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20 de fevereiro

               Como prometido, hoje seria mais um dia de explicações. Não conseguia controlar a ansiedade de ver Luke, no entanto, sempre que alguém tinha o descaramento de tocar nesse assunto, eu tentava disfarçar a emoção que sentia ao saber que eu e o loiro éramos agora mais próximos do que há uma semana atrás. Não que estivesse a criar algum tipo de sentimento mais profundo por ele. Era só que, no meu íntimo, eu considerava estas aproximações como objetivos até chegar à meta. Ajudar Luke era o meu principal desejo e, refletindo acerca dos dias que antecederam estes, estava cada vez mais certa de que as minhas intenções estavam um patamar mais perto de serem concretizadas.

               Assim que a campainha de saída tocou e todos os jovens presentes na sala se apressaram a arrumar os seus pertences e a abandonar a sala, um sorriso curvou os meus lábios e dei por mim a observar Luke, que permanecia quieto no seu lugar. Ele fitava continuamente o seu caderno quadriculado, permanecendo com uma caneta de tinta azul presa na mão direita. Ele não escreveu nada, não se mexeu, limitou-se a observar o caderno, ouvindo o arrastar das cadeiras e os suspiros de alívio dos nossos colegas aborrecidos.

               – Sophie? – desviei as atenções de Luke e, num gesto completamente alheio, levantei a cabeça em busca da voz feminina que havia entoado o meu nome. Avistei a professora de inglês ao fundo da sala, junto do quadro. Ela olhou para mim com um ar confuso, quando percebeu que eu ainda não tinha arrumado nada para sair da sala. Consequentemente, Luke olhou para mim, e ficámos os três em silêncio, até que alguém se atrevesse a falar.

               – Não faz mal. – a voz ligeiramente adocicada de Luke fez o meu coração estremecer e vi um semblante menos tenso no rosto da mulher de cabelos castanhos. Ela sorriu-lhe, olhando depois para mim. Não sabia o que fazer nem o que dizer. A situação era inesperada.

               – Desculpa. – murmurei, tentando comunicar com o rapaz sentado diagonalmente a mim. Já ninguém se encontrava na sala e percebi que era esse o objetivo, para que Luke pudesse abandonar a sala em segurança. A professora sorriu.

               – Bem, se te sentes confortável com a presença da Sophie então acho que posso ir. 

               – Sim. Obrigado, professora. – o rapaz agradeceu, pousando a caneta em cima da sua pequena secretária.

               Quando a mulher que nos deu aulas abandonou a sala, levando consigo os livros que se encontravam na sua mesa, um silêncio constrangedor pairou no ar. Apesar de ter fechado a porta, conseguíamos ouvir o barulho dos corredores e sabia que Luke só se levantaria quando tivesse certezas que o caminho estaria livre para caminhar despreocupadamente. Acabei então por fechar os meus livros e enfiar o estojo dentro da minha pequena mochila de cabedal, arrumando tudo metodicamente a um canto da mesa. Olhei em volta e respirei fundo, recostando-me na cadeira.

               – Existem professores que não se preocupam minimamente e depois existe a professora de inglês, que é obcecada com a minha fobia. – Luke falou abruptamente, chamando a minha atenção. Rodei a cabeça e encarei-o. Ele sorriu. – Ela é amiga da minha mãe. Talvez seja esse o motivo da extrema preocupação.

               Fiquei a olhar para o seu rosto, enquanto pensava nas palavras que lhe haviam escapado dos lábios. Nunca ninguém se tinha preocupado comigo de uma maneira tão genuína e, por momentos, senti alguma inveja do rapaz de cabelo loiro.

               – Isso é bom, suponho.

                – Sim. – ele cantarolou. – Sempre tens alguém em quem possas confiar e que não te atira aos lobos. Mesmo que seja a tua professora de inglês. – riu-se. Ele apanhou a sua mochila do chão e retirou o telemóvel da bolsa, desbloqueando-o. – Está na hora. Vamos.

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