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25 de fevereiro

           Naquela tarde depois das aulas tentei ser a primeira a abandonar a sala, algo incomum na minha rotina. Os meus pertences estavam devidamente arrumados e eu estava pronta para sair, ansiosa para confrontar Michael. Desde o dia anterior que não conseguira parar de pensar na revelação que Luke fez, dizendo-me que o meu melhor amigo havia ido falar com ele. Isso não me saía da cabeça especialmente porque Michael nunca fora o tipo de pessoa de contar aos outros problemas que não lhe dizem respeito e, muito sinceramente, queria saber a razão para ele ter feito isso comigo. No decorrer da tarde de ontem, em casa de Luke, o loiro aconselhara-me a não me zangar com Michael, até porque ele só desejava o meu bem, mas, contudo, eu precisava de repreender o moreno.

           Quando o toque de saída chegou até aos meus ouvidos, levantei-me rapidamente da cadeira, passando apressadamente por Luke, que me lançou um olhar confuso. Nós os dois éramos sempre os últimos a sair da sala, e, ver-me caminhar a uma velocidade tão acelerada, devia dar aso a questões curiosas. No entanto, despedi-me do loiro com um único sorriso e adentrei pelo corredor invadido de jovens. Ainda não conseguia acreditar na sorte que o rapaz tinha por conseguir arranjar alturas para caminhar livremente pela escola. A meu ver, havia sempre pessoas por todo o lado, mas Luke lá tinha as suas estratégias.

           Como previra no dia passado, as nuvens decidiram descarregar o vapor de água acumulado e hoje chovia torrencialmente, avisando-nos de que o outono não tardaria a chegar. Tapei a cabeça com o capuz do casaco e tentei proteger os meus livros, que permaneciam presos contra o meu peito. Como habitual, Michael estava encostado às grades que separavam a rua urbana do liceu, com Lillian nos seus braços.

          – Olá pombinhos. – cumprimentei sarcasticamente, fazendo com que Michael levantasse as sobrancelhas. A intenção foi mesmo mostrar-lhe que algo não estava bem e, quanto mais cedo ele compreendesse isso, melhor. – Deviam sair da chuva ou ainda se constipam.

          – Gosto de chuva. – Lillian afirmou, num tom vago.

          – Suponho que já saibas. – Michael sorriu, aconchegando Lillian nos seus braços. Os seus cabelos estavam encharcados pela água, apesar de cobertos pelo casaco de ganga do meu melhor amigo. – Estás zangada comigo, não estás?

           – O que é que achas? – elevei o meu tom, enraivecida pela traição de Mike. As pontas dos meus cabelos foram apanhadas pela chuva e algumas gotas foram salpicadas para os braços do rapaz. Ele revirou os olhos.

           – Sophie, o Michael só quis ajudar. – Lillian meteu-se na conversa, tentando defender o seu namorado.

           – Pois, mas eu não preciso que ele lhe vá contar as minhas coisas privadas.

           – Olha, desculpa. – Michael respirou fundo. – Eu sei que não devia ter dito nada acerca daquilo que aconteceu mas... Sophie, tu estavas num estado miserável! Eu tive de fazer alguma coisa.

           – Eu sempre confiei em ti. – murmurei, baixando o rosto. Senti a mão gelada de Lillian tocar no meu braço. Quando a encarei, vi um sorriso doce nos seus lábios.

           – Tenho a certeza que foi melhor assim. – a rapariga proferiu, tentando acalmar-me. – O Luke precisava de saber.

           – Sim Sophie. Como poderia ele ajudar-te sem saber o que te atormenta? – Michael acrescentou. Olhei para ambos, rendida às palavras dos dois.

Naive ಌ l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora