O Garoto Dentro Do Muro

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O crepúsculo derramava suas cores alaranjadas pelo céu quando me encontrei no meu esconderijo secreto, longe de olhos curiosos. A brisa suave acariciava meu rosto enquanto eu me preparava para mais uma sessão de treinamento. Aquela sensação de liberdade e poder pulsando em minhas veias era revitalizante.

Desde o nascimento de minha filha, me afundei novamente na rotina diária. Fraldas e mamadeiras substituíram as batalhas e confrontos, mas a necessidade de me manter afiada nunca desapareceu. Eu tinha responsabilidades, mas não podia ignorar minha verdadeira natureza, a herança do cristal de Ymir, meus poderes extraordinários.

A senhora Kiyomi havia enviado uma encomenda que aguardava pacientemente. Meu DMT e o combustível produzido à base de ice blast stone estavam lá, ao lado do meu uniforme de reconhecimento, modificado para atender às minhas necessidades específicas.

Ao vestir o uniforme, senti a familiaridade confortável daquele tecido especial contra minha pele. Era um lembrete constante de quem eu era. A cada ajuste nas tiras de segurança, eu me reconectava com meu propósito, relembrando os juramentos feitos à tropa de exploração no dia do meu ingresso e àqueles que confiaram em mim.

Nos treinamentos, canalizava minha energia como nunca antes. Os poderes que por um tempo estiveram adormecidos, agora fluíam através de mim com uma intensidade renovada. Cada movimento era preciso, cada respiração era calculada. Não havia espaço para erro. A rotina diária podia ter me trazido uma falsa sensação de normalidade, mas agora, eu me sentia mais viva do que nunca.

Nos últimos dois meses, Zeke esteve distante, totalmente imerso na conclusão da guerra em Marley. A correspondência entre nós se manteve através de cartas, mas mesmo quando ele compartilhava detalhes sobre a batalha, eu conseguia perceber que o real interesse do loiro estava em relação a mim e, surpreendentemente, a Rory, nossa recém-nascida. Fiquei impressionada com o imenso apego que Zeke criou instantaneamente pela pequena. Em algumas de suas mensagens, ele já usava o termo "nossa filha" para se referir a Rory. No começo, isso me incomodava, mas com o passar dos dias, acabei me acostumando.

Afinal, foi uma escolha minha aquele dia.

"— Como pretendem chamá-la? — a médica perguntou, trazendo-me de volta ao momento presente.

— Chame-a de Rory — sugeri, meu sorriso revelando ternura por uma lembrança distante.

— Rory...? — Zeke repetiu o nome, aparentemente confuso.

— Diminutivo de Aurora — expliquei emotiva.

— É um lindo nome. Então, a criança receberá apenas o nome do pai, ou a senhora também gostaria de usar o seu? — a médica questionou, destacando a dualidade da decisão.

— Não. Apenas o da minha esposa — o loiro respondeu, ecoando a decisão que tomamos no dia em que nos casamos. A médica ficou surpresa, e sua expressão não era muito favorável.

— Infelizmente, isso não será possível... — ela começou a dizer, deixando um rastro de incerteza no ar.

Meu olhar se encontrou com o de Zeke, e pude perceber a confusão refletida em seus olhos. Aquela não era a resposta que esperávamos. Um silêncio tenso pairou na sala enquanto aguardávamos pela explicação que viria em seguida.

— As leis aqui não permitem que uma criança seja registrada apenas com o sobrenome da mãe. É necessário o registro com o nome do pai ou, no mínimo, com ambos os sobrenomes. — A médica explicou com uma voz cuidadosa, talvez antecipando a possível frustração que poderíamos sentir.

Eu não queria dar o sobrenome sujo da família real a ela, não desejava que Aurora tivesse qualquer contato ou ligação com os Reiss. O mais correto, considerando a genética predominante de seu pai, seria dar a ela o nome Ackerman. No entanto, eu sabia que dizer isso na frente do Zeke não seria a melhor ideia, dado o relacionamento conflituoso que o loiro tinha com Levi.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora