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11 de fevereiro

               Caminhei lentamente pelo refeitório, atormentada pela ideia de escorregar e cair, acabando com um tornozelo partido ou com alguém a rir-se de mim. Porém, isso não aconteceu. Endireitei as costas e mordisquei o lábio, procurando no meio dos jovens alguém a quem eu pudesse juntar-me para almoçar. Apertei o tabuleiro vermelho nas minhas mãos quando reconheci aquele cabelo loiro de Luke e, com um breve suspiro, avancei até à sua mesa solitária. O rapaz, assim que me viu, tentou despachar-se a acabar a sua refeição, contudo, eu sentei-me antes que ele se pudesse levantar.

               – Olá, Luke. – cumprimentei, observando os raios de sol que saíam da janela atrás dele. – Como estás?

               – Eu não sei se reparaste mas... – ele limpou a boca com o guardanapo, fixando depois os seus olhos claros nos meus. – eu estava a almoçar sozinho.

              – Eu reparei. – sorri-lhe. – E foi por isso mesmo que te vim fazer companhia.

              Luke olhou seriamente para mim, recostando-se na cadeira de plástico. Quando percebi que ele não ia voltar a falar, coloquei o guardanapo sobre o meu colo e retirei os talheres do papelão onde se encontravam embrulhados, preparando-me para iniciar a minha refeição. Antes de o fazer, olhei de esguelha para o tabuleiro de Luke, percebendo que ele ainda tinha alguma comida no prato.

               – Continuo sem perceber porque estás a fazer isto. – o rapaz suspirou, apoiando os seus cotovelos na mesa. Ele pegou no garfo e voltou a comer, parecendo exasperado com a minha presença. Por instantes, aquele sentimento de culpa voltou a atormentar-me.

               – Talvez um dia até eu perceba. – murmurei, bebendo depois um gole de água. Luke parou outra vez de comer, atento aos meus movimentos. O seu ar desconfiado não me deixava descansar, contudo, percebia que não seria fácil para ele ter alguém que se recusasse a deixá-lo em paz, como normalmente acontecia.

               – Então isso quer dizer que nem tu sabes o porquê de estares aqui, a falar comigo? – ele interrogou, procurando explicações. Mastiguei a comida lentamente, tentando arranjar uma forma simples de lhe responder à questão, porém, estava a ser difícil arranjar um argumento que validasse a minha súbita aproximação e o meu interesse em estar perto dele. – Tu não estás aqui só por causa das explicações de matemática, pois não?

               – Bem, talvez as explicações sejam o principal motivo mas, sim, tens razão. – mordi o lábio, nervosa. – Eu quero conhecer-te melhor, Luke. – afirmei, procurando mostrar-lhe sinceridade.

               – Isso é injusto. – ele limitou-se a dizer, confundindo-me. Franzi as sobrancelhas e pousei os talheres, fitando-o. – Só me queres conhecer por causa desta estúpida fobia. É esse o teu interesse, não é?

               – Luke, eu vou ser honesta contigo. – debrucei-me sobre a mesa, tentando tornar a conversa mais privada. As pessoas à nossa volta não paravam de nos olhar, criando murmúrios acerca do porquê de eu estar aqui, a falar com o rapaz estranho, e isso estava a deixar-me incomodada e, pelo que eu percebia, Luke também se sentia assim. – Sim, eu fiquei curiosa quanto à tua fobia mas, não sei, foi mais para além disso... Quando eu olho para ti vejo apenas um rapaz que gosta de estar sozinho, que não quer ser tocado e, desculpa mas, eu não consigo deixar de pensar no quão deprimente isso é.

               O loiro cerrou o maxilar, talvez incomodado com aquilo que eu tinha confessado. Não podia ter sido mais sincera com ele e, apesar de me sentir ligeiramente culpada por o estar a magoar, não podia omitir aquilo que sentia. Luke sempre fora uma grande incógnita para mim e, tudo aquilo que eu queria fazer, era ajudar. Ele tinha de o saber.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora