Amor Mútuo

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Como era previsto, precisei retornar a Paradis pouco tempo depois de nossa partida. Levi e Aurora permaneceram no continente com Hange e Onyankopon, dedicados à reconstrução da vida dos sobreviventes do estrondo. Levi enviava cartas quase todos os dias, mantendo-me atualizada sobre suas atividades e o bem-estar de nossa filha. Eu, por minha vez, me empenhava em concluir minhas tarefas o mais rápido possível para poder me reunir com minha família.

Com o passar dos meses, o tempo pareceu voar, e finalmente chegou o momento tão aguardado das minhas merecidas férias. Durante esse período, confiei a segurança de Paradis a pessoas leais dentro do exército, indivíduos em quem eu podia confiar plenamente. Essa equipe dedicada garantiria que tudo funcionasse sem problemas na minha ausência, permitindo-me desfrutar de um merecido descanso.

Conforme combinado, um navio familiar atracou no porto para me levar ao continente. Confiante na tripulação conhecida, optei por permanecer na minha cabine durante toda a viagem. As horas passaram tranquilamente, aproveitando o tempo entre uma leitura e outra. Com o avançar do dia, a noite se ergueu majestosa, e pela pequena janela da embarcação, contemplava a lua brilhante que adornava o céu negro, em uma cena de serena beleza.

Levantei-me, um tanto surpresa com as três batidas na porta da minha cabine. Estranhando a falta de comunicação, aproximei-me da porta e a abri cautelosamente, observando o corredor vazio do navio diante de mim. A ausência de qualquer presença humana aumentou minha sensação de inquietação, e meus instintos alertaram para a possibilidade de algo estar errado.

Avancei pelo corredor em silêncio, onde apenas o eco dos meus passos competia com o som das ondas batendo contra o casco do navio. Ao subir a escadaria de ferro em direção à proa, o vento forte logo começou a desarrumar meus cabelos. O ambiente estava escuro e deserto, nenhum sinal dos marinheiros a bordo. No entanto, algo chamou minha atenção: o delicioso aroma de comida que permeava o ar. Instintivamente, segui o cheiro até chegar ao seu destino.

Com cuidado, girei a maçaneta da porta da cabine do deck superior, abrindo-a lentamente apenas o suficiente para espiar lá dentro. Fiquei surpresa ao me deparar com uma cena encantadora: uma mesa pequena e redonda estava decorada com uma toalha branca imaculada, cercada por louças de porcelana em tons de branco e azul, e taças de cristal reluzentes. Ao redor, candelabros de cobre iluminavam o ambiente com a suave luz das velas, criando uma atmosfera reconfortante e acolhedora. Um sorriso discreto escapou dos meus lábios ao imaginar que aquilo devia ser algum tipo de encontro improvisado entre os marinheiros.

Com um suspiro resignado, soltei a maçaneta, deixando a porta da cabine se fechar suavemente. Virei-me para sair, mas fui surpreendida pelos refletores brilhantes do navio, que momentaneamente ofuscaram minha visão. Semi-cerrei os olhos e ergui uma mão para proteger meu rosto da intensa luz.

Com o tempo, minha visão se acostumou à intensa iluminação, e por entre os dedos que protegiam meu rosto, pude distinguir os sapatos sociais masculinos pretos sobre o piso de madeira do convés. Retirei minha mão lentamente do rosto, observando o homem diante de mim. Sua calça combinava perfeitamente com os sapatos pretos, enquanto sua camisa social branca, impecavelmente alinhada e abotoada, conferia-lhe uma elegância refinada. Cada detalhe de sua roupa parecia cuidadosamente planejado, desde as dobras milimetricamente passadas até a gola impecavelmente engomada.

Seus olhos, embora discretos, irradiavam um certo ceticismo e embaraço. Percebi que ele aguardava pacientemente minha reação, como se estivesse ciente de que sua presença inesperada poderia me surpreender. Sob a iluminação do ambiente, seu rosto estava completamente visível, revelando uma expressão serena e contida, que agora se suavizava em um pequeno sorriso nos cantos dos lábios.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora