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7 de julho

             – Estás pronta?

            – Sim. – respondi, fechando a porta atrás de mim com um pequeno puxão. Não me preocupei em trancá-la, sabendo que os meus pais chegariam a casa daí a pouco tempo, e limitei-me apenas a vestir o casaco de lã preto, já que a brisa era fresca e não me apetecia apanhar outra constipação. Puxei os meus cabelos para fora do tecido quente e deixei-os cair sobre as minhas costas, sentindo-me ser observada com atenção e luxúria. Podia ver o seu sorriso aumentar à medida que eu me compunha, mas não disse uma palavra.

            – Estás bonita. Esse vestido é novo? – riu-se, brincando com as pontas dos cabelos, como um rapazinho irrequieto. Os seus olhos brilhavam, refletindo quase na totalidade a luz do candeeiro acima de nós. A sua pele também reluzia, parecendo mais macia e apelativa que nunca, e eu perguntei-me se ele não teria frio, vestido apenas naquela camisa escura de tecido fino, sem qualquer casaco por cima. As calças eram as habituais skinny jeans pretas, que lhe adelgavam as coxas e lhe davam uma postura elegante, e eu suspirei ao lembrar-me do motivo para estarmos os dois parados à frente da porta de minha casa, ambos tão bem arranjados e benevolentes.

            – Não é o meu vestido que interessa neste momento. – sorri. – És tu. Estou errada, senhor aniversariante?

             – Bom, depende do ponto de vista.

            – Parabéns, Ashton. – mordi o lábio, esforçando-me para me aproximar da sua bochecha e deixar lá um pequeno beijo. Contudo, antes de eu me poder afastar, já as suas mãos robustas me puxavam contra o seu peito, apertando-me a cintura e roubando-me o fôlego. Comecei logo a tremer, numa mistura inquietante de frio e nervosismo, e deixei-me levar, sendo amparada pelos seus braços musculosos.

            – Obrigado. – sussurrou ele, largando-me finalmente. – Vamos?

            Entrámos dentro do carro e em silêncio ficámos, até Ashton se lembrar de ligar o rádio e deixar a música acalmar os nossos nervos, que eu bem sabia serem muitos. Ele não parava de mexer no cabelo e, constantemente, levava a mão direita até à consola central, onde um maço de cigarros ainda por abrir jazia abandonado. Ele parecia querer lembrar-se que eles ainda ali estavam, prontos a serem fumados quando ele bem quisesse, mas nunca se atrevia a pegar no pacote e a abri-lo, parecendo sempre com medo de fazer gestos que me desagradassem. Por fim, voltava sempre a levar a mão de volta até ao volante, mantendo uma postura séria e comprometida. Tomei eu a iniciativa, pegando no maço e arrancando o plástico que o envolvia, de modo a abri-lo e a retirar de lá um cigarro.

            – O que é que estás a fazer? – ele questionou. O seu tom parecia sério, mas os seus lábios teimavam em curvar um sorrisinho provocador.

            Enquanto o deixava na ignorância, passou-me pela cabeça que aquilo era estupidamente errado, mas ainda assim não me demovi. Olhei uma última vez para o rosto praticamente sarado de Ashton e sorri com prazer, estendendo-lhe um cigarro para a boca. Ele esbugalhou os olhos, mas não o rejeitou. Peguei no isqueiro verde que ele trazia sempre ali e raspei o meu dedo indicador sobre a argola de metal, carregando no botãozinho preto e vendo a chama acender-se diante dos meus olhos, quase a queimar-me a pele. Ashton, já à espera do meu próximo passo, usou uma das mãos para fazer uma concha à volta do tubo de nicotina e eu inclinei-me lentamente sobre si, acendendo-lho.

            – Tão sensual... – ouvi-o murmurar, já depois de eu me ter recostado. Larguei o isqueiro e o maço no mesmo sítio de onde os tirei e soltei um suspiro alto.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora