História De Terror

106 9 0
                                    

Desde que me entendo por gente, sempre me disseram que eu era diferente dos outros. Dizia-se que eu tinha uma "doença". Lembro-me de uma velha curandeira que proferiu uma vez que a "casca" podia ser bonita por fora, mas que eu era seca por dentro. Acho que nunca me preocupei com isso, com a ideia de construir uma "família". Talvez seja por isso que a idealização de pudor nunca foi o meu forte.

Fui moldado por essas palavras e, em vez de buscar a aprovação dos outros, acabei abraçando minha singularidade. O que outros viam como fraqueza, eu via como força. Não me importava com convenções ou normas sociais. Viver uma vida autêntica era mais importante para mim do que qualquer fachada de respeitabilidade.

Ao longo dos anos, encontrei o reconhecimento, pessoas que também eram "diferentes", cada uma à sua maneira. Juntos, formamos nosso próprio tipo de família, baseada na aceitação mútua e no respeito pela individualidade. E, para mim, essa foi a verdadeira cura, a cura que a velha curandeira nunca poderia compreender.

Ainda assim, sempre pensei comigo mesma que, nesta vida, eu não teria nada para levar e nada para deixar quando partisse. Portanto, sentia que era minha obrigação me divertir de todas as maneiras possíveis. A ideia de acumular riquezas materiais e bens nunca me atraiu. Em vez disso, meu objetivo era coletar experiências e memórias.

Assim, passei meus dias buscando aventuras, explorando lugares, conhecendo pessoas e mergulhando de cabeça em cada oportunidade que surgia. Cada risada, cada história compartilhada e cada pôr do sol admirado eram minhas pequenas conquistas, minhas preciosas lembranças. Era assim que eu preenchia minha vida, com a beleza dos momentos e a profundidade das conexões humanas.

As crenças que sustentavam meu mundo ruíram, deixando-me em um abismo de incertezas e medo. Tudo o que acreditei minha vida inteira se foi há mais de quatro meses, todo meu conceito de vida se esfarelou de um dia para o outro, escorreu entre meus dedos e agora me sinto perdida.

Como resultado, tomei decisões difíceis, afastando-me daqueles que me eram mais queridos. Abandonei meus amigos, desertei do reconhecimento, tudo porque estou com medo. O medo de ser um fardo para eles foi avassalador.

Em especial, minha relação com Levi. Não queria que ele descobrisse sobre isso, não conseguiria suportar encará-lo. Ele era meu porto seguro, e a ideia de deixá-lo ver meu sofrimento me aterrorizava. Evitar o confronto com meus medos era mais fácil do que enfrentar a possibilidade de decepcioná-lo ou ser rejeitada. Mesmo que tenha agido por amor, agora me sinto cada vez mais isolada, presa em meu próprio silêncio.

O medo e a frustração se transformaram em fúria depois que estava totalmente sozinha no mundo exterior, achei que não teria problema continuar a correr riscos e colocar minha vida a prova, afinal, não existia um final pior do que aquele a que eu estava destinada.

Ataquei bases militares por todo o continente, não apenas as de Marley. Eu tentei mesmo ajudar as pessoas que precisavam, ou talvez fosse apenas uma desculpa para ter uma morte digna. Minhas ações eram impulsivas, motivadas pelo desejo de desafiar meu destino sombrio e, de certa forma, redimir-me do isolamento e da desesperança que me cercavam.

Eu sou uma má pessoa, não sou? Aquela garota, a Luz, ela não tem nada a ver com o meu mundo, mas eu me lembrei dela, lembrei de tê-la visto em minhas visões, e por isso a fiz deixar sua família, seu povo, sua nação, tudo para me seguir em uma jornada estúpida que irá acabar em breve, com a minha morte ou com os acontecimentos do estrondo.

Sinto o peso da culpa sobre os meus ombros, por ter arrastado alguém inocente para o turbilhão dos meus problemas. Luz merecia uma vida tranquila e feliz, longe das sombras que me cercam. No entanto, minhas próprias incertezas me levaram a envolvê-la em um destino incerto.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora