3 de maio
Estava frio mas ao mesmo tempo calor, e o meu coração batia como se não houvesse amanhã e eu pudesse morrer naquele preciso momento, sendo embalada pelo silêncio da noite e intoxicada pelo fumo do cigarro que Ashton trazia na mão. Não sabia para onde ele me levava, mas diria que não era um lugar muito frequentado, pois a estrada encontrava-se desprovida de carros. Ele conduzia como quem canta uma canção, umas vezes de forma suave e relaxante, e outras de forma agressiva e poderosa, manipulando a forma como a viagem se transforma numa tempestade alucinante de um segundo para o outro. Podia sentir adrenalina pelo meu corpo, nas minhas veias, no meu sangue, no meu cérebro, no meu peito. Tudo em mim explodia, e Ashton parecia tão pacífico, talvez até satisfeito por me ver assim. Era uma espécie de luxúria, combinada com o brilho dos seus olhos e a clareza da sua pele, refletida pela lua. Um suspiro escapou dos meus lábios quando percebi no quão excruciante aquele silêncio se estava a transformar, e devido à quietude dos nossos corpos, quase jurei ter ouvido o som do sorriso de Ashton. No fundo eu só desejava eternizar aquele momento, torná-lo infinito e repetir milhares de vezes as emoções que me consumiam o corpo e me confundiam a alma. Não havia nada que eu pudesse querer mudar.
Quando ele estacionou o carro eu vi-me obrigada a abrir o vidro da janela, sentindo um calor infernal cobrir-me a pele de suor. Qualquer pessoa diria que eu estaria doente, pois era profundamente insensato estar a morrer de calor numa noite tão fria como aquela, sobretudo quando a humidade da chuva ainda fazia grandes estragos no clima. Mas não, eu tinha de respirar ar puro. Ashton continuava com o cigarro na mão e eu não conseguia ambientar-me àquela atmosfera tóxica e abafada.
– Vamos sair. – ele tomou a iniciativa, levando a sua mão livre até ao manipulo da porta, abrindo-a. Eu fiz o mesmo, colocando os meus pés no chão.
Não conhecia aquele lugar, mas jamais podia negar a beleza e a simplicidade com que me acolhia. Parecia uma espécie de floresta descampada, que terminava num penhasco com vista direta para a cidade, de onde era possível avistarem-se todos os edifícios e todas as luzes noturnas. Era quase como o telhado de Luke, mas com uma escala e beleza maior. Conseguia sentir o cheiro da natureza a cada inalação, e observar tudo o que me apetecesse, até mesmo a minha casa minúscula e o apartamento verde-menta de Luke, perdido no meio de ruas e luzes tilintantes.
– Não dizes nada? – Ashton riu-se, apanhando-me de surpresa. Quando o encarei não consegui disfarçar o espanto e a fascinação que aquele lugar criava em mim.
– É lindo. É incrível. – comentei, embasbacada pela paisagem diante dos meus olhos.
– E olha para cima. – os seus olhos seguiram o movimento e eu imitei-o, abrindo a boca perante a magnificência inserida no céu. Milhares de estrelas rodopiavam diante dos nossos olhos, criando constelações e pequenos universos, envoltos numa cama ténue e disforme de azul. Aquela imagem não se comparava em nada às estrelas que eu vi no planetário com Luke, e sem dúvida que me traziam lágrimas aos olhos somente pela beleza e superioridade com que se erguiam acima dos nossos corpos. Eu poderia passar a noite toda a olhar para o céu, relembrando os ternos momentos passados com a minha avó. Ashton ainda desconhecia essa história, mas eu afirmara a mim própria mantê-la apenas do conhecimento de Luke, para que fosse o nosso pequeno segredo. Agora punha em causa todas essas coisas.
– Ashton... – o seu nome fugiu da minha boca como um suspiro de felicidade, e eu não tardei a colar o meu corpo ao seu, agarrando-lhe no braço de forma delicada. – Obrigada por isto.
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Naive ಌ l.h
FanficSophie considera-se capaz de ajudar um rapaz intocável, porém, ela é ingénua e sofrerá as consequências das suas escolhas. Copyright © 2015, All Rights Reserved // tulipxs (16/06/2015)