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16 de março 

            Um cheiro a bolinhos acabados de sair do forno invadia o ar que me envolvia e, quase inconscientemente, dei por mim a caminhar em direção ao bar do Liceu, saciando os meus profundos desejos. Uma multidão de jovens fazia fila atrás do balcão de metal, enquanto regalavam os sentidos com os tabuleiros que as empregadas faziam chegar. Um calor infernal obrigou-me a retirar a gola de lã que aquecia o meu pescoço e, com alguma cautela, tentei espremer-me entre um enorme grupo de alunos que conversavam animadamente, ali, no meio do edifício a abarrotar. Era difícil sentir-me sozinha quando tanta gente se encontrava junto a mim, contudo, a mesma sensação de solidão que provara na festa de aniversário de Lillian continuava a prevalecer dentro do meu ser. Ninguém reparava no meu corpo escanzelado, que tentava dar por terminada aquela jornada cheia de obstáculos, e isso era óbvio.

            – Michael! – chamei, levantando no ar o meu braço na tentativa de captar a sua atenção. O meu melhor amigo, ouvindo a minha voz abafada por tantas outras, ergueu os seus grandes olhos e sorriu. Nas suas mãos encontrava-se um biscoito meio comido.

            – Olá. – ele cumprimentou, terminando de mastigar o seu lanche. Puxei uma cadeira e sentei-me na mesa onde ele e Lillian se encontravam, lançando alguns olhares desdenhosos a um rapaz que, acidentalmente, me empurrara. – Isto está caótico.

            – A quem o dizes. – murmurei sarcasticamente, pousando a gola de lã no meu colo. – Então, estão bem?

            – Sim. – Lillian apressou-se a responder, mostrando-se contente com o conforto que o braço de Michael lhe oferecia. – No sábado foste embora sem dizer nada... fiquei preocupada.

            – Oh, eu mandei uma mensagem ao Michael a explicar. – franzi o sobrolho, fitando o rapaz de olhos esverdeados.

            – Esqueci-me de te dizer. – ele esclareceu, afagando o cabelo da morena.

            – Não estavas a gostar da festa? – a rapariga indagou, formando um pequeno beicinho nos seus lábios grossos.

            – Eu estava cansada, havia demasiadas pessoas e... – tentei formular uma desculpa, não querendo magoar a rapariga. – Desculpa, Li.

            – Oh, não. Não, não tens de pedir desculpa! – ela riu-se, movimentando as suas mãos de forma frenética. – Tu foste e isso significou imenso para mim, mas eu compreendo que aquele não fosse o teu ambiente. Além disso, conseguiste com que o Ashton se divertisse um pouco, por isso, não tens de te desculpar.

            – Ashton? – as minhas sobrancelhas juntaram-se, evidenciando a confusão que aquele nome provocara. Lillian riu-se.

            – Sim, o meu meio-irmão. Tu estiveste com ele, não foi?

            – Hm... – engoli em seco, sendo corrompida com lembranças daquela noite fresca em que um rapaz sisudo apareceu e partilhámos uma pequena conversa, assim como uma garrafa de álcool roubada da mesa das bebidas. – Oh! Sim, eu falei com ele. – acenei com a cabeça, deixando que um pequeno sorriso se formasse nos meus lábios. – Mas ele não se apresentou, portanto não sabia como se chamava.

            – Típico dele. Sempre com a mania dos mistérios. – Lillian revirou os olhos. – Mas enfim. Ele contou-me que tu estiveste lá enquanto ele se tentava acalmar.

            – Mas aconteceu alguma coisa durante a festa? – indaguei, atarantada com as novas informações. Michael olhava-me fixamente, como se toda esta conversa o fascinasse.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora