Capítulo 22

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Pov Autora

— Jenna, você já tem um advogado? — perguntou Kit, olhando para Jenna, que parecia pensativa — Se você quiser, posso indicar alguém.

— Bom, o advogado da empresa está fora da cidade. De qualquer forma, eu precisaria de outro advogado — respondeu Jenna.

— Vou ligar para uma conhecida minha. Ela trabalha em um escritório de advocacia — disse Kit, pegando seu celular — Ela quer nos encontrar no escritório ainda hoje. Você está disponível? — perguntou Kit a Jenna após a ligação.

— Sim, em que horário vamos nos encontrar?

— Depois do almoço. Ligue para a Ally — disse Kit, voltando sua atenção para o seu notebook.

Pov Emma

Verifiquei a hora no meu celular e vi que já eram 12:30. Finalmente, teria um momento para descansar. Enquanto terminava de organizar os papéis na minha mesa, ouvi uma batida na porta. Eu disse um "Pode entrar", levantando o olhar. Era minha secretária, trazendo uma pilha de documentos para eu assinar.

— Sra. Myers, aqui estão os papéis que a senhora precisa assinar. E gostaria de saber se já posso sair para o almoço — ela entregou os documentos e me olhou com expectativa.

— Obrigada, sim, pode sair — respondi, voltando minha atenção para os papéis.

— Com licença, senhora — ela disse e saiu pela porta.

Respirei fundo e assinei o último papel da pilha que havia consumido toda a minha manhã. Precisava falar com Ethan. Peguei minha bolsa e saí da sala, ignorando os olhares curiosos dos meus colegas.

Encontrei um lugar tranquilo e liguei para Ethan. Ele atendeu com a voz baixa e abafada. Contou-me que havia desenhado um arco-íris na escola, brincado de massinha com os colegas e almoçado na casa dos avós. Sorri e tentei parecer interessada, mas algo me incomodava. Ele parecia triste e assustado. Será que havia sofrido bullying novamente? Será que aquela professora maldita tinha feito algo contra ele? Eu não sabia o que era, mas sentia uma angústia crescer no meu peito. Queria estar com ele, abraçá-lo e protegê-lo de qualquer mal. No entanto, estava presa no trabalho, longe do meu filho.

Estava quase terminando de assinar os papéis na minha sala quando ouvi uma batida na porta. Não respondi, pois sabia que era minha secretária. Ela sempre entrava sem esperar quando eu não dizia nada, pois sabia que eu estava de mau humor.

— Sra. Myers, tem um homem e duas mulheres esperando para falar com a senhora. Eles disseram que têm um horário marcado. O que devo fazer? — perguntou Laura, olhando para mim com expectativa. Suspirei, havia esquecido que Kit viria hoje.

— Mande-os entrar — respondi e ela saiu.

Pouco depois, ela retornou acompanhada por Kit e duas mulheres desconhecidas para mim. Kit entrou na frente, seguido por uma mulher loira de cabelos lisos que reconheci imediatamente. A outra mulher permaneceu mais afastada, e não consegui ver seu rosto antes que ela fechasse a porta.

— Que alegria encontrar vocês — disse, levantando-me e caminhando em direção a Kit e Ally.

— Emma, é bom te ver — cumprimentou-me Ally com um aperto de mão e um sorriso discreto.

— Também é bom te ver — respondi, me aproximando de Kit.

— Minha querida irmãzinha — Kit me abraçou com carinho e eu retribuí.

— Estava com muitas saudades.

— Eu também, Kit — soltei-me do abraço e olhei para a mulher que se mantinha afastada de nós.

Quando nossos olhares se cruzaram, senti um aperto no coração e soube que era ela. A mulher que amei e que se afastou de mim sem saber que estava grávida de três meses na época. A mulher que nunca conheceu nosso filho quase três anos, que criei sozinha. Nunca pensei que nos veríamos novamente, não sabia como lidar com a surpresa e a saudade que me invadiram. Ela estava ali na minha frente, com um sorriso confiante e uma expressão curiosa. Vestia-se elegantemente com roupas sociais e seu cabelo estava preso em um coque impecável. Fui até ela e ofereci a mão, que ela apertou com firmeza. Sua mão estava quente e seca.

— Vamos direto ao assunto — disse, soltando sua mão e voltando para minha mesa. Sentei-me em minha cadeira — Por favor, sentem-se.

Enquanto eles se acomodavam nas cadeiras à minha frente, não conseguia tirar os olhos dela. Parecia tão segura de si, bem-sucedida e feliz. Será que ela se arrependia de ter me deixado? Será que sentia minha falta? Será que poderia me perdoar por não ter contado sobre nosso filho? Sentia-me culpada por ter escondido a verdade dele sobre sua mãe.

— Emma, elas são as donas da empresa que mencionei — disse Kit, olhando para mim. Lancei um rápido olhar para as mulheres.

— Vocês podem me explicar o que está acontecendo?

— Descobrimos recentemente que alguém está desviando dinheiro de nossa empresa — respondeu Ally com um suspiro. Parecia que a empresa era muito importante para ela.

— E como posso ajudar?

— Precisamos de um bom advogado para estudar o caso de perto antes de enviarmos a carta ao tribunal — falou Kit dessa vez.

— Vou marcar uma reunião com especialistas nessa área e entrarei em contato com vocês —  disse, recostando-me na cadeira.

— Muito obrigada, Emma, por nos receber — agradeceu Kit, levantando-se junto com Ally e Jenna.

— Kit, preciso falar com você.

— Podem ir na frente, já vou para a empresa — Kit disse às duas mulheres presentes. Na verdade, ele estava falando com Ally, pois Jenna já havia saído da sala — Então, Emma, o que você quer?

— Por que não me contou que Jenna também é dona da empresa, Kit?

— Eu esqueci — respondeu, olhando-me confuso — Mas por que está tão preocupada agora?

— Não finja que não sabe, Kit. Você sabe muito bem do que estou falando — disse friamente. O tempo me tornou uma pessoa fria, e eu gostava disso. Gostava de saber que as pessoas tinham medo de mim, mas o que mais poderia fazer? As circunstâncias me tornaram uma mulher experiente e profissional no meu trabalho, e por isso as pessoas me viam como alguém poderosa nesse escritório.

— Emma, você mesma disse para deixar isso no passado. Por que trazer à tona agora? Seja profissional e faça seu trabalho, assim como eu faço o meu.

— Você me fez mais perguntas do que me respondeu — desviei o olhar dele — E como pode se dizer profissional? Será que esqueceu o que aconteceu há quatro anos? — Vi sua mandíbula se contrair.

— Por que lembrar disso agora?

— É exatamente o que estou te perguntando. Por que trazer alguém do passado para o meu presente?

— Mas eu não trouxe ninguém do passado para o seu presente! — elevou um pouco a voz — Você não entende que uma hora ou outra terá que contar a verdade? Não poderá esconder isso para sempre, Emma — sua voz ficava cada vez mais alterada — Você só está pensando em si mesma nessa história toda. E seu filho, hein? — senti meus olhos arderem, mas não pude fazer nada além de ouvir suas palavras cruéis — Se quer mantê-la distante, tudo bem, mas dele não pode. Isso não sou eu quem está dizendo, é o tempo. E ele vai te provar melhor do que eu — não disse mais nada, apenas se levantou e saiu da sala.

Quis chamá-lo para conversar novamente, mas dessa vez de forma civilizada, sem discussões. Mas não consegui. Não consegui fazer nada além de sentir as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Estava imóvel naquela sala. Mas sabia que ele tinha razão. Toda a razão. Não poderia esconder que ela era mãe do meu filho por muito mais tempo.

Mas só eu sabia o quanto me esforçava para ser a melhor mãe para ele. Estava bom assim. Eu era tudo o que ele precisava. Não precisava de outra mãe. Sua família era eu. O que mais ele precisava? Sei que ele queria ter a presença paterna, mesmo que ele não sabia que não tinha um pai, apenas outra mãe. Mas o que mais poderia fazer para esconder, eu faria. Mesmo que isso me trouxesse consequências graves no futuro, eu manteria tudo como estava agora: apenas eu e meu filho, como sempre foi. Ela não poderia saber que ele também era seu filho, e eu nunca permitiria que isso acontecesse.

Forever Us (Jemma)Onde histórias criam vida. Descubra agora