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22 de junho

            Se eu já estava assustada, mais assustada fiquei quando Michael e Lillian me apareceram à frente, ambos com os rostos contorcidos numa careta zangada. Porém, Lillian foi rápida a abraçar-me, fazendo-me festinhas no cabelo tal como eu tinha feito com ela, há horas atrás. Ashton já tinha sido levado pela enfermeira e por isso eu estava sozinha, sentada numa cadeira da sala de espera, enquanto rezava para que tudo estivesse bem com Luke. Michael suspirou quando a Lillian me largou, dando-lhe espaço para se aproximar e para ele próprio dizer o que tinha para dizer. Já sabia que ele me ia dar um sermão, mas nada me preparou para o tom austero e zangado da sua voz.

            – MAS COMO É QUE ISTO FOI ACONTECER!? COMO É QUE O LUKE FOI TER UM ACIDENTE DE CARRO!? Tu tens noção de que a culpa é tua, não tens?

            – Não fales assim com ela! – Lillian defendeu-me, lançando-lhe um olhar furioso. – Ninguém podia prever isto! Para de a rebaixar!

            – Ninguém podia prever... NINGUÉM PODIA PREVER!? – Michael esbracejou, totalmente alterado. – EU PREVI, MAS NINGUÉM ME DEU OUVIDOS! E ALÉM DE NÃO ME TEREM DADO OUVIDOS AINDA ANDARAM A PASSAR PANINHOS QUENTES SOBRE A SITUAÇÃO, COMO SE FOSSE TUDO PERFEITO E, POR MAGIA, SE FOSSE RESOLVER AGRADÁVELMENTE. JÁ SABEMOS QUE NÃO FOI ISSO QUE ACONTECEU!

            – Michael! – Lillian agarrou-lhe nos ombros, tentando acalmá-lo. – Estás no raio de um hospital! Controla-te e fala mais baixo! – ela rosnou, num sussurro. – Sabemos que estás frustrado mas nem tu fizeste nada para evitar que as coisas chegassem onde chegaram, por isso tem calma e relaxa! Vai tudo ficar bem!

            – Como é que vocês podem ser tão esperançosas? – ele cuspiu, desdenhoso. – Assumam a realidade dos factos, caraças! Isto. Não. Está. Bem!

            – Sophie! – uma outra voz masculina captou a minha atenção, assustando-me devido ao tom. Quando me virei para trás, deixando Michael e Lillian envoltos nas suas próprias discussões, encontrei Jack, Ben e Liz, a mãe do Luke, à minha frente, com cara de poucos amigos. A mulher de cabelo loiro correu logo na minha direção, abraçando-me com força. Nunca a tinha conhecido pessoalmente, apesar já ter falado com ela uma ou duas vezes ao telefone, sempre por motivos destes, mas ela parecia-me exatamente como a tinha imaginado. Loira, de olhos azuis, e extremamente parecida com o filho.

            – Oh, querida... eu mal pude acreditar quando me ligaram! Como é que tu soubeste? Também te avisaram?

            – Eu... eu já aqui estava quando a ambulância chegou. Fiquei tão surpresa como a senhora. – baixei o rosto, enquanto Liz parava para me observar com atenção. – Nunca imaginei que ele pudesse ter um acidente...

            – Ele não estava habituado a conduzir... nem sei porque se lembrou de pedir o carro emprestado ao irmão. – choramingou, limpando os olhos com um lenço de papel. – Eu vou falar com o médico, está bem?

             – Sim, claro. Traga notícias boas. – pedi, fazendo a mulher sorrir. Quando se afastou, foram os irmãos que se aproximaram de mim, ambos intimidantes e inexpressivos.

            – Como é que tu estás? – Ben questionou, parecendo genuinamente preocupado. Jack manteve-se em silêncio, fitando-nos com um semblante tenso.

            – Mal. Sinto-me péssima. – respondi, soltando um suspiro. – Ele disse-te para que queria o carro?

            – Falou em ti, mas não explicou mais nada.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora