Capítulo 37

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Nathan

Ainda não consigo entender a fragilidade que a vida possui, num dia você está lá em cima, radiante, sente que nada pode te abalar independente das circunstâncias. Mas aí leva um balde de água fria quando vê tudo desmoronando aos poucos.

Erika estava sumida enquanto meu pai esteve aqui, mas foi só ele voltar à Nova York que ela resolveu dar a caras, despejar as mentiras e hipocrisias, que não sei se ela mesma acredita.

Discutimos feio, eu nunca havia gritado com ela, mas não pude evitar, eu não conseguia ver de forma alguma a mulher que ajudou a me criar e tentou me ajudar a ser inocentado, eu só via a pessoa que causou se não todos, a maior parte dos meus traumas e que por razões que eu não acredito serem plausíveis, despedaçou minha família.

O medo da traição, do abandono, da rejeição, de ser insuficiente... esses medos que quando você é criança parecem bobos, mas a medida em que você cresce vão se instaurando, impedindo que você construa relações saudáveis, que permita que pessoas se aproximem e que você se sinta digno de qualquer coisa além de pena.

Eu só conseguia enxergar a mulher tóxica que se infiltrou na nossa vida e conseguiu destruir tudo. 

Posso estar sendo um idiota, que não entende o problema que ela tem e não está se esforçando para entender, o que me faz sentir uma culpa imensa, que dói, mas agora, estou magoado demais para tentar entender o lado dela.

Minha mãe, apesar da irritação, ainda consegue falar com ela normalmente, o que não entra na minha cabeça. Fico muito intrigado quando vejo Erika interagindo conosco como se não tivesse feito nada, como se não soubesse do que falamos e ela não estivesse ciente de nada. O fato dela parecer chocada a cada coisa que eu dizia só contribuía para que eu ficasse cada vez mais irritado, tendo a necessidade da interferência da minha mãe.

Saí de casa naquela noite e vim direto para o meu lugar, dessa vez não pude evitar de me afastar de todos, mas avisei ao Johna e à Julles que precisava de um tempo, porque estava com problemas pessoais, estava mal-humorado e não queria ser um troglodita com ninguém.

Insisti com minha mãe que deveríamos internar Erika o mais rápido possível, mas ela não consegue, diz que pode mantê-la sob controle e que ela está “bem” agora. Mas só consigo me perguntar até quando.

Minha mãe é uma profissional excepcional, consciente, responsável, mas quando se trata de um problema dela... ela age como uma pessoa comum, sem estudo, que pensa que pode solucionar tudo com carinho. Isso foi demais para minha cabeça e não tem porque criar problemas com ela também, então preferi dar um tempo.

Eu devia me encontrar com a Anne hoje de manhã, tive uma ou duas conversas com a loira e combinamos de nos encontrar num espaço de um amigo do pai dela, para eu poder ajudar com a raiva.

Não deixo de pensar que isso é muito bom, vai ajudar a construir uma ponte entre nós, quem sabe uma amizade e isso fará bem a todos nós, incluindo Julles. Mas antes de tudo eu precisava saber pelo menos um pouco da pessoa que eu ia ajudar, afinal não queria ensinar a alguém algo “arriscado” para que ela destruísse meio mundo, mas surpreendentemente eu estava certo sobre o que havia pensado.

Ela tem traumas familiares, sente falta da mãe e tem dificuldade para lidar com situações que fogem ao controle dela. O gatilho dela é simples, para perder a cabeça ela passa por um processo, primeiro imagina a mãe, a falta que ela faz e como queria poder compartilhar algo avulso com ela, seguido de uma situação que ela não pode conter, como uma respiração muito rápida, ou inquietação na perna, o que a faz se mover e isso de alguma forma vai liberando descargas energéticas, que acabam por culminar numa explosão violenta.

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