Acordei com a enfermeira mexendo no meu acesso. Era real. Ele estava ali do meu lado e tinha os olhos tristes e angustiados.
Rodolffo: já vão liberar ela?
Enfermeira: ela está ótima. Não é mesmo querida ou você sente algo a mais?
Juliette: eu estou bem.
Enfermeira: tenta se alimentar. Você teve uma queda de pressão e por isso ficou tanto tempo apagada.
Juliette: eu mal comi hoje, deve ter sido por isso.
Rodolffo: e se ela tiver esse desmaio de novo?
Enfermeira: fique tranquilo meu jovem. Agora ela ficará bem. Tu tem sorte de ter um amigo tão preocupado, ele chegou alarmado na emergência, trazendo você nos braços. - a enfermeira deu uma piscada para mim e eu sorri fraco.
Eu estava de alta da observação e Rodolffo me ajudou a sair da cama. Eu ainda me sentia um pouco zonza.
Seus braços fortes me envolveram e eu senti um arrepio no corpo. Era ele mesmo, mas estava muito diferente do meu Rodolffo de antes. Ele era um lindo homem e eu senti o quanto ainda nutria sentimentos por ele. Mas o tempo passou, talvez o meu antigo Rodolffo não existia mais.
Rodolffo: Julie, tu se sente bem mesmo? - ele falou pegando no meu queixo.
Juliette: sim... Eu estou bem. Só sinto um pouco de fome.
Rodolffo: nós vamos resolver isso, tudo bem?
Juliette: sim...
Ele foi pegado comigo até o carro. E me levou para uma lanchonete ali perto. Eu comi e me senti revigorada, mas nossa conversa ainda era mínima.
Eu ficava olhando pra ele e incrivelmente eu o via com o mesmo jeitinho de antes. Ele deu um lanche a um rapaz de rua e eu percebi que ali ainda estava o meu Rodolffo e o seu enorme coração.
Juliette: Rodolffo, isso em suas mãos, são cicatrizes de queimadura?
Ele me olhou triste e eu percebi que era um assunto que o tocava.
Rodolffo: sim. São cicatrizes de queimadura. Mas aqui é só o início. Eu tive mais de 40% do corpo queimado.
Eu levei a mão a boca.
Juliette: meu Deus Rodolffo.
Rodolffo: não fique assim. Eu estou bem hoje. Só me restou a cicatriz. - ele disse tocando a minha mão.
Juliette: tu ficou muito mal?
Rodolffo: sim... Eu estava consciente, mas meu estado era grave. Eu poderia ter morrido Julie.
Juliette: ah meu Deus. - desatei num choro, sendo abraçada por ele em seguida.
Rodolffo: calma. Não fique assim. Eu te juro que superei.
Ele ainda tinha a mesma tranquilidade. O mesmo abraço de conforto e transmitia a mesma paz. Ele ainda era abrigo.
Juliette: eu quero que me conte tudo. Eu preciso saber de sua vida.
Rodolffo: eu vou contar. Mas não quero que seja aqui.
Juliette: eu vou pra onde tu me levar. Eu só preciso ouvir.
Rodolffo: posso te levar para a pousada? Eu vou ficar lá enquanto estiver aqui em Campina Grande. Te prometo que não vou tentar nada, só quero te contar as coisas.
Juliette: tá bom. Vamos então.
Ele acertou a conta e saímos rumo a pousada.
Lá pouca coisa se alterou e eu senti uma nostalgia imensa. Ele havia alugado o mesmo quarto, onde vivemos tantas coisas juntos, tantos momentos de entrega plena. Por anos não passava nem nessa rua, mas hoje a vida me trouxe novamente até aqui.