Naive ಌ l.h

0.32

5 de abril

            Faltava exatamente uma semana para o início das férias da páscoa, e, apesar de já começar a precisar de uma interrupção nos estudos, eu sentia que ainda me devia esforçar mais. Os resultados que conseguira alcançar na última ronda de testes não foram os melhores e eu queria mais, queria ver a recompensa do meu esforço e o orgulho dos que sempre me ajudaram. Luke era sem dúvida quem mais mérito merecia. O rapaz, aluno exímio e detentor de excelentes notas, ajudara-me no último mês, e por mais pequenos que fossem os meus resultados, notava-se uma melhoria no meu desempenho à disciplina de matemática. Ele fora como um pilar para mim, e, acima de tudo, um amigo que sempre me apoiou. Nós funcionávamos bem em equipa, e eu descobrira no último mês que nós éramos mais parecidos do que eu alguma vez imaginara; em retrospetiva, eu não estava arrependida de lhe ter feito o convite para ser meu explicador de matemática, e muito menos por ter decidido que o iria ajudar a superar os seus medos.

            – Tenho novidades! – fechei a porta do cacifo e rodei a cabeça, encarando o meu melhor amigo, que sorria de orelha a orelha. Desde a semana passada que ele pintara o seu belo cabelo loiro, trocando esta cor por um azul real. Os seus traços pareciam mais robustos e até arriscaria dizer maduros. Os seus olhos haviam ganho destaque, e, apesar de ter o cabelo mais curto, permanecia envolto numa tamanha beleza, que o transformava num dos rapazes mais populares deste liceu.

            – O que foi desta vez, Michael? – interroguei, levantando uma sobrancelha de forma a enfatizar a minha admiração. Ultimamente haviam acontecido um monte de coisas, nada intimamente relacionado a mim ou a Luke, mas apenas com todos em geral. Parecia que, de repente, esta escola tinha acordado de um sono profundo e envolvido-se em situações abstratas, que ofereciam tema de conversa aos mais bisbilhoteiros.

            – Tu nem vais acreditar... – ele começou, agarrando-me pelos ombros. – O Luke aceitou!

            – Aceitou? – franzi o sobrolho, sem entender ao que ele se referia. – Aceitou o quê?

            O meu melhor amigo revirou os olhos e suspirou, prendendo as minhas mãos nas suas, como se a qualquer momento eu pudesse fugir e deixá-lo com a resposta à minha pergunta. O sorriso impresso nos seus lábios era contagiante e eu não conseguia deixar de o reproduzir, mas no entanto, algo dentro de mim obrigava-me a permanecer desconfiada. Luke era sempre motivo de preocupação da minha parte e eu não queria que algo ou alguém pudesse eventualmente magoá-lo, mesmo que fosse Mike.

            – Aceitou cantar, Sophie! – Michael disse finalmente, puxando-me para um salto entusiasmado. Ele cantarolou algo impercetível e riu-se, acabando depois por ficar numa postura séria. – Ele vai cantar no espetáculo da Academia! Eu consegui convencê-lo!

            – Não! – um sorriso floresceu nos meus lábios. – Como? Como é que conseguiste convencê-lo?! Oh meu deus... quando é que isso aconteceu? E porque é que ele não me disse nada?

            – Ele também só me disse isto ontem à noite. – o rapaz esclareceu, sorridente e animado com a noticia. – Eu já andava há semanas a insistir com ele! Ele sabe que é a melhor decisão!

            – Eu estou tão feliz, Michael... – suspirei profundamente, mantendo o meu olhar fixo num ponto aleatório à minha frente. – E tão orgulhosa... ele está a fazer progressos. O Luke está a conseguir.

            – É tudo graças a ti, Soph.

            – Eu não sei... – encolhi os ombros, lançando um olhar esquivo ao rapaz de olhos verdes. – Tu sabes que ao princípio eu me esforcei muito para trazê-lo até ao mundo real, mas depois... depois eu comecei a conhecê-lo melhor e deixei de tentar. As coisas foram acontecendo conforme o tempo, e eu acabei por me esquecer do meu verdadeiro objetivo.