"MARCOS QUERIA UM MONSTRO e conseguiu te tornar um."A frase de Vincenzo repetia no meu subconsciente sem pausa, como se estivesse acionado o botão repeat.
Depois de deixar o pequeno Filipe na frente do mercado para encontrar sua mãe, perambulei pelas redondezas do cemitério e cogitei voltar até a lápide de Violeta e continuar chorando baixinho, mas ela não merece ter que lidar com as merdas da minha vida mesmo depois de morta.
Ouço uma buzina distante e percebo que estou atravessando uma avenida movimentada.
Meu celular vibra no bolso esquerdo da minha calça preta e deixo cair na caixa postal, me recusando ouvir que é para eu me acalmar e voltar para casa.
— Rapaz, você está bem? — Um senhor segura no meu pulso e me puxa, fazendo com que eu desvie de um carro que vinha em minha direção.
— Estou. — Ele olha sério para o meu rosto com seus olhos cor âmbar, demonstrando que não acreditou nem um pouco no que eu disse.
— Não quer que eu peça um táxi para te levar para a casa? — O homem insiste com uma sobrancelha arqueada. — Perdoe a intromissão, mas não acho prudente deixar você aqui sozinho. O Rio de Janeiro está mais perigoso do que anos atrás.
— Não se iluda, amigo, o mundo nunca foi melhor que isso! — Sinto vontade de puxar meu braço do toque do homem, mas respiro fundo e olho para a fachada do bar que está logo atrás de nós. — Estou indo encontrar um amigo no Bar Bukowski.
Me despeço brevemente do senhor e entro no bar atraindo atenção de algumas pessoas que parecem estar se divertindo.
Sento em uma mesa próxima à porta e mais uma vez a cena de Vincenzo vociferando suas palavras como adagas afiadas em minha direção volta a me perturbar, respiro fundo tentando controlar o impulso de surtar. Estou com ódio. Ódio de tudo que ele disse, porque eu sei que é verdade.
— O que o jarro fez à você, senhor? — Uma garçonete ruiva pergunta simpática e só então percebo que estou apertando a decoração da mesa. — Bom, olá! Meu nome é Mara. Já escolheu o que vai pedir?
— Vocês servem Arran Machrie Moor Peated Cask Strength aqui? — Sou direto na minha escolha e evito o contato visual.
— Uau que específico! Sim, você vai querer uma dose? — Ela mexe no tablet que está em suas mãos.
— Não, a garrafa, por favor! — Massageio minhas têmporas e sinto meu celular vibrar novamente no bolso.
— Custa quinhentos e cinquenta reais. — Mara responde meio duvidosa, respiro fundo e permaneço em silêncio, mas dessa vez olho para seu rosto já perdendo a paciência. — Ok, tendo em vista que você está com uma jaqueta da Prada, esse valor não representa nada. Vai querer algum petisco? Nossa especialidade é camarão ao alho e óleo, você não vai se arrepender de provar.
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ALMA REVEL - FR
FanfictionDuas famílias e uma briga antiga. Em meio ao caos da melancolia e dos segredos, duas pessoas que sentem uma chama acendendo pouco a pouco. Mas nem todos os desejos da vida podem ser realizados. O que eles fariam se esse amor fosse impossível de vive...