontuações e começaria em uma semana na universidade de Paris.
Desço as escadas bem largado, encontrando minha mãe sentada na cozinha tomando café. Dou um beijo nela e me junto à mesa...