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4 de maio

            Uma exaustão avassaladora havia tomado conta do meu corpo e até mesmo do meu espírito. Perdidos entre a luz solar emitida pelas frestas da janela, Luke e eu havíamos permanecido em silêncio, deitados ao lado um do outro, como se houvéssemos adormecido. Ainda sentia o calor do meu corpo em alvoroço, mas agora um pouco mais estável, pois acabámos por relaxar e nos habituar às fogosas emoções. Os meus lábios encontravam-se dormentes devido à força com que Luke os beijou, como se me quisesse devorar a cada inalação, o que provava o seu desejo em relação a nós. Eu sabia que havia coisas a resolver, fora da nossa bolha impenetrável, mas por enquanto sentia-me demasiado feliz para me lembrar sequer dos problemas que durante os últimos tempos me fizeram a cabeça em água. Ouvi o loiro suspirar ao meu lado, e virei a cabeça para o encarar, vendo o seu maxilar definido contrair-se. Ele ainda não estava curado, disso não haviam dúvidas, mas ao menos já não tinha ataques de pânico sempre que eu lhe tocava. Vi as suas bochechas ruborizarem, enquanto as nossas mãos se desentrelaçavam vagarosamente. Eu sorri, satisfeita com o contacto.

            – E agora? – ele sussurrou, virando o corpo de forma a estar de frente para mim. Eu encolhi-me, sem saber o que responder ao certo.

            – E agora... – suspirei, tentando sorrir. – Agora aproveitamos o momento.

            – Só isso? – ele riu-se. – Apenas aproveitar o momento?

            – Eu não quero avançar depressa demais. Eu tenho medo de te assustar... tudo isto já foi uma grande conquista, Luke. Apenas... poder tocar-te, já valeu a pena.

            – Tens medo? – ele franziu o sobrolho, os olhos azuis a luzirem na minha direção. – Eu é que devia ter medo... tudo isto é novo para mim, e tu foste a primeira rapariga com coragem suficiente para me obrigar a sair da minha zona de conforto.

            – Eu sei, e eu quero muito ficar contigo. – suspirei. – Mesmo.

            – Não vou a lado nenhum, Soph. Não agora.

            – Mas há... – detive-me de falar. Não queria arruinar aquele momento contando-lhe acerca do Ashton, pois isso com certeza destruiria a relação frágil construída por nós. Luke era demasiado importante para mim para eu simplesmente deitar tudo a perder, e Ashton só seria um problema maior se eu deixasse que ele fosse. Além disso, aquele beijo trocado entre nós de nada valeu, e apesar de eu o adorar enquanto amigo, não havia absolutamente mais nada que me ligasse a ele. Luke, por outro lado, merecia todo o meu amor. – Há uma série de coisas que podem destruir a paz que criámos. Aqui, no silêncio do teu quarto, as coisas são muito fáceis, mas lá fora... Lá fora existe todo um mundo cheio de perigos.

            – Nós tomamos conta um do outro.

Um sorriso tomou conta dos meus lábios, enquanto a mão de Luke se voltava a pousar em cima da minha.

            – Não vai ser fácil. – respirei fundo, olhando-o intensamente. – Posso fazer-te uma pergunta?

            – Claro. – respondeu, parecendo preocupado. Os seus olhos apertaram-se de contestação, enquanto os seus lábios trincavam o lábio inferior. Nunca imaginei algum dia encontrar-me assim, deitada ao seu lado numa cama, com os nossos rostos a tão pouca distância um do outro e os corpos inocentemente colados. Sentia o seu calor aquecer-me a alma, e quase lhe sentia a batida descompassada do coração.

            – Incomoda-te que estejamos assim tão próximos um do outro? Incomoda-te o meu toque? – sussurrei, sibilando aquelas palavras de forma dolorosa. – Sê honesto.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora