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12 de setembro 

            Viver na minha pele não é fácil. Não é fácil ser-se uma rapariga ingénua e perdida, com as maiores expectativas do mundo, cuja esperança chegava para travar a paz mundial. É sim difícil, pelo menos foi-o nos últimos oito meses. Vivi uma montanha russa de emoções, uma novela de acontecimentos e um desenrolar sem fim de dramas, que se sucederam uns em cima dos outros, sem parar, até agora, até ao momento fulcral da história que me encontro a contar. Ser-se uma rapariga ingénua e perdida não é fácil, quer digam que assim não se tem noção das coisas, quer digam que é fingimento poético. Ser-se assim é uma maldição, uma maldição cruel que tem por hábito arrastar na sua teia almas inocentes, almas que apenas procuraram o conforto que a inocência tinha para lhes dar, e assim terminaram, exterminados por esse demónio chamado perdição. Nunca é fácil ter desconhecimento dos perigos que os atos podem acarretar, mas também não o é sabendo de todos os pormenores da dor a ser sofrida.

            Naquela semana eu ainda andava perdida em mim mesma. Ainda não me ocorrera que tudo pudesse ser uma farsa, ou bem pior, um castigo pelos meus erros. O meu cérebro digeria com êxtase o código que eu pensara ter decifrado, uma semana antes, e agora balançava-me pelos corredores com um sorriso de orelha a orelha impresso nos lábios. Foi como se uma nova Sophie tivesse nascido, com a pequena diferença de não ter quaisquer diferenças da que existira no passado.

            – Falaste com as pessoas que eu te pedi? – questionei, tentando ignorar as mensagens que iam aparecendo no visor do meu telemóvel, como bombas prestes a rebentar sobre mim.

            – Falei. Em princípio vão todos. Acharam uma ideia engraçada. – Michael suspirou, olhando-me como se eu estivesse louca. Penso que não faltava muito para isso acontecer, tendo em conta todas as loucuras que eu estava prestes a cometer.

           – Vai ser mais do que engraçado. – sorri. – Em primeiro lugar, vai ser uma homenagem a um ente querido, e depois, vai ser a minha oportunidade de fazer com que o Luke me perdoe.

           – Sim, por falar nele... eu disse-lhe que na sexta-feira íamos fazer esta cena toda de assistir ao eclipse e ele disse que não podia estar presente.

           – O quê? – senti o meu coração afundar-se.

            – Lamento. Talvez aquilo que ele te disse não significasse exatamente o que tu pensaste. – encolheu os ombros, colocando depois a sua mão sobre a minha cabeça, em jeito de caricia.

            – Eu achava que era isto... batia tão certo... – murmurei. – E agora?

            – E agora levamos isto avante! – Michael sorriu, tentando encorajar-me. – Ouve, deixa o Luke de lado apenas por uns tempos e foca-te em ti mesma. Já te esqueceste? Isto é tudo pela tua avó. Vamos ver este eclipse quer o Luke esteja lá, quer não.

            – Sim... acho que sim. Tens razão. – mordi o lábio. – Mas... eu achava que...

            – Olha, aproveita para resolver tudo com o Ashton. Ainda não acabaste com ele, pois não?

            – Acabar? – repeti, com os olhos vidrados e desatentos. Aquilo não me sabia bem, era como se ao pensar em terminar a minha relação com Ashton estivesse a espetar-lhe uma faca nas costas. Não queria magoá-lo, e acima de tudo tinha receio de o deixar em mau estado por minha culpa. – Eu não... Michael... ugh. Tu sabes que é difícil.

            – Para mim isto é do mais simples que há, Soph. – suspirou. – Chegas ao pé dele e dizes-lhe que queres terminar. Isto tem de ficar por aqui, tu sabe-lo.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora