Campina Grande, dias atuais. 2013.
Casa dos pais de Rodolffo.
Vera estava sentada em sua mesa de trabalho e retirou o óculos do rosto e enxugou suas lágrimas.
Juarez viu aquilo e não entendeu por qual motivo sua esposa estava chorando.
Juarez: o quê foi?
Vera: eu vi a Juliette hoje. - ela disse ainda secando as lágrimas.
Juarez: foi mesmo. E ela?
Vera: nunca vai me perdoar. Ela claramente me odeia. Até mudou de caminho quando me viu e nem fez questão de disfarçar.
Juarez: infelizmente Vera, estamos colhendo o quê plantamos. Eu me sinto um péssimo pai quando lembro do passado. Nós não devíamos ter empurrado o Rodolffo, praticamente na marra, para São Paulo. Ele me implorou para não ir um dia antes de partir.
Vera: eu sei Juarez, mas na época eu julguei que eles estavam indo muito rápido. Meu filho era um jovem e queria por que queria casar. Ele era muito imaturo e estava se tornando inconsequente. Tive que trocar as fechaduras de casa para evitar as fulgas noturnas para a casa do Lourival.
Juarez: coisa que não adiantou de nada... Por que ele conseguiu ir pra lá todas as vezes que queria. Você sempre subestimou o seu filho.
Vera: e você como pai era negligente. Deixava ele correr frouxo. Juarez, eu encontrei um teste de gravidez nas coisas de Rodolffo. Ele tinha apenas 19 anos na época. Alguém tinha que tentar tomar medidas.
Juarez: não adiantou de nada as suas medidas, nem tentar impedir dele ir atrás dela, só serviu para ele ficar com raiva de você.
Vera: eu sei... Mas imagina se ele tivesse sido pai tão jovem? O quê teria sido da vida dele?
Juarez: ele teria sido feliz, de certo. Coisa que ele nunca mais conseguiu ser. Nós temos a culpa de ter roubado o futuro do nosso filho. Temos culpa por ele e a Juliette terem se perdido. Temos culpa em cima de todo sofrimento que ele passou e muito mais por ele nunca ter tido condições de voltar para nos visitar. Falhamos Vera, e não foi pouco.
Vera: eu sei. Só queria que um dia eles se reencontrassem de novo, por isso criei aquele convite e enviei para ele.
Juarez: mas não adiantou de nada. Acho que Rodolffo a esqueceu e ela também.
Vera: não... Ele ainda gosta dessa moça, nunca vai esquecer ela. E ela, fiquei sabendo que não vai mais se casar.
Juarez: eu nunca entendi muito esse noivado... Eles nem namoraram... É muito estranho.
Vera: Juliette sempre foi muito devota e envolvida em causas da igreja. Em um evento, ela conheceu esse rapaz que é um ex seminarista. Nesse encontro ele por ser um rapaz de fé lhe falou de uma espécie de revelação. Que Deus havia revelado para ele o casamento deles e coisas desse tipo, até hoje não sei por que ela embarcou nisso por que é uma verdadeira loucura.
Juarez: coitada. Ela só é uma moça sonhadora. Rodolffo sempre me falou do quanto eles desejavam casar e ter filhos. Acho que a gente teve total responsabilidade disso não ter se tornado real.
Vera: com o convite, eu jurava que Rodolffo voltaria. Mas até agora nada. Apesar de Juliette me odiar, eu não tenho nenhum sentimento ruim por ela. Sempre gostei dela, só fiz o quê fiz tentando buscar o melhor para eles.
Juarez: espero que um dia ela nos perdoe. Ainda me lembro bem dela chorando em minha frente dizendo que eu o escravizava e que me aproveitava do bom coração de Rodolffo. Ela foi dura, mas não digo que foi mentirosa. Dava para ver todo o seu desgosto.
Vera: me dói saber tudo que ele passou em terras paulistas. Seu irmão não vale nada. Nos prometeu uma coisa e depois fez tudo errado com o menino. Não duvido que tenha dedo dele no arrombamento do apartamento do Rodolffo. Ainda deixou meu filho desempregado.
Juarez: quase perdemos ele. Foi por tão pouco. - ele disse sentindo o peso das palavras.
Vera: meu Deus... Nos perdoe.
Eles seguiram relembrando fatos e momentos, mas sempre consumidos pelo remorso. Vera e Juarez eram bons pais, mas o fato de terem agido daquela forma com Rodolffo, os faziam pessoas culpadas pelas sequências de coisas tristes que aconteceram na vida do filho.
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