Capítulo 35: Cara a cara

271 51 46
                                    

Rodolffo comia e conversava animado com sua irmã e seus pais os olhavam ali de fora sem serem notados, por algum tempo eles permaneceram ali tentando um melhor ângulo para verem seu filho.

Vera chorou no ombro do marido e lhe disse o quanto seu filho era um homem forte e bonito. Juarez estava impressionado com o fato de Rodolffo aparentemente ter dinheiro. Ele sabia que hoje seu filho tinha uma estabilidade melhor, mas não sabia que era tanto. Seus filhos almoçavam num restaurante caro e o velho se perguntou de onde seu filho tirava dinheiro para ostentar dessa forma. Já na cabeça de sua mãe não passava nenhuma dessas questões, ela só queria seu filho de volta.

Sem serem notados eles foram caminhando de volta pra casa. Era um longo caminho, mas eles preferiram assim.

Juarez chegou em casa um pouco cansado porém também estava satisfeito em ter visto o filho, já Vera só queria que ele estivesse em casa, como sempre foi, até aquele fatídico dia que ele partiu para longe dela. Foram anos sendo consumidos pela enorme culpa.

...

Na casa de Juliette do outro lado da rua.

Fátima dizia ao marido a grande novidade e Lourival absorvia as informações. Ele era um homem sério fechado e por vezes rude, porém amava Juliette, só Deus e ele sabe o quanto sofreu vendo a filha chorar de dia e de noite por aquele rapaz, ele gostava de Rodolffo, mas o achou péssimo por ter feito a filha dele sofrer.

Lourival foi quem recebeu as cartas que Rodolffo enviou a Juliette. Ele impediu que as cartas chegassem a ela e fez questão de passar nos correios diariamente. Mas Lourival não abriu uma carta sequer. Ele não queria ter piedade de quem fez sua filha chorar até quase desidratar. E ele também não queria que ele voltasse já que o julgou fraco e covarde de não se impor frente aos pais. Ele não era um homem, era um moleque, Lourival assim concluiu.

Os anos se passaram e ele não viu sua filha se envolver com ninguém. Isso o deixou triste e também a consciência de que ela não namorava por que esperava aquele fracote. Sua raiva só aumentava. Quando ela se propôs a casar com o ex candidato a padre ele achou uma loucura, mas de tudo não era mal por que em definitivo ela esqueceria quem a fez sofrer.

Ouvir que ele voltou fez Lourival ter vontade de acabar com a raça dele de vez.

Lourival deu um muro na mesa tamanha foi sua raiva.

Lourival: Juliette dormiu com ele ontem?

Fátima vendo o marido alterado não respondeu, só silenciou. 

Lourival: onde ela tá agora? Com ele?

Fátima: está no salão. Homem pelo o amor que tu tem a sua filha não tente nada.

Lourival: será que minha filha não tem amor próprio? Fazem cinco anos. Ele vai brincar com ela de novo.

Fátima: se acalme. Tenha confiança na sua filha.

Lourival: se ele fizer ela chorar de novo, ele pode ter escapado de tudo na vida, mas de mim ele não escapa Fátima e esteja avisada.

Juliette chegou naquele momento em casa e escutou um pouco da discussão.

Juliette: está dando pra ouvir lá da rua. O que está acontecendo?

Lourival: o filho do Juarez voltou... Foi isso que aconteceu. -  ele falou olhando diretamente para ela.

Juliette: pai... - ela tentou começar a falar com ele.

Lourival: não quero ele aqui. - ele disse de uma vez.

Juliette: mas eu ainda moro aqui, essa casa ainda é minha. Então ele virá aqui sim por que eu o amo.

Lourival: tu não se lembra do seu sofrimento? Foi só ver ele que tudo passou? Não é possível ser tão burra assim.

Juliette: ele não fez por mal. Rodolffo sofreu muito e não recebi nenhuma carta que ele mandou. A vida foi muito injusta com a gente.

Lourival ouviu aquilo e sentiu o peso da consciência depois de tanto tempo, mas não recuou.

Lourival: se ele fizer você chorar de novo ou te abandonar, eu vou matar ele, fique sabendo.

Juliette ficou horrorizada.

Juliette: pai pelo o amor de Deus. Não diga uma coisa dessas.

Lourival: eu digo por que quem viveu sua dor não foi apenas você, tua mãe e eu também vivemos. Juliette tu baixou hospital, não comia e nem bebia, acha que é brincadeira? Não minha filha, não é. Espero que tenha falado da sua dor pra ele também, e não só ouvido sobre a dor dele.

Lourival saiu de casa e não quis mais conversas. Subiu na sua moto e partiu para oficina novamente, sem ter ao menos almoçado. Foi quando ele viu o quê acreditou ser Rodolffo, abraçado a irmã ali perto de onde moravam.

Ao estacionar a moto ele teve certeza. Ele estava diferente, mas era ele. Lourival não exitou e foi ao seu encontro. Izabella já caminhava para casa e Rodolffo ia entrar no carro.

Lourival: ei rapaz... Espere.

Rodolffo virou imediatamente e reconheceu o pai de Juliette.

Rodolffo: seu Lourival. - ele ia lhe cumprimentar.

Lourival: não precisa se dá ao trabalho de me extender a mão. Eu só quero que me ouça.

Rodolffo: pode falar. - disse sério.

Lourival: não quero minha filha com você por que te acho um fraco e capacho dos seus pais e quero que saiba que fui eu quem recebi todas as cartas que mandou para Juliette.

Rodolffo: o senhor foi capaz...

Lourival: sim fui capaz e te digo que infelizmente não tenho o poder de impedir que ela goste de ti e nem que escolha ficar contigo, mas se tu ousar em abandonar Juliette de novo ou fazer ela chorar, não importa do que tu escapou na vida, de mim tu não escapará.

Rodolffo: está me ameaçando?

Lourival: isso é um aviso. Mas se não for homem desta vez não terá mais tempo de ser.

Lourival saiu e logo ligou a moto em disparada. Rodolffo entendeu a sua mágoa e não ficou com raiva por que ele sabia que no fundo quando ele o chamou de fraco não era uma mentira. Ele foi fraco e manipulado naquela época. Mas agora ele era outro e provaria isso a quem tivesse olhos para ver.

...

Continua.

O conviteOnde histórias criam vida. Descubra agora