Leo

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Tudo parecia tão distante para mim.
Minha vida.
Meu trabalho.
Meus pensamentos...
Todos direcionados em apenas uma coisa: matar meu próprio pai.

Mesmo com as forças que haviam sido me dadas, eu estava fraca. Impotente. Impossibilitada de fazer qualquer coisa no momento.
Meu melhor amigo havia sido morto na minha frente e o que eu havia feito? Nada, como sempre.

Meu coração havia se tornado pesado; a dor, a angústia e a tristeza tinham tomado conta, me mostrando que era apenas isso que eu poderia carregar em minha vida.

Será que em algum momento, meu pai se sentiu dessa forma? Será que ele perdeu um companheiro que amava como irmão? Qual a proporção que esse buraco que a dor deixava, poderia tomar?

Tudo havia se tornado nebuloso e ainda mais difícil de digerir.

***

Dois dias após todos esses acontecimentos, eu estava em Borehamwood, na casa dos meus tios, tentando descansar.
O relógio marcava três da tarde, e o velório de Joseph ia começar às cinco, na cidade onde ele havia nascido, Bedfordshire.

Depois de me olhar no espelho, vi o quanto estava diferente desde que tudo isso começou: meu cabelo já estava quase na altura dos ombros e meu rosto parecia muito mais cansado. Meu corpo, pedia por uma semana inteira na cama para poder descansar.

Coloquei um tênis preto, com uma calça e uma camiseta também da mesma cor.
Deixei o colar e o pingente que Joseph havia me dado, por cima da roupa, em evidência.

Preto sempre foi minha cor favorita, mas agora me sinto... macabra, terrível.

Desci os degraus e meus tios me viram, claramente tentando mandar algum tipo de energia positiva para mim.

-Como você está, Leo? -minha tia se aproximou, claramente preocupada.

Percebi que apenas com a sua pergunta, as lágrimas tentaram se formar em meus olhos, mas respirei fundo, tentando me acalmar.

-Me sinto... Triste. Vazia. -desviei o olhar-. A última vez que fui a um velório foi quando meus pais faleceram. Eu havia me esquecido dessa sensação...

Meu tio Noah veio até mim e pegou em minha mão, apertando gentilmente.

-Leo, quando eu era um soldado, eu também perdi um amigo. O nome dele era Charlie... Eu lembro desse dia como se fosse ontem.

O olhar de meu tio parecia pesaroso e triste. Por mais que tenha sido há anos atrás, essa ferida jamais iria se fechar.

-Eu olhava para todos os lados...-ele continuou-. Mas ele não estava no meu casamento. A morte é algo muito mais estranho do que nós pensamos.

Me sentei ao seu lado e franzi as sobrancelhas, refletindo.

-Eu ainda sinto que ele está vivo. -olhei para meu tio e então para minha tia-. Eu sinto que quando eu chegar na base para trabalhar, ele vai estar lá, pronto para fazer alguma piada ou me fazer algum desafio idiota. Ele...-gaguejei-. Ele morreu com um tiro na cabeça, tio...

-Não lembre-se disso, Leo. -minha tia imediatamente me abraçou.

-São fases, Leo. -meu tio me olhou-. Como você se sente em relação aos seus pais, hoje?

Falar sobre meus pais gera uma certa dor ainda, mas, penso que é de forma bem mais natural.

-Sinto que eles se foram. -fechei meus olhos por um segundo-. Mas que não são fantasmas para mim.

-É exatamente isso, Leo. -minha tia sorriu-. Não deixe seu amigo viver na sua cabeça... Deixe-o viver aqui.

Ela então apontou para o meu coração e me fez soltar um sorriso.

Don't Let Me Down.Onde histórias criam vida. Descubra agora