Naive ಌ l.h

0.01

10 de Fevereiro (8 meses antes)

              Enfiei os meus óculos pretos na mala e levantei-me desajeitadamente da cadeira, observando a rapidez com que os alunos abandonavam a sala de aula em direção ao corredor. Arrumei as folhas soltas dentro dos livros e coloquei-os debaixo do braço, tentando, de uma maneira falhada, colocar a alça da mala ao ombro. Reparei que Luke, como era habitual, também se encontrava dentro da sala, arrumando a sua mochila de forma lenta e organizada. Sempre que o via, reparava no quão solitário ele era e perguntava-me se ele não se sentiria sozinho. A verdade é que Luke é um rapaz muito bonito e seria com certeza fácil arranjar-lhe companhia.

              Com alguma relutância caminhei até à sua carteira, parando para o mirar. Ele continuava de cabeça baixa, a guardar dentro da sua mochila todos os livros e cadernos que o acompanhavam. Não sei se ele deu pela minha presença mas, ainda assim, continuei especada a olhar para ele, esperando uma reação qualquer da sua parte. Quando ele colocou a mochila sobre os ombros e me encarou, vi o seu rosto tornar-se pálido.

              – Gosto da tua camisa. – apontei. Luke olhou para baixo e observou o tecido axadrezado vermelho que lhe assentava realmente bem. Com um ar confuso, voltou a olhar-me nos olhos. Pensei que fosse agradecer-me mas, ao invés disso, deu dois passos para trás e engoliu em seco, mostrando-me um sorriso forçado.

              Revirei os olhos quando ele abandonou a sala, e suspirei profundamente, arrependendo-me de ter tentado conversar com ele. Sabia que era inútil e que Luke nunca se aproximaria de ninguém, porém, eu tinha pena dele. Até há pouco tempo não conseguia entender o porquê de ele estar sempre sozinho e não ter um único amigo mas, quando soube da sua fobia, um sentimento de compaixão nasceu dentro de mim, obrigando-me a ajudá-lo. Se não fosse eu, quem seria?

              – Sophie! – olhei para trás e sorri, observando o sorriso que Michael me lançava. Ele caminhou até mim. – Então, pensava que já tinhas ido para casa.

              – Gosto de ir com calma. – mostrei-lhe um sorriso, dando alguns passos pelo corredor cheio de estudantes. – Então e tu? Já resolveste tudo com a Lillian?

              O rapaz de cabelo colorido fez uma careta e abanou a cabeça, deixando-me com uma resposta à minha pergunta. Olhei-o de sobrancelha franzida e soltei um pequeno riso, achando-lhe piada. Se não fosse Michael, os meus dias seriam muito mais aborrecidos.

              Prendi o lábio entre os dentes quando avistei Luke a dirigir-se para o exterior do liceu e instintivamente soube que esta seria a altura certa para tentar novamente a minha sorte. Dei uma suave pancada no ombro do meu melhor amigo e despedi-me dele, dizendo-lhe que teria de me despachar para apanhar o autocarro. Sem perder tempo, caminhei na direção das portas de saída, levando com o sol nos olhos. Coloquei uma mão sobre a testa e olhei à minha volta, tentando encontrar o rapaz alto. Não foi preciso procurar muito, conseguindo logo encontrá-lo junto ao passeio, do outro lado da estrada.

            O seu corpo alto e esguio estava virado de costas, contudo, reconhecê-lo-ia em qualquer lugar. Luke não era um rapaz muito similar aos outros pois tinha um estilo muito característico, e isso ainda me fazia ter mais curiosidade em relação a ele, daí estar a tentar aproximar-me. Sorri inconscientemente quando reparei no seu cabelo, que brilhava de uma forma invulgar quando os raios solares incidiam nele.

              – Luke? – arrisquei chamar, não podendo sequer pensar em tocar-lhe.

              Ele virou-se assim que ouviu o seu nome, recebendo-me com um ar confuso. As suas sobrancelhas estreitaram-se e os seus lábios comprimiram-se numa linha reta. Ele olhou para os lados, talvez para se certificar que ninguém estaria por perto, e, tal como na sala, deu dois passos para trás, de forma a manter a distância entre nós.