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PARTE II

25 de agosto 

            – Boa noite, senhoras e senhores. Sejam muito bem-vindos ao Décimo Segundo Espetáculo Anual de Música, financiado pelas melhores Escolas e Universidades do País. – um homem grisalho, de microfone na mão, anunciou, como se fosse o apresentador de um programa de televisão. – Esta noite, seis das melhores Academias, Escolas, Conservatórios e Colégios estão aqui para mostrar o seu talento e tudo aquilo que aprenderam ao longo dos últimos semestres. Esta noite, caros convidados, os alunos aqui representados podem ter a oportunidade de levar uma bolsa de mérito para casa. Um prémio monetário que lhes permitirá prosseguir estudos nesta área. Sem mais demoras, apresento-lhes os integrantes do espetáculo de hoje!

            Um a um, os grupos foram entrando, com Michael, Aaron e Luke na quarta posição. O homem abriu o braço esquerdo e fez sinal aos jovens para avançarem na sua direção, para depois dizer o nome da escola de onde vinham, a região, e os nomes de cada integrante. Depois, o público aplaudia e esses jovens faziam uma vénia, saindo pela outra extremidade do palco.

            – Conservatório Nacional de Perth. Lenna Collins, Edward Reves, Priscilla Dunno e Connie Lenders. Sejam bem-vindos. – o homem apresentou. Aplaudi, Ashton aplaudiu, todos aplaudiram. Os quatro jovens fizeram uma vénia. O homem voltou a chamar um grupo, desta vez o nosso. – Academia de Música de Sydney. Michael Clifford, Aaron Markey e Luke Hemmings. Boa sorte, rapazes. – do sítio de onde estava sentada, conseguia ver os seus rostos quase na perfeição. Michael sorria de orelha a orelha, acenando às pessoas que conhecia, e Aaron parecia uma estátua, mais sério do que seria de esperar. Luke, porém, foi quem eu mais observei, na verdade, mal conseguia descolar os meus olhos dele, como se a qualquer momento ele pudesse desmaiar e eu tivesse de estar preparada para correr na direção do palco e ir ampará-lo. Ele também sorria, apesar de estar obviamente nervoso, provavelmente em pânico. A sua pele, em contacto com aquelas luzes fortes, parecia mais pálida e os seus olhos mais brilhantes. Os seus braços nunca pararam quietos, como se ele tivesse necessidade de se estar sempre a mexer para que não se esquecesse que estava ali e precisava de se controlar. Ele foi muito cuidadoso em não tocar em nada nem ninguém, ao contrário de todos os outros, que trocavam abraços e apertos de mãos com o apresentador, com os outros concorrentes e até mesmo com o júri. Luke não fez nada disso. Provavelmente já todos tinham conhecimento da sua fobia, e provavelmente ele deveria estar fortemente medicado, pois não me parecia que estar diante de um público de milhares e milhares de pessoas fosse tarefa fácil na sua condição. Ele foi rápido a sair do palco, passando despercebido pela maior parte da audiência, mas ainda assim, deixando a sua marca. Queria muito abraçá-lo e dizer-lhe que estava lá a torcer para que tudo corresse bem, mas nunca tive oportunidade de o fazer, pelo menos não antes do espetáculo começar.

            As coisas decorreriam da seguinte forma: cada um dos grupos tocava uma primeira música, composta totalmente pelos integrantes de cada um deles, e a seguir, depois de se ouvir a primeira ronda, os júris decidiam quem tinha sido o melhor, avaliando um conjunto de fatores, como a letra, a melodia, a voz, os instrumentos, a técnica e a aderência do público, e então escolhia três dos seis grupos para passar à seguinte fase, que se realizaria depois de um intervalo. Nessa fase, os três grupos escolhidos, teriam a oportunidade de tocar mais uma vez, podendo optar por um solo instrumental, recorrendo à prática clássica lecionada pelos professores, ou outra música, que seria avaliada da mesma forma que antes. Depois disso, os vencedores seriam anunciados.

            Começámos por ouvir a Escola Artística de Melbourne, um grupo de três raparigas que mais pareciam trigémeas. Elas cantaram em coro uma canção melancólica e que me trouxe recordações do tempo em que Luke e eu ainda nos dávamos bem. Dei por mim de lágrimas nos olhos, arrepiada e emocionada, totalmente absorta do que me rodeava. Por fim, só desejava que chegasse a vez de Luke para poder voltar a ouvir a sua voz, mas aquilo ainda agora tinha começado, e ainda havia muito por ouvir.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora