Capítulo 25: Nem que eu quisesse

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Campina Grande, dias atuais, 2013.

Casa de Juliette.

Ela ainda morava na mesma casa, mas agora só com seu pai e sua mãe. Seus irmãos construíram família e ela foi a única que não fez o mesmo.

Aceitar o pedido de Daniel foi uma loucura. Ela nunca sentiu nada por ele além de piedade, ela sentia o mesmo por si própria. Juliette tinha pena de sua existência. Era estranho, mas não via sua vida de outra forma.

Talvez casar com Daniel seria a saída para ao menos ter algo que ela muito queria que eram seus filhos, mas como os faria sem sentir nada por aquele homem?

Juliette precisava estar envolvida para se entregar, sem isso não era possível e entre ela e Daniel nunca houve um beijo por que ela própria também nunca fez questão.

No seu coração ela sentia dor e saudades ao lembrar do amor que viveu. Ela tentou bloquear aquilo e seguir em frente, mas nunca foi capaz.  Ele prometeu lhe mandar cartas e nenhuma chegou até ela, era duro saber que seu amor foi embora, lhe prometendo voltar e nunca mais voltou.

Já faziam cinco anos de sua partida e ela só ficou com as lembranças daquele amor tão intenso e bonito, mas que no fundo não passou de um sonho. Se ela ao menos tivesse tido um filho dele, ela pensava que aquilo aplacaria a sua saudade. Mas, só lhe restou seu singelo colar de sol, que ela ainda tinha no pescoço.

Ela não conseguiu ter contato mais com sua família, principalmente com seus pais. Eles se transformaram contra ela e tiraram Rodolffo dela, ela tinha um rancor absurdo. A doença de Juarez sempre foi o motivo das chantagens mesquinhas deles perante Rodolffo. No dia que Juliette tentou alertar seu namorado, ele achou absurdo tudo aquilo, mas o afastamento dele da própria família dizia algumas coisas. Talvez com o tempo ele também abriu os olhos com relação aos próprios pais ou simplesmente, não voltou para não tê-la que dispensá-la, apesar que esse silêncio doeu muito mais.

Era duro e ela sabia de sua sina, ficaria sozinha. Não ia mais inventar loucuras. Um filho também não valeria a sua infelicidade ao lado de um homem que ela não amava. Sua vida já teve sofrimento demais para que ela arrume outro ainda pior.

...

No outro lado da rua. Casa dos pais de Rodolffo.

Ligação telefônica.

Izabella: irmão... Tu virá mesmo?

Rodolffo: sim, irei. Mas não diga a mãe.

Izabella: Rodolffo...

Rodolffo: Bella eu continuo fazendo a minha parte, não continuo? Mas não quero falar com a mãe e nem com o pai. Eu não os odeio, mesmo que eu quisesse, nunca conseguiria, porém pretendo me manter longe.

Izabella: eles sentem sua falta.

Rodolffo: mas tem o meu dinheiro, então isso é suficiente por hoje.

Izabella: não fale assim Rodolffo. Não seja tão severo. É pecado.

Rodolffo: tu acha mesmo que eu tô preocupado com pecados? Izabella, eu já penei tanto que se eu morresse seria um alívio.

Izabella: pelo o amor de Deus, nunca mais diga isso.

Rodolffo: eu tô vivendo no piloto automático irmã, igual as máquinas. Minha vida se acabou a cada dia que pisei nessa terra maldita.

Izabella: Juliette desistiu de casar. - a irmã tentou tranquilizar seu irmão que estava alterado.

Rodolffo: é o quê?

Izabella: isso que tu ouviu. Ela desistiu. E não sei por que te mandou um convite, só tu recebeu isso. Eles não enviaram a ninguém mais.

Rodolffo: ela quis me atingir. Deve me odiar Bella. Agora estou com medo de pisar aí.

Izabella: homi... Tenha fé. Ela tá solteira. Ainda tem tempo Rodolffo. Venha, por favor. Não desista sem lutar.

Rodolffo: eu vou. Ao menos preciso lhe pedir perdão. Mesmo que ela nunca tenha respondido a nenhuma carta minha. Eu sabia que ela estava chateada com minha partida, mas ela prometeu me esperar e eu achava que responder as cartas seria o mínimo, mas ela não fez.

Izabella: isso é tão estranho. Acho que ela nunca recebeu carta alguma. Um dia ela me disse que tu nunca deu notícias para ela. Ela tinha tanta esperança de você voltar. Coitada.

Rodolffo: será? Nunca pensei nisso. Irmã, guarde o meu segredo como sempre fizemos, em uma semana estou voltando a Paraíba. Assim que eu estiver embarcando eu te falo.

Izabella: tu vai vir de avião?

Rodolffo: sim... Vou voar irmã, mas não é a primeira vez que faço isso. Já fiz outras viagens.

Izabella: eu estou ansiosa para te ver meu lindo mano. Te amo muito.

Rodolffo: fique bem irmã. Até mais.

A ligação entre os irmãos foi encerrada e Izabella sentiu o coração feliz por que veria o irmão de novo. Mas ao mesmo tempo triste por que não poderia partilhar isso com seus pais.

...

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