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22 de junho 

            O tempo parecia ter estagnado, tornando-se mais frio e vagaroso com a chegada do inverno. Na escola começáramos de novo a ronda dos testes, que nos ocupavam a maior do tempo e distraíam da monotonia que aí vinha. Era sempre assim durante esta altura do ano, mas eu gostava. Gostava da calma com que podíamos agir e gostava sobretudo de como as pessoas se aproximavam mais umas das outras, talvez pelo frio ou pela vontade de não se sentirem sozinhas. E, embora eu não estivesse muito confiante quanto às minhas notas, pois no meio de todo o drama dos últimos meses acabara a descurar os meus estudos, cuja matemática veio a ser prejudicada devido à falta de explicações, eu sentia que podia ir de cabeça limpa. O primeiro teste foi de inglês, e o próximo seria exatamente o de matemática. Luke tinha-me assegurado de que iríamos recuperar todo o tempo perdido e balançar o tempo em que estávamos juntos para estudar e para desfrutar da companhia um do outro. Nenhum de nós teve a necessidade de definir a relação que levávamos, mas eu podia afirmar ser o mais parecida à de namorados, e eu gostava da sensação. Gostava da sensação de o poder beijar todas as manhãs, quando o via; gostava da sensação de poder contar com ele para tudo o que precisava; gostava da sensação de me envolver nos seus braços, enquanto ele treinava a voz para os ensaios; e gostava especialmente da sensação de o ter finalmente para mim, de corpo e alma.

            Foi exatamente numa dessas manhãs, em que o beijava com paixão e ele me apertava gentilmente a cintura, que Lillian apareceu a correr na nossa direção, completamente desgovernada e com lágrimas a caírem-lhe dos olhos castanhos.

            – Li! – gritei o seu nome, desprendendo-me de Luke, que entretanto também lhe tinha prestado atenção. – O que é que aconteceu?

            A rapariga parecia em pânico, mas assim que viu o rosto pálido de Luke fitá-la com preocupação, pareceu hesitar, mantendo-se calada e muito nervosa. Eu aproximei-me, amaciando-lhe o cabelo encaracolado.

            – Podes dizer...

            – Foi ele. – a sua voz quebrou, deixando-me igualmente apavorada. Eu sabia que Lillian só poderia estar a referir-se a duas pessoas, ou Michael ou Ashton, e o meu coração quebrou com a hipótese de Ashton ter voltado a entrar na minha vida, quando neste momento ela estava preenchida por Luke. Abanei a cabeça.

            – Ele? Lillian... ele quem?

            – Tu tens de falar com ele! – a rapariga ignorou a minha pergunta, expondo bem alto a sua frustração. Ela desviou de novo o olhar para Luke, que nos olhava a ambas de forma confusa e assustada. Queria pedir-lhe para nos deixar sozinhas mas não conseguia encará-lo nos olhos e dar-lhe razões para não confiar em mim. Ele não era parvo e com certeza iria perceber se Ashton estivesse metido ao barulho. Apenas não queria dar-lhe outro desgosto.

            – Lillian... eu não estou a perceber nada. – falei calmamente, agarrando-lhe nas mãos para a fazer parar de tremer. – Respira fundo e diz-me o que aconteceu. Eu não te posso ajudar se não o fizeres.

            – O... O Ash... ele...

            – Ele o quê? – esbugalhei os olhos, com o meu coração a bater a mil à hora. – Lillian, diz de uma vez.

            – Ele... ele saiu de casa esta manhã à pressa... e... e ligou-me agora... – Lillian não conseguia falar sem soluçar pelo meio, entristecida pelas lágrimas que lhe perturbavam a visão. Eu queria muito ajudá-la a controlar a dor e, sobretudo, abraçá-la e dizer-lhe que não havia motivo para tanto drama, mesmo que eu ainda não soubesse aquilo que ela tinha na ponta da língua para me dizer. Quando respirou fundo, eu sorri-lhe como motivação, continuando a fitá-la muito cautelosamente. – Ele ligou-me a dizer que se queria despedir. Disse que estava no seu sítio preferido e que ia ter com o Will... pediu para eu não ficar preocupada... ELE VAI-SE MATAR, SOPHIE!

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora