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3 de maio

            Levava um sorriso nos lábios enquanto caminhava silenciosamente pelas ruas desertas da cidade de Sidney, escutando somente o som da chuva a ir de encontro ao pavimento de alcatrão e os carros que passavam cautelosamente, varrendo aquelas ruas cobertas de poças. Não sentia frio como habitualmente, mas ainda assim apertava com força os botões do meu casaco, usando a outra mão para segurar no guarda-chuva preto que me protegia daquele tempo tempestuoso. Era calmante passear daquela forma, e, de certa forma, oferecia-me algum tempo de reflexão.

            Como habitual às terças-feiras, hoje teria explicações de matemática em casa de Luke, no entanto, e porque o loiro afirmara hoje não haver ensaio na academia, desviei-me desse destino e dirigia-me diretamente à casa dele, sabendo que ele se encontrava à minha espera. O meu relógio marcava as 18:20 e ainda me faltavam uns metros até alcançar o prédio verde-menta. As árvores balançavam violentamente conforme o vento, e os meus cabelos só não esvoaçavam porque os tinha apanhado num rabo-de-cavalo previamente.

            O meu coração acelerou quando ouvi o meu telemóvel tocar, e fui rápida a retirá-lo do bolso do casaco, deslizando desajeitadamente o meu dedo pelo botão verde e pressionando-o ao ouvido. Durante o processo acabei por desequilibrar o guarda-chuva, deixando-o cair no chão. Soltei um suspiro e debrucei-me para o apanhar, sendo pulverizada com as gélidas gotas do céu.

            – Estás aí? Sophie?

            – Ashton... – suspirei, voltando a agarrar com força na pega do chapéu. Avancei alguns passos e parei a meio do passeio, cansada daquela caminhada.

            – Pareces atrapalhada. – ouvi-o rir-se e revirei os olhos. Queria que ele fosse direto ao assunto e acabasse com aquele desespero, mas parecia que hoje o seu humor estava demasiado elevado para frontalidades.

            – Há alguma razão específica para teres ligado? – questionei, levantando a sobrancelha. Sabia que ele não me podia ver, mas ainda assim insistia em ser expressiva. – Eu estou a caminho da explicação, Ashton.

            – Foi exatamente por isso que te liguei. – senti-o sorrir. – Eu vou buscar-te quando acabar, só preciso que me digas a que horas.

            – Eu não preciso da tua boleia, Ash... – suspirei, agradecida com o seu gesto. – A minha mãe vem buscar-me. Além disso, isto vai acabar tarde e tu provavelmen...

            – Tu não estás a perceber. – ele soltou uma gargalhada divertida. – Eu quero levar-te a jantar.

            – Oh...

            – Então, a que horas estás despachada?

            – Às oito. – suspirei. – Estou perto do liceu, mas depois envio-te mensagem com o sítio específico.

            – Era tudo o que eu precisava de ouvir. – a sua voz era sedutora e carinhosa, e eu não pude evitar sorrir. – Vemo-nos depois, então.

            – Ok, adeus. – mordisquei o lábio, esperando que ele desligasse a chamada. Isso não acabou por acontecer, e, depois de alguns segundos em silêncio, ouvi o som abafado do seu sorriso. – Ashton?

            – Sim?

            – Porta-te bem.

            – Eu sou um anjo. – respondeu. – Adoro-te, Soph.

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