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16 de Setembro (oito meses depois)

            Não conseguia ver grande coisa por entre a multidão de jovens que me rodeava. Todos eles pareciam ansiosos pelo momento que os trouxera até aqui e, se eu não estivesse tão preocupada em tentar encontrar Ashton, acredito que também eu me encontraria num estado de êxtase devido à bonita noite que se tinha formado. A brisa era suave, porém, se estivéssemos atentos, conseguiríamos ouvir o calmante barulho que os ramos das árvores provocavam. Além disso, com um eclipse lunar a aproximar-se, o céu não poderia estar mais bonito.

            – Com licença, deixem passar. – pedi eu, tentando espremer o meu pequeno corpo no meio das pessoas que aguardavam o fenómeno astronómico.

            Estava preocupada com Ashton, que me havia deixado sozinha há cerca de dez minutos e ainda não tinha regressado. Ele tinha-me dito que se estava a sentir um pouco zonzo e, talvez para apanhar um pouco de ar, decidiu afastar-se do grupo. A verdade é que, durante a noite, no meio de uma floresta, várias coisas podem acontecer. Receei no momento em que ouvi o som dos animais noturnos e, com alguma pressa, empurrei uma dezena de raparigas para o lado, passando até ao lado deserto do descampado.

          Engoli em seco e caminhei lentamente pela estrada de terra batida, adentrando pela floresta. A pele dos meus braços encontrava-se arrepiada, num misto de medo e frio, e, como tal, decidi abraçar o meu corpo de modo a proteger-me. Olhei à minha volta e avistei várias árvores, de várias espécies diferentes. O chão debaixo dos meus pés era irregular, composto quase unicamente por galhos e rochedos, que dificultavam a minha caminhada por aquele lugar sombrio. Provavelmente, se a luz das estrelas não iluminasse o meu caminho, eu já teria dado meia volta e regressado à planície onde todos os meus amigos se encontravam.

            Respirei fundo e tentei apressar o passo. Não me sentia muito confortável mas, devido à preocupação que nutria pelo meu namorado, não podia perder a compostura. Mordisquei o lábio e inalei uma lufada de ar, preparando-me para começar a bradar o seu nome. Foi então que os meus músculos congelaram ao ouvir gemidos. Pestanejei lentamente e mirei os meus ténis pretos, que tinham os atacadores brancos bem evidenciados devido aos contrastes noturnos que me rodeavam. Ergui a cabeça quando comecei a reconhecer a voz de Ashton e, nesse mesmo momento, percebi o que estava a acontecer.

             Como pude ser tão estupida? Foi a primeira pergunta que invadiu a minha consciência. Cerrei os punhos e abri a boca, deixando que a minha garganta agisse por si própria, criando uma vaga de soluços destroçados. Os meus olhos foram enevoados pelas lágrimas e o meu coração explodiu, partindo-se novamente em pedaços bicudos. Levantei a cabeça, mirei o céu que se erguia por cima do arvoredo e sorri interiormente, mesmo estando numa lástima, observando o infinito mar de estrelas que a minha visão podia testemunhar.

          Sem pensar duas vezes, comecei a correr desenfreadamente na direção oposta à do grupo que se preparava para assistir ao eclipse. O vento começou por balouçar os meus cabelos, fazendo depois contacto direto com a minha face húmida, e, à medida que avançava, deixei de ouvir os murmúrios divertidos dos jovens e, muito menos, os gemidos prazerosos que mancharam a minha pele de lágrimas.

            Quando a adrenalina que percorria as minhas veias acabou por se esgotar, deixei de ter forças para continuar a correr. Pousei as mãos nos joelhos e ofeguei, sentindo os destroços do meu coração perfurarem cada centímetro do meu corpo. Estava cansada, física e psicologicamente e, sobretudo, arrependida por ter aceitado vir a este evento. Limpei a minha cara e amarrei o meu cabelo com um elástico que, por sorte, me havia lembrado de trazer. Olhei à minha volta e soltei uma asneira. Não conhecia o lugar e não havia maneira de reproduzir os metros que deixara para trás. Suspirei, chegando à conclusão que estava perdida.

            A culpa era dele e nada podia mudar isso, nem mesmo o facto de eu ter sido demasiado ingénua. Talvez se eu tivesse aberto os olhos a tempo e tivesse depositado alguma esperança em Luke isto não acontecesse. Se eu tivesse dado uma oportunidade ao único rapaz que me amara, talvez não estivesse nesta situação.



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Olá, decidi publicar esta história hoje porque já era algo em que eu andava a pensar há muito tempo.

Acreditem que esta história é muito importante para mim, e foi por isso que eu decidi publicar o quanto antes, visto que agora estamos de férias e vai ser mais fácil eu ter tempo para escrever.


Podem seguir-me no twitter: @rrawfs / no instagram: @rrawfs



Ella.


Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora