Acordo

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Ainda me lembro como se fosse ontem, a primeira vez que ouvi sobre o oceano. Foi nos primeiros dias em que o décimo quarto esquadrão chegou ao reconhecimento. Eu e mais alguns soldados perguntamos sobre suas motivações para ingressarem na tropa, e Armin foi um dos primeiros a responder.

Ele estava ali pelo Eren, mas também porque sonhava em sair das muralhas, ele falava sempre sobre um lago gigante de água salgada, que nenhum mercador conseguiria secar em sua vida inteira. Armin garantia isso com sua vida, mesmo nunca tendo visto de verdade o mar.

- Se você estivesse aqui comigo, tenho certeza que estaria feliz! – comento em voz alta – Armin, você sempre teve razão...

Abraço os joelhos enquanto vejo o sol nascendo por de trás das muralhas. Tenho certeza que estar aqui é um erro, mas se tenho alguma chance de me encontrar com Reiner, é essa!

Eu não tenho nada a falar com ele, mas desejo descobrir mais sobre a verdade por trás deste mundo... Não, a única verdade, é que estou exausta mentalmente, as coisas não têm sido fáceis e a discussão que tive com História e Levi não me ajudou em nada, só piorou essa sensação agonizante.

Aquilo que falei para o Levi... Já estava com raiva de mim mesma por mágoa a História, mas o que disse ao capitão foi muito pior. Eu não queria ter dito aquelas coisas...

Sinceramente, seria bem mais fácil se eu nunca mais voltasse, se por ironia do destino, Reiner me matasse em quanto estou com a guarda baixa..., mas pelo pouco que me lembro dele, duvido que Reiner faria algo assim. Esse é o tipo de coisa que combina mais comigo.

[...]

Acabo esperando por horas, mas pelo que parece não há sinal de vida humana aqui fora.

Eu estava com tanto ódio que agi por impulso, roubei equipamento extra do quartel, fui a cavalo até a muralha externa de Trost, agredi alguns soldados da guarnição e subornei outros para me ajudarem com o elevador.

Infelizmente meu cavalo não sobreviveu muito além, antes de chegarmos a metade do território da muralha Maria alguns titãs puros me emboscaram e eu não pude proteger o pobre animal... Chegar até Shinganshina não foi fácil, ir além dela então foi quase impossível.

Mas aqui estou eu, pela primeira vez em frente a oceano. Retiro meu equipamento o deixando sobre a muralha de pedra. Tem uma escadaria longa que vai do topo da muralha até chegar a enseada.

O mar é realmente lindo, pela primeira vez pude tocar naquela enorme superfície de água salgada, as vezes passava entre meus pés algo pequeno e à primeira vista duro, mas que se quebrava facilmente, pego algumas em mãos e percebo que pareciam carapaças calcificadas.

Contínuo caminhando e percebo que mesmo não estando tão longe da areia, a altura da água já batia no meu peito, as ondas me puxariam para o fundo se conseguissem. Poder ver o mar de tão perto me faz lembrar de algo que estava escrito nos diários de Grisha Yeager.

"...os navios a vapor e tudo o que aqueles soldados levavam consigo... Todos os traços que eles existiram algum dia nesta ilha... Desapareceram, envolvidos pelo oceano."

Tudo pode ser engolindo pelo oceano e então desaparecer, como se nunca tivesse existido. Exatamente tudo, até mesmo essa dor que sinto...

Mesmo que muitos colegas já tenham me chamado dessa forma, nunca me vi como uma alguém suicida, mas pensando claramente agora, como soldado eu sempre estive preparada para minha morte, infelizmente ela não veio pelas mãos dos titãs como sempre imaginei que seria.

Mas tudo bem, eu pude ir mais longe que qualquer um nos últimos cem anos, tive uma boa vida (na maior parte do tempo), conheci pessoas maravilhosas e me apaixonei (mais de uma vez) ... Porém amar, acredito que tenha sido apenas o capitão.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora