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29 de agosto

            Passei todos os dias desde o espetáculo a murmurar a sua canção, a relembrar as suas palavras dentro da minha cabeça e a imaginar o que sentira ele quando a escreveu. Ainda havia a esperança de um final feliz, mas, tal como a música diz, é uma surpresa da qual dependemos. Uma surpresa que só será descoberta no dia em que tudo se resolverá e, na verdade, eu achava que esse dia seria hoje. Achava-o porque, no fundo, eu ainda quero acreditar nalguma coisa. Quero acreditar que Luke ainda me ama. Quero acreditar que ainda podemos ficar juntos.

            – Michael! – chamei, assim que o vi. Ele corria de um lado para o outro, com um monte de livros na mão e uma expressão cansada no rosto. Provavelmente andava a preparar-se para os testes que aí viriam, mesmo que ainda faltasse quase um mês.

            – Soph... – sorriu, caminhando na minha direção. Limpou a testa com a mão e olhou à sua volta, como se ainda não tivesse reparado que estava no corredor do liceu. Depois levantou as sobrancelhas para mim, incentivando-me a falar.

            – Como é que estás? Não te vejo desde daquela noite...

            – Estou bem. – encolheu os ombros. – Apesar de me sentir um bocado desiludido com a minha melhor amiga... – resmungou. – Para onde é que foste depois do espetáculo, Soph? Procurei-te a ti e ao imbecil do teu namorado por todo o lado, mas vocês desapareceram completamente! Não me digas que foste embora mais cedo...

            – Por acaso... sim. Fui.

            – Porquê? Não gostaste?

            – Na verdade eu amei. – um sorriso tímido curvou os meus lábios. – Eu ouvi a vossa música... não consegui ficar depois disso. Foi demasiado para assimilar, percebes?

            – Sim... o Luke contou-me que era sobre vocês. Também não era preciso ser-se nenhum génio para perceber. – murmurou. – Mas ainda assim... eu ia adorar ter-te lá para me abraçares e dizeres que para a próxima ganhamos.

            – Espera, vocês não ganharam?! – levantei as sobrancelhas, espantada com a novidade. Quando eu me vim embora, tinha quase a certeza de que os vencedores seriam eles, apesar de saber que os outros grupos também tinham imensas capacidades para ganhar.

            – Ficámos em segundo lugar. Só perdemos assim por uma unha negra. – suspirou. – Ele também estava à espera que tu estivesses lá para o receber, sabes? Ele ficou um bocado desanimado quando não te viu.

            – Eu tive mesmo de me ir embora. Desculpa.

            – Não é a mim que tens de pedir desculpa...

            – Como é que ele está? – questionei, sentido um ardor no peito.

            – Está... estável.

            – Claro. – abanei a cabeça. – Michael...

            – Sim?

            – Eu acho que tu tinhas razão.

            – Em relação a quê?

            – Em relação ao Ashton.

            Um sorriso verdadeiro atravessou os lábios do meu melhor amigo, que agora me olhava como quem diz «Eu bem te avisei», apesar de ele nunca ter proferido esta frase em voz alta. Pela primeira vez, senti que lhe devia um grande pedido de desculpas, mas quando me preparava para o fazer, Michael abriu os braços, deixando cair os livros estrondosamente no chão, e abraçou-me com muita força, fazendo-me ver que no fim de contas, ele ainda estava lá para mim, mesmo que não apoiasse a maioria das minhas decisões. Quando me soltou, apanhou os livros e riu-se.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora