Capítulo 31: A conversa

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Acordei com a enfermeira mexendo no meu acesso. Era real. Ele estava ali do meu lado e tinha os olhos tristes e angustiados.

Rodolffo: já vão liberar ela?

Enfermeira: ela está ótima. Não é mesmo querida ou você sente algo a mais?

Juliette: eu estou bem.

Enfermeira: tenta se alimentar. Você teve uma queda de pressão e por isso ficou tanto tempo apagada.

Juliette: eu mal comi hoje, deve ter sido por isso.

Rodolffo: e se ela tiver esse desmaio de novo?

Enfermeira: fique tranquilo meu jovem. Agora ela ficará bem. Tu tem sorte de ter um amigo tão preocupado, ele chegou alarmado na emergência, trazendo você nos braços. - a enfermeira deu uma piscada para mim e eu sorri fraco.

Eu estava de alta da observação e Rodolffo me ajudou a sair da cama. Eu ainda me sentia um pouco zonza.

Seus braços fortes me envolveram e eu senti um arrepio no corpo. Era ele mesmo, mas estava muito diferente do meu Rodolffo de antes. Ele era um lindo homem e eu senti o quanto ainda nutria sentimentos por ele. Mas o tempo passou, talvez o meu antigo Rodolffo não existia mais.

Rodolffo: Julie, tu se sente bem mesmo? - ele falou pegando no meu queixo.

Juliette: sim... Eu estou bem. Só sinto um pouco de fome.

Rodolffo: nós vamos resolver isso, tudo bem?

Juliette: sim...

Ele foi pegado comigo até o carro. E me levou para uma lanchonete ali perto. Eu comi e me senti revigorada, mas nossa conversa ainda era mínima.

Eu ficava olhando pra ele e incrivelmente eu o via com o mesmo jeitinho de antes. Ele deu um lanche a um rapaz de rua e eu percebi que ali ainda estava o meu Rodolffo e o seu enorme coração.

Juliette: Rodolffo, isso em suas mãos, são cicatrizes de queimadura?

Ele me olhou triste e eu percebi que era um assunto que o tocava.

Rodolffo: sim. São cicatrizes de queimadura. Mas aqui é só o início. Eu tive mais de 40% do corpo queimado.

Eu levei a mão a boca.

Juliette: meu Deus Rodolffo.

Rodolffo: não fique assim. Eu estou bem hoje. Só me restou a cicatriz. - ele disse tocando a minha mão.

Juliette: tu ficou muito mal?

Rodolffo: sim... Eu estava consciente, mas meu estado era grave. Eu poderia ter morrido Julie.

Juliette: ah meu Deus. - desatei num choro, sendo abraçada por ele em seguida.

Rodolffo: calma.  Não fique assim. Eu te juro que superei.

Ele ainda tinha a mesma tranquilidade. O mesmo abraço de conforto e transmitia a mesma paz. Ele ainda era abrigo.

Juliette: eu quero que me conte tudo. Eu preciso saber de sua vida.

Rodolffo: eu vou contar. Mas não quero que seja aqui.

Juliette: eu vou pra onde tu me levar. Eu só preciso ouvir.

Rodolffo: posso te levar para a pousada? Eu vou ficar lá enquanto estiver aqui em Campina Grande. Te prometo que não vou tentar nada, só quero te contar as coisas.

Juliette: tá bom. Vamos então.

Ele acertou a conta e saímos rumo a pousada.

Lá pouca coisa se alterou e eu senti uma nostalgia imensa. Ele havia alugado o mesmo quarto, onde vivemos tantas coisas juntos, tantos momentos de entrega plena. Por anos não passava nem nessa rua, mas hoje a vida me trouxe novamente até aqui.

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