Amanhecer Para A Humanidade

66 8 6
                                    


Me afastei do grupo, necessitando de um momento para respirar. O peso das palavras que proferi, especialmente para Hange, era sufocante. Odiava-me por ter lançado aquelas palavras carregadas de frieza e desapego.

Caminhando pela escuridão, as lembranças da expressão de Hange atormentavam meus pensamentos. O pesar e a desilusão eram visíveis em seus olhos, e eu sabia o quanto aquelas palavras haviam aferroado a líder, alguém que já se comparava constantemente ao legado de Erwin. Sentia o arrependimento me corroer, mas sabia que não havia como voltar atrás.

Não demorou para que as vozes alteradas ecoassem novamente da fogueira. Decidi levantar-me e caminhar até o local, observando-os de longe. Ao perceber que eram Reiner e Jean, optei por não interferir. Era evidente que reunir um grupo de desajustados, cada um com suas diferenças a acertar, resultaria em conflitos inevitáveis.

Continuei caminhando pela escuridão, percebendo que as vozes haviam se acalmado. A pouco mais de sete metros de distância, notei outra pessoa também se afastando em busca da solidão da floresta.

Ao aproximar-me da figura solitária na escuridão, percebi que era Jean. Conhecendo-o há algum tempo, sabia que ele sofria com ataques de pânico. Decidi não interferir e deixá-lo sozinho, compreendendo que ele poderia se beneficiar desse momento de reflexão. Às vezes, a solidão oferece uma clareza que o agito do grupo não pode proporcionar.

Concluí que, pela manhã, quando todos acordassem, Jean estaria em melhores condições para enfrentar as decisões difíceis que se avizinhavam. Respeitando seu espaço, continuei meu caminho na escuridão, deixando-o imerso em seus próprios pensamentos.

Após horas desde a discussão com o restante do esquadrão, retornei para junto de Levi, que parecia dormir tranquilamente. A atmosfera tensa ainda pairava na clareira, e eu não tive coragem de me dirigir ao restante do grupo. O peso das palavras trocadas continuava a reverberar em minha mente, tornando difícil enfrentar os olhares julgadores e as emoções à flor da pele.

Optei por permanecer ao lado de Levi, refletindo sobre as escolhas feitas e as consequências inevitáveis que se aproximavam. A noite prosseguia, silenciosa e carregada de incertezas.

— Não acho que qualquer um deles esteja concordando com esse genocídio... — ouço o murmúrio de Levi. Encaro os outros por alguns segundos, tendo certeza de que estavam dormindo — Acha que foi para isso que eles entregaram seus corações?

— Sinceramente, nem eu e nem você temos o direito de dizer o que os mortos querem. — Minha resposta era carregada de uma verdade amarga, refletindo sobre as decisões tomadas pelos que já se foram e as incertezas que pairavam sobre o futuro. O silêncio da noite permanecia, cúmplice das dúvidas e angústias que nos envolviam.

— Realmente quer se tornar covarde e carregar o peso de tantas mortes? Não acho que Aurora se orgulharia de você neste caso, e eu também não... O que sempre admirei em você foi sua coragem, S/n. — A voz de Levi, mesmo sussurrada, carregava uma mistura de desafio e decepção.

O impacto das palavras de Levi penetrou fundo, revelando as fissuras que minhas escolhas haviam causado na percepção que ele tinha de mim. A responsabilidade pesava em meus ombros, e a decisão entre coragem e desespero tornou-se mais evidente do que nunca.

— "Algumas vidas dentro do Reconhecimento valem mais que outras. Apenas os idiotas o bastante para reconhecerem isso se juntam a nós" — repeti a ele uma frase que ouvi há muito tempo — Todos os nossos companheiros que caíram tiveram a liberdade de poder escolher a própria morte, o próprio destino, oferecendo seus corações para proteger as pessoas que amavam ou para garantir a salvação da humanidade.

Freedom Wings - Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora