Naive ಌ l.h

0.52

9 de julho

            As férias haviam começado dois dias antes do aniversário de Ashton, o que se tornava para mim uma vantagem, já que eu me sentia apavorada com a ideia de me cruzar com Luke todos os dias, sobretudo agora, depois de o ter magoado e de ter assumido uma relação com Ashton. Ainda me preocupava o facto de ele poder pensar nestes avanços como uma traição, pois o curto espaço de tempo entre os acontecimentos poderia levar a crer que eu mal queria saber dos seus sentimentos, mas eu queria, mesmo contra tudo aquilo que todos pudessem pensar.

            Penso que cheguei a casa por volta das três da manhã, naquela quinta-feira. Ashton trouxe-me no seu carro, depois de me ter convencido a ir com ele e com os seus amigos a um bar da zona. Michael e Lillian foram embora mais cedo, logo após o jantar, mas ainda assim Ashton não me deixou ir com eles, alegando querer tornar aquela noite memorável para ambos. Não posso dizer que tenha sido espetacular, até porque não foi. A maioria dos seus amigos eram mais velhos que eu, e por isso pareciam ter uma mentalidade diferente, além de uma experiencia acrescida. Eu encontrei-me tão fora da minha zona de conforto. Além disso, eles pareciam não gostar lá muito de mim, provavelmente influenciados pela descrição que Aaron fez. Eu não ficava admirada, mas ainda assim não pude evitar sentir-me a mais, apesar de Ashton tentar fazer de tudo para me ver feliz. Ele passou grande parte da noite a abraçar-me, a beijar-me, a elogiar-me e a tratar-me como se eu merecesse todo aquele amor. Depois, quando decidimos vir embora, ele trouxe-me até casa e acompanhou-me até à porta, tal como fazem nos filmes, despedindo-se com um beijo intenso. Havia passado um dia desde essa noite. Um dia inteiro sem novidades suas. Um dia inteiro passado a refletir acerca de tudo. Um dia inteiro em que eu me questionei se estar com Ashton era o mais indicado a fazer, apesar de no fundo eu sentir a cem porcento que sim, mesmo que Luke ainda fizesse muita diferença na minha vida.

            Passava pouco da meia-noite quando ouvi estalidos vindos das janelas, o que me deixou alerta. Eu ainda não dormia, estando ao invés concentrada a ler um romance baseado na guerra civil americana. Levantei-me da cama, pousando o livro nesse mesmo lugar, e caminhei muito calmamente até à cortina, desviando-a para inspecionar o que se passava. Quando olhei para baixo, reconheci o corpo de Ashton, que parecia envolto na mais escura penumbra. As árvores à sua volta faziam sombra em torno das suas roupas escuras, que absorviam toda a luz da lua e dos candeeiros, deixando apenas duas esferas brilhantes, os seus olhos, bem salientes. Ainda assim, vi um sorriso cobrir-lhe a face.

            – Ashton! – franzi o sobrolho, apressando-me a abrir a janela. Não podia falar muito alto, por isso sussurrava violentamente, para não correr o risco de acordar os meus pais. Se isso acontecesse, de certeza que tanto eu como Ashton acabaríamos metidos em problemas. – Estás doido!? O que é que estás aqui a fazer?

            – Olá. Não conseguia dormir. – ele respondeu baixinho, com a cabeça muito inclinada para trás de modo a poder olhar-me nos olhos. – Quero estar contigo!

            – O quê? É impossível, Ashton! Os meus pais estão cá e nem penses sequer em escalar essa parede!

             – Então vem cá tu! – ele riu-se, erguendo os braços como se me fosse apanhar. – Desce!

             – Meu Deus... – resmunguei, virando-lhe costas para me preparar. Despi o pijama e vesti umas calças largas e uma camisola de lã, de modo a que o tempo invernoso não me congelasse. Abri a porta muito lentamente e corri pelo corredor, descendendo depois as escadas o mais silenciosamente possível, sempre com as mãos apoiadas ao corrimão para não correr o risco de me desequilibrar e cair. Assim que cheguei à porta, parei um momento para ver se os meus pais davam sinal de desconfiança, mas como não ouvi nada, rodei a maçaneta e transpus a entrada, fechando a porta atrás de mim. Ashton apareceu-me logo à frente, com um sorriso rasgado e os braços abertos para me receber.