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17 de fevereiro

          Hoje seria o primeiro dia de explicações e eu não podia estar mais nervosa. Apesar de faltar uma tarde inteira para a hora combinada, na minha cabeça já se desenrolavam vários cenários do que iria acontecer. Este é um defeito que eu preferia não ter. Preferia descontrair e pensar noutras coisas, ao invés de estar constantemente com a preocupação de que algo mau vai acontecer no momento em que eu entrar em casa de Luke. Não gosto de admitir que sou insegura, mas a verdade é que sou mesmo.

          – Como é que correu ontem o almoço? – Michael sentou-se à minha frente, com Lillian a seu lado. Ambos tinham os olhos focados em mim, trazendo à tona aquela sensação de desconforto que uma pessoa tem quando se sente pressionada pelo nervosismo. Não consegui evitar baixar o rosto, soltando um pequeno suspiro antes de responder.

          – Não me digas que correu mal. – Lillian esticou a mão para tentar chamar a minha atenção. Com uma dose de coragem, ergui os olhos e fitei-a com um sorriso apatetado nos lábios. Michael riu-se.

          – Ele foi querido comigo. – encolhi os ombros. – Quer dizer, dentro dos possíveis, claro. Por incrível que pareça, senti-me muito bem a conversar com ele.

          – Oh. – a rapariga de cabelo encaracolado deixou a sua cabeça tombar no ombro do seu namorado, enquanto enrugava a testa de uma forma amorosa. – Vocês até ficavam bem juntos.

          – Eu não o vejo como alguém que eu queira namorar, Lil. Ele é um rapaz interessante mas eu só o quero ajudar. – esclareci. E era verdade. Eu nunca pensei em Luke como mais do que um amigo, até porque, tal como ele disse, seria impossível ter uma relação com ele. Eu, tal como as outras raparigas com quem Luke tentou ter um relacionamento amoroso, também procuro carinho, toque e amor na minha vida. Também quero sentir-me protegida.

          – Bem, nunca se sabe. – Michael afirmou, com uma gargalhada. – Mas fico feliz por ter corrido bem. O rapaz está mesmo a precisar de mais amigos.

          – Eu sei. – suspirei. – Porque é que tu não te tentas aproximar dele? Vocês até andam na mesma academia de música, seria fácil.

          – Eu já tentei. – o rapaz de cabelo preto, agora com uma recente madeixa colorida na franja, disse. Olhei-o com uma expressão expectante, esperando que ele explicasse melhor aquilo que tinha feito para tentar comunicar com o loiro. – Quando temos de trabalhar a pares ele fica sempre comigo, até porque o nosso estilo de música é semelhante, mas, sempre que eu tento falar com ele, ele fecha-se num casulo. Eu acho que ele tem medo.

          Subitamente, lembrei-me do que Luke me dissera no dia anterior, durante o almoço. Sou muito cuidadoso com quem deixo aproximar-se de mim. Isso era um facto indiscutível. Eu própria tive de passar por uma espécie de teste, para corresponder à idealização de quem se aproxima ou não dele. Ele teve de se assegurar que eu era de confiança, teve de me conhecer, teve de arriscar. Apesar de eu não ter ficado ofendida, sabia que a maioria das pessoas considera esse tipo de atitude estranha e até rude. Mas Luke não faz por mal, ele só quer precaver-se. Se podemos evitar o perigo, então devemos fazê-lo para nosso bem.

          – Pois... – voltei a baixar o rosto, sabendo que desta vez não havia razão do lado de ninguém. – Tens de perceber que para o Luke é difícil saber em quem confiar. Mas, Michael – o moreno olhou-me nos olhos e percebeu a seriedade das minhas palavras. –, por favor não desistas. Tenta aproximar-te dele. Tenta apoiá-lo no que precisar.

          Michael mostrou-me um sorriso e anuiu. Ele entendia que era importante para mim saber que Luke estaria a ser ajudado, e percebi pela expressão no seu rosto que percebera o quão importante era eu não ser a única a esforçar-se para que Luke fosse compreendido. Podia não ser fácil convencer as pessoas à nossa volta, contudo, teria de começar por algum lado.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora