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11 de fevereiro

              Tranquei a porta de casa e caminhei rapidamente na direção da paragem de autocarro, ocupando o meu lugar habitual no banco de madeira. Retirei da minha mala os phones e resmunguei para mim própria, percebendo que levaria mais tempo a desembaraçar os fios do que a ouvir música. Quando finalmente terminei essa angustiante tarefa, coloquei os auscultadores nos ouvidos, colocando uma música dos A Rocket to The Moon no volume máximo. Sorri para mim própria quando a música Baby Blue Eyes penetrou os meus ouvidos, trazendo-me recordações do dia anterior. A verdade é que só conseguia imaginar os olhos de Luke na minha cabeça, lembrando-me que hoje me cruzaria novamente com ele e, provavelmente receberia uma resposta à minha pergunta de ontem. 

              Soltei um breve suspiro ao imaginar uma resposta negativa, pois haviam mais probabilidades de isso acontecer do que ter Luke a disponibilizar-se para me dar explicações. Ele nem sequer quer que as pessoas se aproximem dele e isso, por mais que tentasse, era algo impossível de mudar. Com a sua fobia tão extrema imagino-o com medo do mundo e, sobretudo, das pessoas.

              Desejei os bons dias às duas raparigas e ao rapaz que se juntaram a mim nesta espera pelo autocarro e continuei a ouvir a música, cantarolando para mim própria o refrão. Depois de vários minutos, o autocarro acabou por chegar, obrigando-me a levantar-me do assento. Coloquei a mala sobre o ombro e suspirei, colocando-me na fila. Enquanto esperava tirei da minha carteira o passe de estudante, que fazia com que eu não tivesse de pagar uma quantia absurda pelo bilhete. Depois de o mostrar ao motorista avancei até aos bancos desocupados do fundo, deslizando para o lugar junto à janela. Pousei a minha mala preta no banco vazio e rodei a minha cabeça na direção do vidro, observando a estrada que passava debaixo dos meus olhos.

              Soltei um pequeno suspiro assim que avistei o liceu e comecei imediatamente a preparar-me para sair, colocando a mala de novo ao ombro. Assim que cheguei à rua fui cumprimentada por Michael, que me esperava no passeio, junto ao portão.

              – Que fazes aqui tão cedo? – interroguei, dando-lhe uma esfregadela no cabelo preto. – Caíste da cama, foi?

              – Não fales assim comigo. Estou nervoso. – o rapaz admitiu, caminhando a meu lado. Arqueei a sobrancelha e olhei-o de esguelha, interessada em saber o que tanto o perturbava. – Vou tentar fazer as pazes com a Lillian hoje.

              – A sério!? – um sorriso rasgou-se nos meus lábios, enquanto eu olhava radiante para o meu melhor amigo, procurando examinar o seu rosto expressivo. – Estava a ver que nunca mais. Ela anda de rastos.

              – Eu sei... eu estou na mesma. – ele suspirou, cabisbaixo. Abanei a cabeça e bati-lhe suavemente no ombro, incentivando-o. A verdade é que considerava esta zanga entre eles um pouco infantil e esperava mesmo que eles começassem a namorar depois da conversa que Michael iria ter com a rapariga. Ficava tão feliz se isso acontecesse.

              – Está na altura de vocês admitirem o que sentem um pelo outro. – pisquei-lhe o olho. – Já se nota à distância. – Michael tentou disfarçar o riso, virando a cara para o lado, porém, eu sabia perfeitamente que o rapaz de cabelo pintado estava muito ansioso.

              – Então e tu? A Jane disse-me que ontem não apanhaste o autocarro para casa.

              – Pois... – mexi nervosamente no cabelo, colocando-o para trás das costas. Não sabia se era boa ideia contar a minha conversa de ontem a Michael, contudo, nós nunca escondemos segredos um do outro e isto também não era propriamente algo que eu fizesse questão de omitir. – Eu estive a conversar com um colega meu e perdi o autocarro.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora