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12 de fevereiro

              Caminhei pelo corredor, observando atentamente a forma divertida como os estudantes à minha volta comunicavam entre si. Apertei a alça da mochila na minha mão e mordi com força o lábio, sentindo-me um pouco sufocada no meio de tantas pessoas. A esta hora era normal os corredores estarem cheios, porém, eu costumava vir mais cedo e evitar esta confusão, ficando habitualmente sentada num banco do exterior, onde as coisas são mais calmas.

             Por breves instantes pensei em Luke e naquilo que ele sente quando se depara com corredores tão movimentados como este. A verdade é que eu nunca o via durante os intervalos e por vezes questionava-me sobre onde ele passaria esses tempos livres. Com certeza deve ter arranjado um esconderijo.

              – Sophie! – senti uma mão no meu ombro e não demorei a virar-me, encontrado um Michael sorridente de mão dada com Lillian. – Recebeste a minha mensagem?

              – Bom dia para ti também! Olá, Lillian. – cumprimentei-os. Michael revirou os olhos e não pude evitar observar o casal, reparando que já não pareciam, de todo, zangados. Aliás, algo me dizia que Michael tinha novidades para me dar. – Não eu não recebi a tua mensagem. Ou se calhar até recebi... – peguei no telemóvel e franzi o nariz, comprovando que o moreno tinha mesmo enviado uma mensagem.

              – Bem, não interessa. – ele mordiscou o lábio, lançando vários olhares à morena, que parecia ligeiramente envergonhada com a situação. – Nós voltámos a namorar.

              Um largo sorriso ocupou os meus lábios e, sem pensar duas vezes, abracei-os, recebendo protestos do rapaz. – Estou tão feliz por vocês! Eu sabia que não iam perder tempo!

              – Pois... – Michael coçou a nuca, mantendo uma mão na minha cintura. – Se não fosses tu provavelmente isto não tinha acontecido. És a nossa madrinha.

              Larguei-os do abraço e recuei um passo para trás, apertando as mãos contra o peito. – A sério? Oh, eu adoro-vos! – guinchei, ouvindo o ensurdecedor toque de entrada. Michael soltou um riso.

              – Eu sei que sim. – ele anuiu. – Depois da aula voltamos a conversar. – ele piscou-me o olho, caminhando com Lillian até à porta da sua sala. – Boas aulas!

              – Igualmente! – gritei, ficando parada no mesmo lugar. Não estava com vontade de ir à aula, além disso, queria saber se Luke já tinha chegado. Soltei um suspiro e encostei-me à parede, observando o corredor, que agora se encontrava vazio.

             Com a paciência a esgotar-se desbloqueei o telemóvel que permanecia nas minhas mãos e brinquei com o padrão de bloqueio, aguardando ansiosamente que Luke aparecesse. Imaginei o quão doloroso devia ser esperar que os corredores ficassem desimpedidos e voltei a suspirar, sentindo-me novamente triste por ele. Luke tinha de evitar cruzar-se com pessoas, tinha de se afastar do mundo, tinha de andar sempre escondido e atento a tudo. Não devia ser fácil viver assim.

              No entanto, depois de alguns minutos, passos vindos da porta de entrada chegaram aos meus ouvidos, despertando-me. Endireitei o meu corpo e respirei fundo, espreitando na direção do som. Luke caminhou lentamente até mim, enfrentando o chão com os seus olhos cristalinos. Prendi o lábio inferior entre os dentes de modo a controlar o meu sorriso e, depois de inalar uma lufada de ar, coloquei-me à sua frente, fazendo com que o loiro se assustasse.

              – O que estás aqui a fazer!? – ele quase gritou, porém, talvez por respeito àqueles que estavam a ter aulas, o seu tom não passou de um sussurro. – Tu não devias estar aqui!

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora