2 de maio
Corri os meus olhos pelo corredor movimentado e soltei um profundo suspiro de alívio ao avistar Michael, junto do seu cacifo. O rapaz trazia nas mãos alguns papéis soltos e um estojo negro, carregando no rosto uma careta tensa e algumas rugas de expressão, enquanto tentava organizar o seu espaço pessoal. Caminhei vagarosamente até ele e sorri-lhe assim que este virou o rosto e me encarou. Ele puxou o cabelo para longe dos olhos e retribuiu o sorriso, permanecendo com a língua entre os dentes, parecendo realmente concentrado na tarefa que tinha à sua frente. Inclinei-me, tentando observar o que tanto o apoquentava, porém, mesmo antes de o conseguir fazer, o moreno lançou as folhas e o estojo para dentro do cacifo e fechou a porta de metal com força, esfregando as suas mãos suadas às calças que trazia vestidas.
– Bom dia, Sophie. – ele cumprimentou por fim, pegando na mochila jazida aos seus pés e colocando-a ao ombro. Olhei para ele, tentando ler-lhe a expressão facial.
– Pareces cansado. – comentei, acompanhando-o até ao bar. Ele bufou, lançando-me um olhar expectante.
– Os ensaios andam a dar comigo em doido. – respondeu, trazendo na voz um tom amargo e fadigado. – O Aaron quer sempre as coisas à maneira dele e, nem eu, nem o Luke, conseguimos lidar com isso. É impossível chegar a um consenso. Passámos as férias todas a ensaiar e ainda nem sequer sabemos qual será a nossa música definitiva.
– Não podem expulsar o Aaron? – franzi a sobrancelha, tentando arranjar uma solução ao problema do meu melhor amigo. – Quer dizer, se ele está em minoria e vocês não o suportam então talvez seja o melhor.
– Os grupos já estão definidos há muito tempo, Sophie. Excluir um membro seria partir para a desqualificação.
– Vai tudo correr bem. – tentei animá-lo, esfregando-lhe o braço. – Talvez com um pouco de calma consigam arranjar uma forma de trabalhar em equipa.
– Sim, veremos... – Michael suspirou, sentando-se numa das mesas livres do bar. Acabei por fazer o mesmo, pousando a minha mala e os meus livros em cima da cadeira livre jazente ao nosso lado. Michael encarou-me com um sorriso depois de breves segundos, e eu franzi as sobrancelhas, sabendo que o seu bom humor superava com facilidade as adversidades que lhe apareciam pela frente. – Mas bem, conta lá que história foi essa do gato? Tiveste sorte de a minha mãe gostar dele, senão por este andar já o animal estaria num gatil.
Depois de termos alimentado o pequeno gatinho abandonado que eu e Ashton encontrámos, Lillian ligou a Michael e pediu-lhe que albergasse o animal. Michael não se importou de ficar com ele, e foi portanto buscá-lo naquela tarde, no entanto, e devido a um compromisso que o moreno tinha, não chegou a entender o porquê de ter de ser ele a ficar com o bicho nem como havíamos dado com ele abandonado no meio da rua. Eu prometera explicar-lhe tudo hoje, no primeiro dia de aulas do segundo semestre, no entanto, agora que começava a retroceder no tempo e a relembrar os momentos com Ashton, percebia que conversar acerca deste assunto com Michael levaria a uma interminável conversa acerca daquilo que se desenvolveu entre mim e o rapaz de cabelos ondulados.
– Estou à espera. – Michael insistiu, rindo-se divertidamente.
– Eu e o Ashton fomos tomar café ontem. – suspirei, baixando o rosto de forma envergonhada. – Sim, eu sei no que estás a pensar. Como pude eu ser tão insensível para com o Luke... como pude eu deixar um rapaz desconhecido aproximar-se tão facilmente de mim...como pude eu ser tão egoísta.
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Naive ಌ l.h
FanfictionSophie considera-se capaz de ajudar um rapaz intocável, porém, ela é ingénua e sofrerá as consequências das suas escolhas. Copyright © 2015, All Rights Reserved // tulipxs (16/06/2015)